
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O protagonismo de Ciro Gomes na estrutura que está sendo montada para o projeto de reeleição do prefeito pedetista José Sarto, em Fortaleza, merece uma reflexão para entender melhor o seu sentido. Ou, falta dele. No desenho que há hoje, caberá a ele o papel de coordenador geral, dando voz e cara à campanha, decisão que não parece encontrar muito nexo quando se faz um esforço de compreensão mais agudo. Ainda mais tratando-se de um grupo político do qual faça parte o ex-prefeito Roberto Cláudio, nome aparentemente melhor habilitado, do ponto de vista da percepção da população/eleitor, para exercer uma tarefa de tanta visibilidade e consequência política.
E não precisa voltar tanto no tempo para entender que a escolha, se confirmada, parece discutível. Basta ver o que aconteceu logo ali, em 2022, quando uma parte da performance desastrosa da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República foi atribuída ao próprio comportamento dele, que em geral dificulta alianças e entendimentos, afasta possibilidades de apoio e é respondida pelas urnas da forma que o foi.
Para quem já esqueceu, lembro que o pedetista amargou, nos números nacionais, uma quarta posição humilhante, com apenas 3,05% dos votos. No recorte cearense, o quadro demonstra-se proporcionalmente ainda pior porque os 6,8% registrados ao final representaram, para se ter uma ideia, queda de 81% no resultado obtido quatro anos antes, apenas. Mais um fator de preocupação conjuntural é que o desempenho foi ruim também em Fortaleza, embora um pouco melhor, parando em 8,6% do total depois dos votos apurados, lembrando-se que o prefeito se envolveu de corpo e alma na campanha.
Ninguém falará isso de público, hoje, mas é comum ouvir nos bastidores do pedetismo sartista um certo incômodo com a força que Ciro Gomes caminha para assumir na campanha de reeleição, que se reconhece que será dura e terá adversários competitivos em pelo menos três outros blocos políticos. Portanto, a estratégia a ser montada vai exigir do articulador boa capacidade de diálogo e, como fator agregado, colar uma imagem positiva à do candidato, dois pontos sobre os quais há dúvidas em relação ao que Ciro poderá representar. Aliás, sendo mais preciso, quanto à parte da disposição para conversar com todos e alargar possibilidades de alianças sabe-se que hoje o ex-presidenciável seria o menos indicado dentre os que estivessem disponíveis para a estratégica missão.
Roberto Cláudio foi crucial para eleição de Sarto quatro anos trás, na prática quase que assumindo a agenda do então candidato quando ele precisou se afastar devido à Covid-19 que contraiu em plena campanha, e mantém um recall excelente como memória de sua aprovada gestão. Preside o PDT de Fortaleza, enfim, pareceria uma escolha mais justificada e eficiente para assumir a frente de apoio ao atual prefeito em seu esforço de reeleição. Diante do estilo Ciro, com seu discurso agressivo, a mistura permanente de interesses políticos próprios (inclusive a de praticar vingança) com as do candidato que tentará ajudar e a disposição dele de ocupar todos os espaços do seu entorno, RC está sendo lançado à sombra. Aparece pouco, fala menos do que deveria e é ouvido muito aquém de sua importância e da capacidade objetiva que tem de influir no voto do fortalezense.
Imagina-se, para o bem deles, que as decisões estejam sendo tomadas com base em informações de que disponham a partir de pesquisas internas, com resultados longe do alcance da maioria de nós, e que indiquem fundamentos para um caminho adotado que fere aquilo que a política visível permite induzir, de fora, que seria o movimento mais lógico.
Com seu candidato de preferência filiado oficialmente ao PSB - o atual chefe de gabinete David Duarte -, o prefeito de Sobral, Ivo Gomes, anuncia que vai bater o martelo para escolha definitiva do nome apenas em julho. Está decidido no grupo que caberá a ele conduzir o processo, lembrando-se que manter o poder na terra de origem é uma das prioridades dos Ferreira Gomes, tarefa que não será fácil diante da ameaça representada pela oposição forte dos deputados Oscar (estadual) e Moses (federal) Rodrigues, respectivamente pai e filho. É o que pesquisas internas seguem apontando, mesmo que a situação ainda seja de muita competividade para quem vier a representar a gestão na disputa.
