
Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.
Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.
No final de 2024, o mundo conheceu Jianwei Xun -- apresentado como um filósofo chinês radicado em Berlim, cujas ideias combinavam misticismo oriental, crítica à modernidade e provocações pós-humanistas. Seu pensamento rapidamente se espalhou pelas redes e pelos círculos acadêmicos, conquistando seguidores e levantando debates. Mas a revelação veio meses depois: Xun não nasceu -- foi construído.
Por trás de seu discurso sofisticado, havia um experimento. Xun era uma entidade híbrida, criada pela colaboração entre um filósofo italiano e modelos avançados de inteligência artificial. Uma criação que desafia as noções tradicionais de autoria, consciência e existência.
Na mesma época, em outro laboratório, outra fronteira era cruzada. Cientistas nos Estados Unidos anunciaram o nascimento de três filhotes de "lobo terrível", espécie extinta há milênios. Usaram fósseis e engenharia genética para recriar algo que já não pertencia ao mundo dos vivos. Chamaram os animais de Rômulo, Remo e Khaleesi.
Esses dois episódios, tão distintos em sua natureza, nos colocam diante do mesmo dilema: o que acontece quando ultrapassamos os limites do possível e adentramos o território do extraordinário? Não apenas o extraordinário enquanto espetáculo ou inovação, mas enquanto transgressão da ordem natural -- daquilo que nos é familiar, compreensível, ético.
Xun pensa como um filósofo, mas não possui corpo, nem memória vivida. Já os lobos uivam e correm, mas sua linhagem é produto de edição genética. Em ambos os casos, há uma inversão inquietante: aquilo que era impossível -- ou reservado à ficção - torna-se real.
Jean Baudrillard, em suas reflexões sobre a sociedade do hiper-real, alertava: o simulacro já não é mais uma cópia da realidade, mas uma nova forma de verdade - independente daquilo que um dia existiu. É nesse ponto que reside o risco maior: não nas criações em si, mas no fascínio incontestável por elas. Quando deixamos de questioná-las e passamos apenas a celebrá-las, perdemos o senso crítico -- e com ele, a bússola ética.
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