
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A campanha de 2024 em Fortaleza já começa a deixar uma marca importante com o protagonismo assumido pelo ex-prefeito Roberto Cláudio como principal cabo eleitoral no projeto de reeleição de José Sarto, seu correligionário do PDT. Havia dúvidas em relação a isso, considerando a tragédia política em que se transformara a experiência de 2022, quando ele parecia ser um nome competitivo para a disputa do governo do Ceará e acabou numa terceira colocação, muito distante do segundo, Capitão Wagner, e mais ainda do vencedor (em primeiro turno), Elmano de Freitas, atualmente no cargo.
O que chamou ainda mais atenção na época foi a performance de RC em Fortaleza, cidade que administrara por dois mandatos e onde se imaginava que sua candidatura formaria base, abrindo vantagem sobre os adversários, para a disputa pelo voto nos demais municípios. Lembrando-se que a capital concentra 25% do eleitorado cearense. Resultado final? A mesma terceira posição, apenas com um pouco mais de votos (20%), ainda distante de Elmano (37%) e de Wagner (41%). Por tudo isso, e diante da postura que o pedetista assumiu desde então, meio que evitando o debate político por muito tempo, havia dúvidas até em relação aos seus planos de futuro e, claro, não se conseguia prever ao certo qual papel assumiria nesta campanha em curso.
Pois bem, ele só não aparece mais do que o próprio candidato. Chega a cumprir uma agenda paralela à de Sarto, pelo entendimento de que tem condições de agregar valor à campanha por si quando as pessoas acionam a memória e se remetem ao tempo de sua gestão. Roberto Cláudio tinha aprovação superior a 60% e numa linha mais próxima aos 70% quando deixou o cargo, aliás, condição que fazia de sua candidatura ao governo dois anos depois quase que uma imposição e que dá sentido à perplexidade gerada pelo mau resultado final, especialmente em Fortaleza.
Há um sentimento entre os pedetistas cearenses, que ninguém declara de público por respeito (ou medo?) ao próprio, que a má performance do candidato à presidência na época, Ciro Gomes, puxou RC para baixo. Ajuda a entender alguma coisa, mas não explica tudo, pelo menos no caso de Fortaleza, onde, confirma-se agora, o ex-prefeito tinha condições para obter votação muito maior. Explica-se isso também pela polarização entre lulistas e bolsonaristas, naquele momento vivendo seu auge, mas o fato é que a estratégia posta em prática naquela campanha jogou fora um potencial muito maior do que aquilo que acabou expresso na votação do fortalezense.
Com Roberto Cláudio parecendo motivado de novo, feliz com a volta plena do seu protagonismo, uma pergunta meio que se impõe: será candidato ao governo do Ceará em 2026? É notório que seu discurso foca muito nos problemas que, segundo ele, a gestão de Elmano de Freitas apresenta, dois anos depois de sua posse. Certamente, não se trata de obra do acaso ou de escolhas aleatórias. Perguntei ao prefeito e candidato José Sarto sobre as possibilidades de uma candidatura de Roberto Cláudio em 2026 e ele reagiu de bate-pronto: "eu reeleito, com certeza". Depois, até emendou, falando um pouco mais baixo, que mesmo sem sua recondução o nome está posto para a próxima disputa estadual. É a volta ao jogo de um player de qualidade depois de um baque forte o bastante para fazê-lo balançar em relação aos planos políticos. O tempo só não parece ter curado as feridas que ficaram do rompimento com os antigos aliados.
"Comigo reeeleito, com certeza!"
osé Sarto (PDT), prefeito de Fortaleza, sobre a possibilidade de Roberto Cláudio, um de seus principais cabos eleitorais na campanha de reeleição, ser candidato ao governo do Estado novamente em 2026
O Grupo de Comunicação O POVO cumpriu sua parte ao organizar debates entre candidatos a prefeituras de seis municípios cearenses, Fortaleza dentre eles. Agora, convenhamos, a turma tem demonstrado muito pouca disposição para discutir os problemas reais e as possibilidades de solução que apresentam para eles. O salto qualitativo que fica em relação às propostas é muito pouco e o eleitor precisará ainda acompanhar muita coisa para tomar uma posição mais consciente dentre as opções existentes. Não pode a gente ficar duas horas acompanhando um evento do tipo, organizado de maneira dinâmica, com base em regras de fácil aplicação, e observar, depois, que o momento marcante que ficou foi quando um candidato sugeriu ao outro que "mordesse seu dedo para ver se saia leite".
