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2024, o ano da política
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

2024, o ano da política

Há vários balanços que se pode fazer de um ano sempre que uma temporada completa se fecha. No caso da política, os efeitos de um processo eleitoral costumam definir fracassos e sucessos, mesmo que em muitas situações pareça injusto condicionar as análises apenas a vitórias ou derrotas
Tipo Opinião
2912gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2912gualter.jpg

Há vários balanços que se pode fazer de um ano sempre que uma temporada completa se fecha. No caso da política, os efeitos de um processo eleitoral costumam definir fracassos e sucessos, mesmo que em muitas situações pareça injusto condicionar as análises apenas a vitórias ou derrotas. Nem sempre são conceitos que se bastam como explicação.

Nesse 2024 que está chegando ao fim, dentro do que a Coluna se propõe, as conclusões passam muito pelas performances nas urnas. Ou, pelo menos, têm na própria reação da população, através do voto, um dos principais indicadores para concluir sobre a lista dos que estão no bloco dos que se deram bem na temporada política e, por outro lado, também ajudam a apontar quem chega a dezembro com poucos motivos para ter saudade dos últimos doze meses.

É impossível fazer uma lista dos que chegam mais fortes ao ano novo sem incluir nela, encabeçando-a, inclusive, o deputado estadual Evandro Leitão (PT), que em alguns dias assume a Prefeitura de Fortaleza. Por outro lado, numa perspectiva contrária de apontar quem fecha a temporada desgastado, a situação do ex-prefeito Roberto Cláudio(PDT) se destaca diante da sequência de malogros acumulados, nem todos inevitáveis ou fruto de movimentos que se pode considerar naturais. Especialmente pela postura de risco que decidiu assumir na passagem entre 1º e 2º turno na disputa da capital, abraçando-se a uma candidatura ligada ao bolsonarismo.

A proposta de hoje é fazer uma análise geral do cenário que resultou das movimentações políticas no ano que está chegando ao fim. Olhando para quem já tinha posição de protagonismo e observando se conseguiram manter o status, identificando quem parece ter subido de patamar e, finalmente, localizando as figuras que podem ter deixado um bloco de elite, no qual estavam quando 2024 começou, como efeito das movimentações e opções dos últimos meses.

Vale, ao final, a advertência que o mundo prático, com sua dinâmica, exige que se faça: na política, nenhuma derrota é definitiva e nenhuma vitória se sustenta para sempre.

Quem chega a dezembro maior

É objetiva e numérica a explicação para escolha do personagem da política cearense com mais motivos para comemorar o Réveillon de 2024: Evandro Leitão (PT). Ainda deputado estadual, no segundo mandato de presidente da Assembleia Legislativa e que dia 1º de janeiro assume como prefeito de Fortaleza.

Para permanecer no patamar ao qual se viu lançado, porém, Evandro Leitão precisará mostrar competência de gestor. Desafio que fica maior à medida em que se conhece as condições reais nas quais receberá a máquina administrativa, com vários problemas, inclusive financeiros.

Nem sempre a vitória define uma temporada boa ou ruim na política. Assim é que outra figura que sai bastante fortalecida de 2024 é o deputado federal André Fernandes (PL), exatamente a quem Evandro Leitão derrotou em Fortaleza. Uma surpresa, considerada a expectativa de que iria para a primeira experiência majoritária com o perfil de bolsonarista extremado e que não se disporia a oferecer espaços à ideia de alianças para fora de sua bolha ideológica.

Eis que sua campanha de 2º turno juntou Capitão Wagner, Roberto Cláudio, Élcio Batista, Tasso Jereissati, e uma série de outros nomes incomuns a um mesmo palanque. Vale, no caso, identificar como se portou o próprio André Fernandes, que estendeu os braços para todos, fez política maiúscula e disputou cabeça-a-cabeça o voto do fortalezense até quase o final da apuração. Sai maior, mas seus próximos movimentos indicarão até onde vai a maturidade ali demonstrada.

No capítulo das figuras que tornaram-se maiores em relação ao que aconteceu no ano que se encerra agora cabe um destaque, ainda, para uma mulher. No caso, a vice-governadora Jade Romero, numa avaliação que não se mede por números ou votos, mas por atitude. O respeito que há no governismo por ela cresceu muito diante da forma como atuou na campanha eleitoral, especialmente em Fortaleza. Expondo-se, ocupando espaços na mídia e nas ruas, enfim, projetando papéis novos e mais relevantes para si nas estratégias futuras.

Como dado objetivo, vejamos o anúncio de que Jade Romero irá substituir Onélia Santana na secretaria de Proteção Social, acumulando com as funções de vice-governadora. Trata-se de uma das pastas mais estratégicas da gestão Elmano de Freitas, com orçamento reforçado etc, o que quer dizer que não é uma escolha qualquer. Há sinais e nos cabe captá-los.

