Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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O dia de hoje, com sua face decisiva, permite uma série de exercícios fáceis e a coluna resistirá à tentação de projetar resultados. Por mais que as pesquisas, com sua ciência inquestionável quando realizadas a sério, permitam algumas ousadias nesse sentido e há quem se disponha a abraçá-las. Aqui, buscaremos um mergulho mais profundo sobre o que aconteceu no período, na perspectiva de projetar o por vir.
Doze figuras políticas, candidatos diretos ou com força para influenciar no voto do cearense, foram separadas para a análise. A ideia é, vendo nome a nome, identificar quem sai mais forte ou quem arrisca estar enfraquecido, independentemente do que as urnas informarem ao final do dia de hoje, e quem precisará dos resultados conhecidos para ter projetadas suas perspectivas a partir de agora.
É uma análise de alguma complexidade porque parte das conclusões derivam de cruzamentos aparentemente contraditórios, onde nem sempre uma derrota basta como justificativa final e haverá situações nas quais alguém sairá vitorioso mesmo não vinculado a um projeto que terá vencido nas urnas. Da mesma forma que o fato de ter maioria de votos nas urnas não necessariamente carimba o êxito de um projeto político (não confundir com projeto eleitoral). Dito isso, vamos aos três blocos nos quais o grupo foi dividido e o contexto que, ao meu ver, justifica cada um deles.
Ainda sem que as urnas tenham sido abertas (metaforicamente falando) nesse domingo, é possível fazer coro com outras análises já apresentadas que apontam o deputado federal André Fernandes (PL), mesmo que nem vá ao segundo turno, como um dos que saem do processo eleitoral mais fortes do que quando entraram. Trata-se, considerado aquele personagem que se apresentou na campanha, de uma figura nova, que refletiu sobre erros do passado, responsabilizou um pouco sua adolescência por parte deles, desculpou-se por alguns, enfim, ficou como uma "boa surpresa".
Há mais coisas, não vinculadas à sua fase adolescente, que ainda exigem explicações melhores da parte dele. Arrepende-se, por exemplo, de suas pregações golpistas de quase dois anos atrás, quando, já com o peso de um mandato parlamentar, usava suas redes sociais e espaços políticos para apoiar ataques às instituições e ao processo eleitoral? São pontos que seguem sob interrogação num contexto em que, no aspecto geral, André Fernandes apresentou um comportamento absolutamente inesperado.
Da mesma forma que o ministro Camilo Santana sai maior da eleição seja qual for a performance dos candidatos que apoiou, especialmente nas localidades onde concentrou interesse de maneira mais clara. Na verdade, ao contrário de André Fernandes, o petista já entrou na campanha identificado como uma de suas forças principais. O que ele fez, com suas ações, palavras e movimentos, foi confirmar-se como, talvez, o líder com maior capacidade de influência na decisão do eleitor cearense em 2024, ao ponto de, na reta final, se obrigar a tirar um tempo de "férias" do seu cargo em Brasília para se dedicar 100% às campanhas cearenses. Para quem entende o gesto como banal, lembro que foi o único dos auxiliares do Lula a precisar fazê-lo, atendendo uma demanda que vinha das bases, em todo o ministério.
Outro que independe do que acontecer hoje em termos de votos para deixar sinais claros de recuperação política é Roberto Cláudio, do PDT. Admita-se que a situação de José Sarto, candidato que apoia em Fortaleza, não é das mais confortáveis, mas o papel cumprido pelo ex-prefeito dá-lhe uma condição boa para planejar o futuro com um olhar diferente, se consideradas as muitas dúvidas levantadas diante da má performance de sua candidatura ao governo do Ceará em 2022 e à maneira como se comportava desde então, inclusive ausentando-se do debate político em momentos importantes.
Parte desse grupo selecionado vai precisar esperar a informação que virá das urnas para ter sua situação delineada em termos do porvir. São os casos, considero, do Capitão Wagner (União Brasil), Evandro Leitão (PT) José Sarto (PT), todos candidatos à prefeitura de Fortaleza, e de líderes influentes como o governador Elmano de Freitas (PT), o senador Cid Gomes (PSB), e o dirigente partidário Domingos Filho (PSD). Claro que em camadas diferentes.
Sarto, Wagner e Leitão têm os nomes diretamente postos na berlinda e, em caso de derrota, precisarão recalcular muito da trajetória que tinham traçado para si. Os dois primeiros, inclusive, ficam sem mandato popular a partir de janeiro do próximo ano, enquanto o petista ainda teria dois anos como deputado estadual. A questão é que ele voltaria para Assembleia de alguma forma fragilizado, considerando a situação de influência de hoje.
Para o governador seria fundamental, em relação à metade restante do mandato, sair das urnas mais fortalecido em relação à base política que mantém no Interior, sob críticas dos adversários pela ideia de hegemonismo. Cid Gomes, cujos planos para 2026 ainda não são muito claros, projetava eleger um número expressivo de aliados Ceará afora (talvez ainda projete), mas chega à reta final empenhado, prioritariamente, em manter o controle político de Sobral, através da correligionária Izolda Cela, devido à força demonstrada pela oposição dos deputados Oscar (pai) e Moses (filho) Rodrigues.
A situação de Domingos Filho é razoavelmente cômoda e muito dificilmente o balanço final que fará não lhe será positivo. A força com que chegou às eleições de agora, com seu PSD, é, em si, uma demonstração de capacidade de readaptação política com o questionamento que se faça à coerência dessa ou daquela posição, lembrando-se, afinal, que ele saiu derrotado em 2022, candidato à vice de Roberto Cláudio na época.
O nome de Ciro Gomes pisca no capítulo que se pretenda reservar aos "derrotados" no processo eleitoral cearense de 2024, que ainda pode (até deve) ter capítulos novos com a extensão da disputa em Fortaleza e Caucaia. O fato de ter sido ignorado quase que totalmente pela campanha do aliado José Sarto, com participações episódicas, pontuais e controladas, já indica com clareza uma avaliação de que agregaria pouco apesar da sua condição de nome nacional, quatro vezes candidato à presidência da República e de toda a trajetória de cargos públicos que acumula.
Ciro tem dito que não está mais entre seus planos participar de eleições, decepcionado em especial com os 3% de votos de 2022 ao tentar mais uma vez o comando do País, mas, caso mude de ideia, o que acontece agora deve embasar bastante suas reflexões. Parece claro que se impõe uma mudança de comportamento, e até de discurso, eventualmente, mas sua disposição para adotá-la é quase nenhuma.
Quanto ao senador Eduardo Girão (Novo), parece ter feito uma aposta errada ao utilizar o processo eleitoral desse ano para fazer uma espécie de teste de popularidade no momento em que entra na reta final de seu mandato de oito anos em Brasília. Brigou com as pesquisas desde o começo e precisará vencê-las hoje no voto, para desmoralizar tudo à sua volta, inclusive este
O deputado Eunício Oliveira, finalmente, já não parece ter o controle que sempre apresentou sobre seu MDB, para além do fato de ser o atual presidente da executiva no Ceará. Teve pouquíssimo protagonismo, de alguma forma acabou ofuscado pela estrela da vice-governadora Jade Romero, e, com o peso de quem já presidiu o Senado, foi ministro e sempre pareceu ter a palavra final no seu partido, talvez deva aprofundar sua análise acerca do que aconteceu e pensar para frente a partir de uma outra perspectiva. Precisará, já adianto, de alguma humildade para esse exercício.
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