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Há sinais de uma campanha de baixo nível
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Há sinais de uma campanha de baixo nível

Coordenadores de campanhas prometem civilidade nas eleições em Fortaleza, porém o cenário visto até agora leva a crer que teremos um processo dos mais violentos e agressivos na disputa pela Prefeitura de Fortaleza
Tipo Análise
0408gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 0408gualter

Quero começar a história pelo que eu acho, a minha expectativa pessoal. O que já foi possível ver na pré-campanha, os recados cruzados, discursos excessivamente agressivos, alguns tons de voz mais altos do que seria aceitável etc, permite imaginar que as próximas semanas e meses serão dominadas pelo ódio na política tendo como pano de fundo a disputa pelo poder. Isso tudo, ainda sem que tenhamos chegado àquela fase mais tensa, quando o debate de fato toma as ruas e os nervos, até por razões justificáveis em dadas situações, perdem o controle próprio.

Tudo parece apontar nesse sentido e claro que a entrada em cena de alguns atores, em especial, fazem a temperatura subir um pouco mais. Exemplo mais notório é o pedetista Ciro Gomes, que tem sido econômico em expressar as razões positivas que o levam a apoiar o candidato que gostaria de ver eleito em Fortaleza. No caso, reeleito, já que defende a permanência no cargo do atual prefeito, José Sarto, correligionário seu do PDT. Porém, a preocupação principal que demonstrou até o momento foi de atacar os adversários, com especial ênfase para os ex-aliados do PT, colocando em destaque negativo especial a figura do ministro e senador licenciado Camilo Santana. Ataques baixos e ofensivos, boa parte deles.

Os dois parágrafos acima expressam o meu pensamento, que é de alguém pessimista com o que está por vir nesse aspecto. A partir daqui, quero discutir o tema com gente ligada às candidaturas e que assume responsabilidades em nome delas. Caso do coordenador da campanha de Sarto, Renato Lima, que garante que terá total prioridade a apresentação de propostas. "O prefeito Sarto vai mostrar os resultados de sua gestão, a mudança que já está em curso e reafirmar o compromisso de aprofundar essas transformações e avançar", disse ele, meio que ignorando o comportamento de aliados como Ciro. Este é o exemplo mais gritante e merecedor de citação como referência, diga-se, mas anda longe de ser o único.

O deputado federal Danilo Forte (União Brasil), que dará as ordens na campanha do Capitão Wagner, também garante que está no planejamento deles uma discussão prioritariamente centrada na cidade. "O Carlos Matos tem feito um trabalho importante nesse sentido, responsável que é pelo programa de governo", adiantou ele, advertindo, porém, que ataques, quando ocorrerem, terão pronta resposta. A estratégia vem sendo montada para uma linha propositiva, explorando a história de vida do candidato e o que se considera experiência frutífera recente dele como gestor, à frente da Secretaria de Saúde de Maracanaú.

O mesmo discurso oficial certamente será encontrado nos outros partidos e alianças que foram procuradas mas não se manifestaram até o fechamento deste texto. Até pode ser a intenção real de todos eles, aceitemos, mas sabemos nós que a realidade será outra e se apresenta quase inevitável que tenhamos uma das campanhas mais agressivas que Fortaleza já assistiu, diante de um quadro no qual inexiste um favoritismo claro e alguns dos movimentos estão determinados por um sentimento pessoal que se localiza próximo ao ódio. O caos está desenhado quando se combina tudo isso a um ambiente no qual as redes sociais seguem a funcionar sem regras que a controlem. Estejamos preparados para enfrentá-lo.

"A expectativa é que cada candidato apresente a Fortaleza que almeja e como pretende realizar isso" Renato Lima, coordenador da campanha à reeleição do prefeito José Sarto (PDT), prometendo uma linha propositiva

 

O mapa das projeções

Uma fonte da coluna que gosta de fazer tais exercícios em épocas de eleições municipais apresentava, outro dia, um mapa que resultara de uma projeção sua sobre os resultados de 2024. Há grandes chances, segundo apontou, de o senador Cid Gomes, com seu PSB, ter a melhor performance numérica e sair fortalecido numa perspectiva de futuro. Para 2026, diga-se de maneira clara, considerando haver quem jure de pés juntos que a ideia de voltar ao governo anda animando Cid. No mínimo, seria quase que uma confirmação de que uma das vagas para disputa futura ao Senado tem dono dentro da aliança governista e pertence a ele.