A situação no PT do Ceará está exigindo um choque diante do acúmulo de situações mal resolvidas no esforço de montar uma estratégia eleitoral firme para 2024. Evitar um racha em Fortaleza parece a cada dia mais difícil, no Iguatu a coisa meio que saiu do controle, cresceu bastante a tendência de intervenção em Sobral para conter um movimento de apoio a uma candidatura própria, também há risco de crise interna quando for definida a situação no Crato em meio a briga de várias correntes, enfim, o projeto de sair das urnas como a sigla mais forte do Estado, em termos de prefeitos e vereadores eleitos, pode gerar um efeito interno contrário e não levar ao quadro de fortalecimento que os articuladores estão vendendo como objetivo alcançável.
O anúncio pelo governador Elmano de Freitas (PT) de que o presidente Lula vai estar no Ceará dia 5 próximo para eventos ligados à Transnordestina na região de Iguatu frustrou um pouco as expectativas dos caririenses. É que na sua mais recente passagem por lá o ministro Camilo Santana gerou um frisson ao informar que haveria um anúncio breve, possivelmente com o Lula presente, de uma grande obra no Cariri, com muita gente acreditando que isso se daria na primeira vinda do presidente petista à terra. Inclusive, a especulação, considerando ainda a área sob influência de Camilo no governo, é que deve ser o anúncio da construção do esperado Hospital Universitário, de grande porte e que funcionaria vinculado ao curso de Medicina da UFCA.
A coluna destacou outro dia que a articulação do governo Lula montou uma estratégia que previa uma forma diferente de se defender do "perigo" que representaria entregar a presidência da comissão de Educação da Câmara a um deputado com o perfil belicoso de Nikolas Ferreira (PL-MG), como decidiu-se fazer. A ideia era controlá-lo pelo plenário, constituindo uma maioria na composição do colegiado, e pode-se dizer que o modelo funcionou no primeiro teste real. Nikolas foi atropelado pelos governistas ao colocar em votação proposta do correligionário goiano Gustavo Gayer que previa voto de repúdio contra professor da educação básica de Santa Catarina que criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro em sala de aula. Com 20 votos contra e 13 a favor, a matéria foi rejeitada.
A Assembleia preocupou-se pouco, ao meu ver, com o episódio envolvendo o deputado estadual Renato Roseno (Psol), hostilizado por um popular dentro do plenário enquanto dava entrevista falando sobre o caso Marielle Franco, claro que lembrando os seis anos do bárbaro assassinato no Rio de Janeiro e comemorando os recentes avanços na investigação, agora a cargo da Polícia Federal. É perigoso deixar que razões menores minimizem um evento com tal gravidade, porque hoje a agressão parte de um militante da direita contra um político da esquerda, amanhã pode ser o contrário e, normalizando-se isso, depois aconteceria por qualquer motivo, nem necessariamente ideológico. O agressor verbal deve ser identificado para as providências cabíveis, quem permitiu (talvez inadvertidamente) que tivesse acesso ao espaço tão controlado do parlamento merece uma advertência e o que mais a situação exigir precisa ser feito. Não dá pra brincar com esse tipo de coisa.
Sem a mesma consciência e capacidade mobilizadora da animada turma que anda ocupando as ruas de cidades brasileiras lutando pelo direito de não ter direito, sou uma "vítima" acomodada dos ditames legais das regras trabalhistas em vigência. Por isso, a partir de amanhã entro no estágio do ócio e, livre de compromissos profissionais, terei 30 dias para refletir sobre a situação. Caso interesse ao leitor e à leitora, falo de minhas conclusões na volta. Até lá.
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