Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Quem abraçou a bandeira da liberdade de expressão como valor absoluto, ao ponto de defender como tal a opção de quem foi às ruas brasileiras pedir um golpe de Estado entre o final de 2022 e o começo de 2023 - simplesmente por não ter gostado do resultado das urnas -, precisa, agora, aplicar o mesmo entusiasmo militante em favor da jornalista Natuza Nery. Uma atitude de silêncio diante deste caso demonstra que o discurso de consciência cidadã esconde, na verdade, um viés ideológico que somente enxerga algo como ameaça quando a possível vítima é alguém do seu mesmo campo de pensamento.
Para entender melhor do que falo: a jornalista da Globonews estava outro dia em um supermercado de São Paulo, onde mora, quando foi constrangida e ameaçada por um outro frequentador, que depois se descobriu ser o policial civil Arcenio Scribone Junior. O "crime" dela, pela qual mereceria ser "aniquilada", conforme teria expressado o agressor desequilibrado que a abordou em tom intimidatório, é o de ter opinião e expressá-la como resultado natural de sua atividade profissional.
Diga-se, de logo, que a condição de jornalista não nos dá uma proteção absoluta às críticas, como muitas vezes fazemos parecer, equivocadamente. Portanto, não é o caso de tolher o direito que tem o aloprado em questão de rejeitar e criticar a forma como Natuza pensa o mundo e analisa as notícias a partir da visão dela. Muito menos se deve atacá-lo pelo fato de desgostar do governo atual e gostar do anterior, ou vice-versa. Ele que se entenda com suas escolhas.
Acontece que o direito dele (e de qualquer um) termina exatamente onde começa o dela (seja Natuza ou o nome que tenha). Ainda mais quando a opinião dá espaço à ameaça, claramente expressa pelo uso de termos como "aniquilar" em meio a uma fala agressiva . A partir daqui já não estamos mais falando de divergências de visão, pura e simplesmente, mas de um covarde que sugere o desaparecimento de uma pessoa que sequer conhece, de fato, apenas por discordar de suas opiniões. Fosse apenas um telespectador ou cidadão insatisfeito com o trabalho dela (de alta qualidade, aliás) poderíamos estar falando apenas de alguém inconveniente, um sem noção.
Tudo precisa ser apurado, é evidente. Pelo lado do acusado há quem conte outra história, negue ameaça etc, havendo necessidade de colocar tudo a limpo. O problema é que o personagem em questão tem um histórico nas redes sociais que expressa um extremismo político, o que amplia muito as chances de que a coisa tenha acontecido naqueles termos. Sem contar que se há alguém que perderia muito inventando uma situação tal a essa altura seria a própria Natuza, considerando que o policial envolvido não tinha, até então, imagem pública por zelar. Diante do que aconteceu talvez ele precise, a essa altura, lutar pela preservação até de sua condição de servidor público.
Enfim, é constrangedor o silêncio, até agora, dos que quase diariamente torram a paciência de todos na defesa daquela gente golpista que esteve mobilizada recentemente para destituir um presidente eleito legitimamente, sugerindo que sequer posse deveria tomar. Um quadro que expõe o tamanho da hipocrisia que há naquele discurso e, estivéssemos falando mesmo de defensores da liberdade de expressão, estariam todos, nesse momento, ao lado de quem se apresenta como vítima da intolerância e exigindo uma punição exemplar do seu algoz, por sinal, um agente do Estado que deveria ser o primeiro a dar o exemplo. Bom exemplo, no caso.
No Ceará desde 27 de dezembro e com planos de permanecer no nosso litoral até o dia 8 de janeiro, pelo menos, o ex-parlamentar e ex-ministro José Dirceu tem conversado muito sobre política. Alguns dos interlocutores falam da curiosidade dele em entender "o que aconteceu" com Ciro Gomes, ex-aliado do passado que se transformou, agora, em crítico implacável e duro do presidente Lula e do seu governo.
A questão, diz ele, é que seria um político com potencial para substituir o próprio Lula como líder das esquerdas brasileiras, lembrando a performance muito positiva do cearense quando ministro do petista, no primeiro governo. "Altamente resolutivo", define Dirceu, destacando que todas as missões a ele entregues eram tocadas e defendidas com grande competência. Um perfil que estaria fazendo falta no momento delicado atual do governo.
Convenhamos, os primeiros momentos de Oscar Rodrigues (União Brasil) como prefeito de Sobral não parecem muito animadores. Claro que a coisa não estava boa, o que explica o fato dele, ancorado num discurso de oposição, ter derrotado uma candidata abraçada à tese da continuação com a força que tinha Izolda Cela (PSB). No entanto, os factoides dos dias iniciais da nova gestão, destacando-se a ida dele às ruas para pintar meio-fio, retirar jarros de estacionamentos e outras ações de efeito prático objetivo nenhum, apontam um gestor meio sem ter o que fazer, ou, pior, sem saber.
Aliás, com todo respeito ao agora prefeito sobralense, sua vitória eleitoral no ano de 2024 tem como um dos efeitos positivos a volta à Assembleia do combativo Heitor Férrer, suplente do União Brasil que se efetiva no mandato. O domínio dele sobre a dinâmica legislativa e a capacidade de levar adiante a missão fiscalizadora do parlamentar estavam fazendo falta à Casa, ou, fazendo-se justiça a alguns poucos, andava rareando. Talvez não seja uma boa notícia para o governo apenas no aspecto político, porque sob o ponto de vista numérico altera pouca coisa, considerando que o titular da cadeira de até então já era um voto com o qual o Palácio da Abolição poucas vezes contava. O que vai aumentar é o barulho.
O saldo do fim do processo de transição, com a posse dos novos prefeitos e vereadores no dia 1º, infelizmente, indica retrocessos importantes. Muita transmissão de cargo sem a presença dos gestores de saída, alegando-se desculpas variadas ou mesmo sem dar qualquer explicação, muita coisa relacionada à situação atual sem resposta e que demandará tempo para ser esclarecida e, ainda, os casos em que os eleitos já chegam carregando um passivo judicial. Sem contar as situações extremas (pelo menos duas no Ceará) em que as posses não se deram porque os eleitos estavam presos ou foragidos. Retrato triste de um momento complicado.
Insere-se na linha "vergonha alheia" a cena de maridos e irmãos políticos acompanhando vereadoras e vereadores no ato solene de posse nos legislativos que se assistiu aos montes em 2025. Não falo de família para além da vida pública, do tipo filhos ou coisa assim porque neste caso parece um gesto genuíno de orgulho. Alguém pode achar que seja uma ação política, mas meio que humilha quem assume o mandato pela ideia embutida de que ele tem dono e não é necessariamente quem está tomando posse. Uma demonstração mais verdadeira de suporte se dá muitas vezes, em tais horas, através da ausência.
O que ainda se tenta identificar, na cuidadosa montagem da equipe pelo prefeito Evandro Leitão (PT), é o interlocutor com o qual tratou do convite ao vereador Márcio Martins para assumir a Secretaria Regional X. Foi o presidente da executiva regional do União Brasil, Capitão Wagner, ou o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa - na verdade o principal beneficiado com o espaço que se abre para que o neto, Renê Pessoa, assuma cadeira na Câmara de Fortaleza? A resposta parece fácil, mas há outro movimento, este do prefeito Pessoa, que embola a história um pouco mais: ele nomeou uma irmã de Wagner, Vanderlange de Sousa Gomes, para a estratégica Secretaria de Saúde. Não é ligada ao setor, mas tem uma boa experiência na gestão pública e, inclusive, já estava secretária executiva da pasta do Meio Ambiente no município.
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