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A difícil arte do desapego
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Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.

Gal Kury opinião

A difícil arte do desapego

A reflexão que fica é: precisamos de tudo isso para viver? As memórias estão no coração e na mente, não necessariamente nos objetos. Uma casa com história é agradável, mas isso não significa viver entre excessos

Mudar de casa pode ser um verdadeiro choque de realidade. Ao empacotar pertences, nos deparamos com o imenso acúmulo de objetos que colecionamos ao longo dos anos. Para aqueles com mais de 50 anos, essa situação se torna ainda mais evidente: livros, roupas, fotos, recordações de viagens, CDs, eletrodomésticos e uma infinidade de quinquilharias que carregam memórias, mas também peso.

Diante disso, surge a questão: o que realmente é essencial? O desapego é uma tarefa emocionalmente complexa e desafiadora. Entretanto, há quem já pratique essa filosofia de forma organizada e pragmática.

Os suecos têm um conceito peculiar para lidar com essa questão: o döstädning, que combina dö (morte) e städning (limpeza). A ideia é simples: organizar e se desfazer dos excessos antes de partir, evitando que familiares fiquem sobrecarregados com pertences sem utilidade.

A prática ganhou visibilidade graças à artista sueca Margareta Magnusson, que, com mais de 90 anos, escreveu o livro "O que deixamos para trás: A arte sueca do minimalismo e do desapego". Na obra, ela enfatiza que o döstädning não é apenas sobre organização, mas sobre aliviar a própria vida e a dos outros. "A ideia é não deixar um monte de lixo para trás quando você morrer. Lixo que outras pessoas vão ter que dar um fim", afirmou em entrevista à BBC News.

Esse conceito sueco dialoga diretamente com a sustentabilidade e o consumo consciente. Em uma sociedade onde somos constantemente incentivados a comprar mais, o desapego se torna um ato de resistência. Acumulamos objetos desnecessários, muitas vezes movidos pelo impulso do consumo ou pelo receio de nos desfazermos de algo que, um dia, "pode ser útil".

A reflexão que fica é: precisamos de tudo isso para viver? As memórias estão no coração e na mente, não necessariamente nos objetos. Uma casa com história é agradável, mas isso não significa viver entre excessos. O desapego não significa perder, mas sim ganhar leveza e liberdade. O que realmente importa não são as coisas que possuímos, mas as relações e os momentos que cultivamos ao longo da vida.

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