O Ibama acaba de realizar uma grande operação na Serra de Baturité cujos resultados devem ser apresentados nos próximos dias e, segundo uma fonte, o quadro encontrado é desolador. Os 18 agentes ambientais mobilizados se depararam com um cenário de destruição e agressão ao meio ambiente que assustou mesmo aqueles mais experientes e que já acumulam tempo lidando com um problema que, aparentemente, só piora. Gente importante, na economia e na política regional, estaria envolvida com boa parte dos crimes ambientais constatados, parte deles envolvendo condomínios de luxo na região. As quatro equipes envolvidas voltaram a Fortaleza ontem, após dias embrenhadas na Serra, os relatórios estão sendo finalizados e acredita-se que seja possível anunciar os resultados, e as prováveis consequências, ao longo da semana. É esperemos, preocupados
Dói nos ossos ver tanta gente até respeitável, com mandatos populares e sem, posicionando-se rapidamente em defesa de Elon Musk na briga entre a justiça brasileira e o bilionário dono do Twitter, que nunca conseguirei chamar de X. Acriticamente, apenas porque faz parte de um contexto em que se tenta emplacar uma ideia frouxa de que há censura na decisão de impor um regramento básico a plataformas tecnológicas estrangeiras que atuam no País e tentam se fazer hoje meios de comunicação, para que elas não se transformem em área de um vale tudo. Aliás, nem sei se ainda dá tempo mais de evitar isso. Um exemplo: o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) foi às suas redes sociais dizer que estamos numa "pseudodemocracia" e que a decisão do ministro Alexandre de Moraes foi "a mais torpe, abusiva e anticonstitucional já produzida no Brasil". É impossível levar isso a sério considerando-se que o parlamentar em questão, general reformado do Exército, está no bloco dos que rejeitam a ideia de que tivemos um golpe militar em 1963 ou uma ditadura a partir disso. Um caso, de muitos aplicáveis, que aponta o desvio para a politicagem mais rebaixada de um debate que deveria ser sobre a soberania de um País.
A campanha de Evandro Leitão (PT) minimiza o episódio da queixa feita pelo deputado federal André Figueiredo (PDT) quanto à situação eleitoral de Fortaleza, na mais recente reunião do presidente Lula com os líderes governistas no Congresso. O pedetista, na ocasião, cobrou de Lula que se mantenha distante da disputa na capital cearense, chamando atenção para o incômodo que causou a vinda dele para um evento da campanha do petista. Nada mudou, disse à coluna o próprio Evandro, confirmando uma nova vinda do presidente para apoiá-lo no primeiro turno, em data ainda a ser definida. Acontece, e isso não foi o candidato que me disse, que a campanha de Sarto ataca a gestão estadual do PT quase todo o tempo e ainda há Ciro Gomes, um de seus cabos eleitorais, que tem como costume falar mal de Lula e de seu governo. Isso também precisaria mudar.
Não está fácil a vida de José Guimarães, principal articulador petista das eleições 2024 no Ceará e, ao mesmo tempo, líder do governo Lula na Câmara em meio a uma tensão política que vai crescendo à medida em que se aproxima a eleição do novo presidente da Casa, que acontece no começo do próximo ano. O relacionamento com Arthur Lira (PP-AL), atual ocupante do estratégico cargo, é dado como ótimo, mas o parlamentar petista precisa mesmo é evitar fissuras na base originárias da briga pela sucessão do alagoano, que apoia o baiano Elmar Nascimento (União Brasil), nome que está longe de ser consenso na Casa. Não está sendo fácil para Guimarães, mas ele faz uso de sua reconhecida capacidade de unir o impossível para manter o Palácio do Planalto longe da confusão.
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