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A política na Argentina e o futuro dos golpistas
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A política na Argentina e o futuro dos golpistas

O governo de Javier Milei obteve uma vitória importante na noite de quarta-feira ao aprovar a Lei de Bases no Senado. Porém, há nuances no que aconteceu que mostram prática política velha e uma repressão policial contra manifestantes que há muito não se via
LEGISLADORES votaram as polêmicas reformas ultraliberais de Milei (Foto: Juan Mabromata/AFP)
Foto: Juan Mabromata/AFP LEGISLADORES votaram as polêmicas reformas ultraliberais de Milei

Vou recomendar ao leitor que busque um pouco mais de informações sobre o que aconteceu na noite da última quarta-feira na Argentina, com uma vitória incontestável do presidente Javier Milei, e seu governo, ao aprovar um pacote legislativo amplo e simplificado pela denominação de Lei de Bases. A operação de compra de votos que cercou a história faria corar o mais desavergonhado político brasileiro, dentre estes que conhecemos pela capacidade de colocar suas convicções a serviço do próprio interesse, no sentido mesmo pessoal do termo.

Peguemos o caso que considero mais exemplar, embora não único, da senadora Lucila Crexell. Sua postura clara desde quando o debate sobre a iniciativa do governo se tornou pública, lá atrás, era de forte oposição e muitas críticas em geral à postura de Milei. Pois ela votou a favor, agora, depois de aceitar a indicação do seu nome para o cargo de embaixadora da Argentina na Unesco. Ou seja, vai morar em Paris e não desfrutará de tudo de bom que proporcionarão à vida cotidiana dos seus conterrâneos as medidas que ajudou a aprovar. A votação na verdade terminou empatada, 36 votos a favor e outros 36 contra, cabendo à presidente da Casa, que é também vice-presidente de Milei, Vitória Villarruel, decidir o impasse. Claro que ela o fez em favor do governo que, na prática, integra.

Deu-se um desavergonhado tomá-lá-dá-cá argentino que deixa no chinelo os episódios semelhantes que a política brasileira proporciona nos momentos decisivos de votação no parlamento nacional. Nos nossos padrões, já nem tão rigorosos, a simples liberação de emendas em tempos próximos à análise de matérias importantes por senadores e deputados basta para colocar em dúvida a intenção real de um voto eventualmente de interesse do governo. Essa fase da troca direta e explícita por um cargo, aparentemente, parece que conseguimos superar.

Há muitos outros pontos dos acontecimentos na noite histórica argentina que exigem uma certa cautela de quem queira, a partir deles, renovar seu entusiasmo com as ideias libertárias do nosso vizinho presidente. Primeiro, porque os senadores amenizaram bastante o rigoroso e amplo texto original na sequência das votações, ponto a ponto, e também, prestemos atenção maior nisso, a ideia de defender o Congresso de uma tentativa de invadi-lo por um grupo de manifestantes contrários à Lei de Bases colocou em operação uma ação repressiva de altíssima intensidade.

Na última contagem, falava-se em 22 pessoas ainda presas, além da distribuição farta de gás de pimenta e de porretadas nas proximidades de onde a votação acontecia, que deixou como saldo uma quantidade boa de gente internada, dentre elas, pasmem, alguns deputados. O governo justifica a atuação firme e até excessiva das forças policiais sob seu comando argumentando, veja só amigo leitor, que se estava enfrentando uma tentativa de "golpe de Estado".

Daqui a pouco, esperemos, o governo da Argentina terá diante dele solicitações de autoridades brasileiras para que extradite de seu território um grupo de foragidos que, em 8 de janeiro de 2023, participou de ataques violentos às sedes dos poderes da nossa República em Brasília reivindicando, neste caso sim, e explicitamente, a queda do governo constituído e, àquele momento, empossado uma semana antes. Será um teste interessante, esperemos.

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