Quem perdeu tamanho, 12 meses depois

A busca de localizar os que saem de 2024 com razões para olharem o futuro preocupados, conscientes de que há ajustes importantes por serem feitos, inevitavelmente projeto cenário cearense a partir do que se observou na realidade de Fortaleza. Ou seja, é meio inevitável que a fila seja puxada pelos líderes do grupo político que tem comandado as coisas na capital nos últimos 12 anos.

O rosto que aparece de imediato, claro, é do atual prefeito José Sarto (PDT), derrotado em sua tentativa de reeleição ainda no primeiro turno. Um desgaste que a transição atribulada só tem aumentado, com queixas de falta de informação da parte do prefeito eleito, medidas improvisadas de corte de despesas, alguns sinais de desmonte em equipamentos públicos, enfim, demonstrações práticas de que o alardeado equilíbrio fiscal e financeiro do caixa municipal poderia ser apenas um discurso difícil de sustentar diante dos fatos.

E, claro, uma situação que desgasta Sarto inevitavelmente terá o mesmo efeito negativo sobre Roberto Cláudio, seu antecessor e, agora, fiador principal, da tentativa fracassada de reeleição neste 2024. O ano foi ruim para o ex-prefeito, no entanto, também pela atitude que decidiu adotar na campanha de 2º turno, não apenas decidindo apoiar André Fernandes, mas, em especial, por decidir fazê-lo de maneira plena. Envolvendo-se com as mais diversas atividades, colocando todo seu prestígio em favor de um candidato do qual, até então, buscava manter prudente distância pela falta de identificação com as principais teses que abraçava. E vice-versa.

O fato de André Fernandes ter perdido, no final das contas, exatamente para o candidato que Roberto Cláudio tinha como objetivo definido vencer, naquele momento, é que torna o balanço do final do ano ainda mais preocupante para o pedetista. Já olhando para frente, na perspectiva da próxima eleição a vista, em 2026.

Aliás, é o planejamento do que está por vir que determina a inclusão do nome do Capitão Wagner (União Brasil), que foi candidato em Fortaleza e viveu a experiência inédita de sequer ir para o segundo turno, entre os personagens políticos que contam os dias para 2024 acabar de vez. Mais do que simplesmente a derrota, é a baixa votação, muito distante das performances anteriores, que impõe a ele que realize uma análise profunda das razões da performance. Também neste caso, inclusive, conte-se o revés em dose dupla pela maneira como entrou na campanha de André Fernandes, aqui, apenas com menos estranhamento ideológico.

Quem não caiu, mas também não subiu

Há um conjunto de líderes que olha para 2024, na perspectiva dos seus interesses e estratégias, como um ciclo sem avanços e nem retrocessos. Cabem na lista: governador Elmano de Freitas, ministro Camilo Santana, deputado federal José Guimarães (petistas) e o senador Cid Gomes (PSB). Todos com vitórias e derrotas contabilizadas e, claro, analisando-as a partir das conveniências próprias quanto ao impactos nos apoios que buscarão de olho em 2026.

O governador saiu na frente ao anunciar a reforma no secretariado, formando uma turma mais próxima, trazendo Domingos Filho para equipe, fortalecendo a vice Jade Romero, enfim, movimentando-se. A temporada de 2024 registra um equilíbrio final entre o grande resultado em Fortaleza e o fracasso de nomes governistas em municípios estratégicos como Juazeiro do Norte, Sobral e Iguatu. Fora do âmbito eleitoral também não foi um tempo de grandes conquistas, mas, igualmente, não há um evento negativo definitivo.

Quadro parecido, em outra perspectiva, com o que envolve o ministro (senador licenciado) Camilo Santana, que segue na condição de líder político atual mais influente no Ceará. Ao ponto de enfrentar, o tempo todo, a acusação de agir como "coronel", impondo decisões. O fato é que continua poderoso, embora o balanço final das eleições não lhe tenha fortalecido mais como previa o planejamento inicial. Pesa a má performance de Fernando Santana, candidatura na qual se empenhou diretamente, derrotada pelo prefeito reeleito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos).

A situação do senador Cid Gomes é mais emblemática, com a perda do controle de Sobral, interrompendo caminhada iniciada em 1996, devido à derrota de Izolda Cela para Oscar Rodrigues (União Brasil). Apesar dos mais de 60 correligionários eleitos como prefeitos, além do apoio que deu ao PT em Fortaleza, Cid termina o ano numa posição semelhante à que apresentava em janeiro. A questão é que não se tem certeza de seus planos para 2026, inclusive quanto aos planos de tentar reeleição.

Finalmente, há o caso de José Guimarães, fundamental na estratégia petista de 2024, responsável por grande parte das alianças formadas e que teve bons resultados colhidos, em especial, no Cariri. A intenção dele é disputar uma das duas vagas ao Senado, mas, para isso, talvez precise se desvincular mais das obrigações que o prendem a Brasília, como líder do governo Lula na Câmara dos Deputados. Há um cálculo político a fazer sobre isso.

 

Foto do Guálter George

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