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A política que sai das urnas. E os políticos
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A política que sai das urnas. E os políticos

Qual futuro se pode projetar para André Fernandes, independente de vitória ou derrota na luta da vez? E Evandro Leitão, sai com que tamanho, eleito ou não, de sua primeira experiência em eleição majoritária?
André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) são os candidatos no segundo turno das eleições municipais de 2024 em Fortaleza (Foto: Montagem Jornal O Povo)
Foto: Montagem Jornal O Povo André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) são os candidatos no segundo turno das eleições municipais de 2024 em Fortaleza

Hoje acaba mesmo, de verdade, a temporada eleitoral de 2024 em Fortaleza. Quem veio na luta até agora, André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), deixa pra trás uma temporada intensa de ações e atividades que buscaram o direito de, a partir de 1º de janeiro de 2025 e pelos quatro anos seguintes, comandar a gestão na maior cidade do Ceará, aquela que se apresenta como mais rica do Nordeste em relação ao PIB acumulado e, quanto à população, a quarta capital do País. Não é pouca coisa.

Como não há ainda o resultado oficial e diante de pesquisas que apontam um forte equilíbrio entre eles, quase todas concluindo por uma situação de empate técnico, parece oportuno fazer nesse momento uma análise de perspectivas para os dois protagonistas da disputa em Fortaleza. Qual futuro se pode projetar para André Fernandes, independente de vitória ou derrota na luta da vez? E Evandro Leitão, sai com que tamanho, eleito ou não, de sua primeira experiência em eleição majoritária?

A coluna se impôs o desafio de procurar respostas para as duas questões e apresenta suas conclusões. André e Evandro foram atores de primeira linha de uma etapa sem precedentes na história política fortalezense, que nunca houvera assistido uma disputa pelo comando político da cidade tão renhida, portanto emocionante e cheia de episódios dramáticos. Claro que o melhor é chegar na frente ao final da corrida, mas pode-se dizer que nenhum dos dois terá motivos, esfriada a cabeça depois das festas e ressacas, para se queixar do saldo que ficará. Um papel novo lhes estará destinado, restando saber se há disposição para encarná-lo.

André Fernandes

O desafio dele, a partir de amanhã, eleito ou não, é demonstrar que o traço de institucionalidade e maturidade que procurou apresentar durante todo o tempo de campanha, desde julho, não era uma mera estratégia com tempo de validade e destinado apenas à conquista de votos fora dos limites da bolha bolsonarista. Caso isso se confirme, uma nova liderança política terá surgido no Ceará, pelo lado conservador, à direita, com potencial para exigir um redesenho da configuração de forças no cenário local de disputa do poder.

Para além do que os marqueteiros foram sugerindo, e ele parecia acatar sem maiores contrariedades, o candidato segurou bem o debate quando era exigida apenas a competência retórica de cada um. Neste aspecto, suas habilidades ficaram demarcadas com clareza. Era nos momentos em que precisava se comunicar com a cidade para falar de suas soluções para os problemas do dia-a-dia da população que as dificuldades do projeto eleitoral que encabeça apareciam com maior clareza, fruto da negligência com a parte de elaboração de um projeto para mudar Fortaleza. Saia dele, no máximo, um diagnóstico e compromissos genéricos.

Prefeito de Fortaleza ou deputado federal, com mandato assegurado até 2026, André Fernandes até hoje tem uma trajetória plena de equívocos. Aliás, o farto material que deixou registrado por sua adolescência cheia de traquinagens seguirá perseguindo-o e precisa de reações melhores quando voltarem à tona. Apenas atribuir tudo aquilo à idade anda longe de ser uma maneira de apagar coisas tão dantescas e algumas bastante graves. O futuro dele, que até parece interessante, depende muito de um ajuste com o passado que na campanha que se encerra hoje ele optou por não fazer.

Evandro Leitão

Em seu segundo mandato como presidente da Assembleia Legislativa, reeleito no começo de 2023 com a totalidade dos votos dos colegas, Evandro Leitão sai da primeira experiência em disputa majoritária com uma boa perspectiva pela frente no horizonte político que se descortina à sua frente. Esteja ou não sentado na cadeira de prefeito de Fortaleza a partir de 1º de janeiro próximo, embora, claro, uma situação de vitória lhe garantiria um espaço mais confortável.

É evidente que sua posição de incômodo transpareceu em vários momentos da dura caminhada dos últimos meses e semanas, inédita para ele em muitos aspectos. Os embates diretos de oratória com o adversário André Fernandes foram desfavoráveis a ele, no geral, mas, sabe quem acompanha isso há mais tempo, nem sempre isso funciona como delimitador de competência de uma liderança política. Leitão foi útil e importante à própria campanha no aspecto que a sua ação parlamentar já apontara desde sempre como maior qualidade: a capacidade articuladora. Aliás, o que justificou em parte a escolha dele como candidato, com toda a manobra que exigiu, a começar pela filiação repentina ao PT.

Nota-se, na reta final de campanha, um "petista" muito mais à vontade, inclusive nas discussões sobre bandeiras caras ao seu novo partido, relacionadas a pautas sociais e, até, identitárias. A desconfiança que gerou na época da filiação está menor ao final da campanha, mas persiste em grau menor e exigirá ainda que, prefeito ou deputado estadual, siga apresentando demonstrações de que a sensação de que parecia à vontade com o 13 que o PT carrega nas urnas não era apenas uma circunstância do momento. Trata-se de uma sigla orgânica, de vida interna fora dos tempos eleitorais e que Evandro Leitão, considerado o novo tamanho que a experiência de 2024 lhe oferece, precisará se fazer pronto para vivenciar.

 

Foto do Guálter George

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