
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Ciro Gomes deu longa entrevista ao portal Uol na qual girou sua metralhada verbal, mais uma vez, esforçando-se para fundamentar sua ideia de que há equivalência no mal que representam Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva para o ambiente político brasileiro. A história dos extremos e tal.
Vou focar num ponto do que falou que ainda me chama alguma atenção pelo que apresenta de grosseiramente contrariável pela realidade, por aquilo que a gente vê diante de nós de maneira cristalina: segundo sua tese, o egoísmo de Lula é o maior responsável pela polarização que considera paralisar o País atualmente e o problema somente será resolvido quando ele se dispuser a sair do jogo.
A história captada pelo seu sentido real indicaria o petista apenas desistindo da política como gesto de limpeza do ambiente para oferecê-lo a lideranças novas, talvez o próprio Ciro Gomes sendo uma delas. Sobe o pano e voltamos às eleições de 2018, na qual tínhamos o pedetista cearense como candidato à presidência, falando o tempo todo, circulando pelo Brasil, vendendo-se como alternativa a partir de um discurso que se reconhece forte, bem concatenado, cheio de propostas etc, enquanto Lula permanecia recolhido a uma prisão. Literalmente falando.
Mais do que isso, a justiça cuidou de silenciá-lo proibindo, à época, que seu nome fosse sequer citado pelo PT, sua imagem não poderia aparecer em qualquer material de campanha eleitoral de um correligionário, incluindo aquele escolhido para disputa presidencial, Fernando Haddad, que terminaria, mesmo assim, muito à frente de Ciro depois de contados os votos do primeiro turno.
Cabe a pergunta, então: por que os adversários de Lula que frequentam seu mesmo campo político não conseguiram preencher o vácuo objetivo que se criou com o cancelamento ao qual esteve exposto durante boa parte dos quase dois anos recolhido à cadeia? Uma pergunta inquietante à qual Ciro Gomes deve uma resposta mais convincente e que talvez, quando (e se) conseguir apresentar, efetivamente ajude na virada de página que indica como necessidade básica hoje para o Brasil mudar de patamar.
São erros de dimensão igual, por razões diferentes e inversas. Aliados e simpatizantes correm a transformar os números das pesquisas dos últimos dias que apontam uma recuperação na aprovação do governo e do presidente Lula em indicação definitiva de que ele será imbatível na eleição de 2026. Disputa que, como o número informa, acontecerá apenas daqui a dois anos e meio. Uma eternidade política. Equívoco igual àquele dos adversários e inimigos (na circunstância atual é sempre necessário utilizar este último adjetivo para várias situações) que transformam qualquer oscilação para baixo nos índices pesquisados em decretação de fim do governo.
É uma figura recorrente, mas parece sempre necessário ressaltar qual a serventia real de uma pesquisa: orientar uma gestão, no caso, para captar o que a opinião aprova, e o que desaprova, do que está sendo feito ou do estilo pessoal de quem governa. No português mais compreensível o tal "retrato de um momento", que é mais útil no aspecto em que ajuda a pensar e planejar o momento seguinte. Acalmem-se todos, portanto, e deixemos que o tempo avance no seu ritmo certo e na hora adequada as coisas aconteçam. Por enquanto, o que temos são números, somente, de uma realidade plenamente alterável.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.