Logo O POVO+
Uma estrela não faz constelação
Foto de Gal Kury
clique para exibir bio do colunista

Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.

Gal Kury opinião

Uma estrela não faz constelação

Até quando vamos continuar jogando sozinhos, esperando que um salvador resolva aquilo que só o trabalho em equipe pode entregar? É preciso montar times
Tipo Opinião
Dorival Jr., técnico demitido da seleção brasileira (Foto: RAFAEL RIBEIRO/CBF)
Foto: RAFAEL RIBEIRO/CBF Dorival Jr., técnico demitido da seleção brasileira

Na semana passada, os torcedores brasileiros quase entraram em colapso com a derrota por 4x1 da Seleção Brasileira para a Argentina. Porém, o baile dos hermanos representa mais do que um desastre em campo — foi o reflexo de um modelo falido que insiste em colocar um nome acima de um sistema. E essa lógica não é exclusiva do futebol: ela está presente em muitas empresas, onde se aposta tudo em um "gênio", normalmente contratado a peso de ouro, enquanto o time apaga incêndios, tapa buracos e corre atrás do prejuízo.

A Seleção virou aquele projeto corporativo onde o craque recém-contratado chega cercado de expectativas, bajulado por todos, mas sem integração com o time, sem sintonia com a cultura e sem noção da engrenagem. A diretoria banca, o RH estampa no mural, mas o resultado nunca vem — porque talento isolado não substitui alinhamento, esforço coletivo e estrutura. E quando o fracasso chega, a culpa recai nos outros: nos funcionários médios, na "falta de brilho", como se o problema fosse a ausência de estrelas, e não o modelo de gestão.

Essa lógica míope — a de achar que um craque resolve tudo — é a mesma que derruba empresas inteiras. Equipes precisam de propósito, liderança real e processos. No futebol, assim como no mundo corporativo, o desempenho verdadeiro nasce da soma das partes, não da exaltação de uma só.

Esse modelo ignora o básico: empresas são sistemas, não palcos. Quando tudo gira em torno de uma estrela, o restante da equipe passa a operar como figurante. As ideias deixam de circular. O ambiente perde autonomia. E o time, desmotivado, trabalha mais por obrigação do que por engajamento.

O "craque corporativo" pode até entregar resultados rápidos no início, mas sem um time coeso por trás, o fôlego acaba. Os processos se tornam dependentes dele. A cultura da empresa se distorce. E quando essa estrela sai — porque sempre sai - o que fica é um vácuo.

Até quando vamos continuar jogando sozinhos, esperando que um salvador resolva aquilo que só o trabalho em equipe pode entregar? É preciso montar times. n

 

Foto do Gal Kury

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?