O PSD ocupa as janelas

O desfecho da discussão sobre a vice de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza, em favor da deputada estadual Gabriela Aguiar e do PSD, gerou sim alguns incômodos entre aliados. Basicamente, pelo fato de ser uma legenda recém-chegada ao grupo e que, fruto da competência política de Domingos Filho (pai da escolhida), já consegue ocupar uma janela, indicação de força e influência. Lembre-se que o PSD estava com Roberto Cláudio agora em 2022 e, inclusive, que o candidato à vice na chapa do pedetista ao governo na época era, exatamente, Domingos Filho. Ou seja, lá também uma das janelas era ocupada por eles.

Ameniza, mas não resolve

Prudente a decisão da mesa diretora e dos deputados de realizarem, com a campanha eleitoral prestes a se iniciar, apenas uma sessão da Assembleia Legislativa por semana. Agora, devo dizer, a medida é insuficiente para garantir que não teremos o plenário transformado, nos próximos meses, em palco de muita confusão pela transferência para lá de conflitos nascidos nas ruas dos municípios que se espalham pelo Ceará, cada um deles com uma disputa própria por acontecer. Ter 10 parlamentares candidatos e outros 10 com parentes diretamente envolvidos é coisa demais para não resvalar no bom funcionamento da nossa principal casa legislativa. É pedir proteção a Deus e esperar que ele nos atenda.

O acerto que brecou a crise

Demandou muita conversa, alguma pressão e pelo menos um ganho pessoal concreto o exitoso trabalho das lideranças petistas - especialmente o ministro Camilo Santana, o governador Elmano de Freitas e o deputado José Guimarães, que levou Pedro Lobo à desistência da ideia de se impor como candidato à vice na eleição do Crato, abrindo espaço ao anúncio do nome do Doutor Leitão (PSB). O problema é que isso representaria impor a um grupo grande de aliados uma chapa pura, considerando que na cabeça está decidido que será André Barreto. O acertado é que Pedro Lobo seguirá no exercício do mandato de deputado estadual, na condição de suplente convocado, compromisso que exigirá malabarismos políticos do novo articulador do governo, Nelson Martins, porque para isso alguém deve seguir licenciado. Cada problema na sua hora, diria ele.

Um petista ao lado de Izolda

Izolda Cela (PSB) acabou fazendo a escolha de sua preferência como companheiro de chapa em Sobral. Paulo Flor, o indicado, preside a executiva municipal do PT e é servidor público lotado exatamente na secretaria da Educação, que ela comandou um dia. Trata-se de um antigo aliado dos Ferreira Gomes, que teve papel estratégico na gestão de Veveu Arruda (marido de Izolda) e acabou sedo anunciado meio de última hora. Tanto assim que na convenção que oficializou as candidaturas, dela e dele, na sexta-feira à noite, o nome do petista ainda não constava no painel principal instalado no ginásio esportivo do Colégio Luciano Feijão. Aliás, festão com as presenças de Camilo Santana, Elmano de Freitas e Cid Gomes, dentre outros.

É a política, estúpidos!

A gente arruma um jeito de normalizar, mas algumas combinações que andam aparecendo na forma de peças de campanhas que circulam pelas redes sociais ainda doem um pouco nos olhos. Figuras que não se toleravam até outro dia, e que talvez até ainda não se tolerem, aparecem sorridentes uns ao lado dos outros em torno de um candidato local que acaba sendo um ponto de aproximação. Certamente haverá situações na quais a coordenação precisará organizar direito as agendas porque quando um apoiador estiver na cidade o outro precisará ser mantido à distância. Uma divagação, apenas, porque a política se move mesmo através dessas contradições, é histórico e não se trata de um fenômeno cearense. Talvez nem puramente brasileiro seja.

 

Foto do Guálter George

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