Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
É conveniente prestarmos atenção no comportamento adotado nos últimos dias pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como registro aparente de que o governo decidiu mudar de atitude e cedeu à provocação oposicionista para que a guerra política seja logo declarada. Sem esperar pela temporada eleitoral de 2026, que, já podemos prever, será das mais quentes.
Chamou atenção o comportamento irritado de Haddad nos últimos dias, inclusive com uso de termos que até então evitava em seu vocabulário sempre cuidadoso e em geral educado. Por exemplo, referiu-se a bolsonaristas como "bolsonaristas", além de ter mirado com termos duros no senador Flávio Bolsonaro para questionar os ataques dele às mudanças no monitoramento, pela Receita Federal, das operações com o Pix numa determinada faixa de valores. Aqui outro destaque: usou o termo "rachadinhas" para falar de rachadinhas, prática da qual é acusado o parlamentar, na época em que era deputado estadual no Rio de Janeiro, ficando para si com parte dos salários dos assessores.
Mais do que isso, Haddad bate forte na família Bolsonaro, sem poupar o chefe Jair e, ao contrário, colocando-o no centro dos ataques como articulador principal do movimento que, diz ele baseado apenas em mentiras, levou o governo ao recuo na história do monitoramento do Pix. Postura clara de quem quer chamar pra briga, restando entender se tem feito isso por estratégia ou por desespero.
É possível que a nova atitude do titular do influente ministério da Fazenda seja somente o reflexo pontual e espontâneo de um momento em que sua paciência cedeu espaço à explosão como forma de responder a uma pressão que, é verdade, em boa medida se devia a uma onda de mentiras. Haddad, afinal, viu-se como figura-chave da desafiadora crise que nascera de uma ação um tanto atabalhoada de sua equipe. Ou, no mínimo, desprovida de qualquer ação estratégica.
O que parece é que o Palácio do Planalto pode ter entendido que precisa fazer barulho como forma inicial de enfrentar uma oposição que, na essência, vale pela confusão que tem sido capaz de causar. Não há nela, que se perceba, qualquer sentido construtivo ou institucional. Desde a saída de Flávio Dino da equipe ministerial, por opção do próprio Lula de indicá-lo para vaga aberta no Supremo Tribunal Federal, que o lado governista parece desfalcado de uma voz que peite os bolsonaristas e a oposição em geral no mesmo tom agressivo que eles costumam adotar.
Lula vinha dizendo que a segunda metade do seu atual mandato seria para colheita do que considera ter plantado nos dois primeiros anos. O sentido da declaração é fazer crer que o pior já passou e o que precisava de ajuste está ajustado, permitindo, finalmente, focar na agenda de crescimento e prosperidade que o petista vendia na campanha.
Foi quando veio a tal Instrução Normativa da Receita abrindo brechas para a oposição atacar e ela o fez sem pudor, sem medo e, consideradas algumas situações, também sem limites. Portanto, a ideia que Lula tinha de surfar em ondas mais favoráveis na nova fase do governo está atropelada, desde agora, porque o recado que mandou a linha oposicionista demonstra que não há trégua à vista e cada oportunidade oferecida será aproveitada com toda força disponível.
A conveniência da escolha de Haddad para a missão de dar voz governista nessa discussão, caso tenha sido pensada, exigirá mais um tempo para análise melhor. Porém, de início, parece esquisita pelo seu perfil, já ressaltado antes, e também pelo fato de ser ele o responsável pela política econômica, posição de onde precisa manter todos os canais de diálogo abertas. Inclusive, sem aspas, com bolsonaristas.
O PSDB começa a agir
Finalmente a cúpula estadual do PSB que vinha sendo cobrada sobre isso, anunciou suas primeiras ações contra os filiados envolvidos em investigações policiais que indicam malfeitos nos cargos públicos que ocupam. Os prefeitos Braguinha (Santa Quitéria) e Bebeto Queiroz (Choró) irão responder à Comissão de Ética, o que pode soar para eles como uma boa notícia, considerando o perfil de alta qualidade dos nomes que compõem este grupo. Uma certeza de que terão direito pleno à defesa e que o julgamento que venha a ser feito respeitará os argumentos que apresentem. Ainda sobre o partido, porém, continua inquietante o silêncio acerca das acusações contra o novo filiado Júnior Mano, deputado federal apontado pela ex-prefeita de Canindé, Rozário Ximenes (Republicanos), como articulador principal, de um esquema de desvio de recursos de emendas parlamentares. Poderia ser uma nota oficial, mas já deveria ter algo de peso oficial acerca da situação, defendendo o denunciado que seja.
A escolha de Bosco
A definição do nome de Bosco Monte para a recriada Coordenadoria Especial para Assuntos Internacionais exigiu algumas conversas anteriores entre ele e o prefeito Evandro Leitão (PT). Por sugestão do próprio Bosco, a nova versão do órgão, que existia até a gestão Roberto Cláudio, à época comandada por Patrícia Macedo, não envolverá também assuntos institucionais. Os encontros prévios entre os dois ainda permitiram ao indicado, nome respeitado nos meios diplomáticos brasileiros - um conhecedor da África que talvez não exista igual no Brasil -, dirimir algumas pequenas dúvidas que ainda existiam em sua cabeça para entender se o sacrifício valeria a pena, do ponto de vista pessoal, considerando o ônus que o convite traz consigo, naturalmente. O básico que ele exigiu foi autonomia, garantida pelo prefeito, inclusive informando-o que o cargo terá status de secretaria.
Uma agenda de pré-candidato
Nenhuma agenda política recente, das forças que lideram grupos no Ceará, foi tão intensa quanto a do senador Cid Gomes (PSB). Uma indicação clara de que a ideia de abandonar a vida pública, um dia manifesta por ele, está definitivamente arquivada para o momento e seus movimentos olham quase de maneira obsessiva pelo porvir eleitoral. A questão com o irmão Ciro, com quem está rompido desde 2022, ainda segue por ser resolvida, mas, enquanto isso, faz suas articulações para chegar firme e falando grosso no ano que vem. Inclusive com gestos inesperados, valendo citar, nos últimos dias, os encontros com a deputada federal petista Luizianne Lins e o ex-prefeito Roberto Cláudio, ainda seu correligionário. Será meio difícil para quem circula no mesmo raio de ação que ele tratar de aliança sem chamar para a conversa o experiente parlamentar. Resta saber se o plano dele é continuar no Senado ou se fala com alguém sobre um desejo de retornar ao Palácio da Abolição.
O futuro em pauta
Por falar em Roberto Cláudio, seu futuro no PDT não é dado como uma certeza. Há uma reunião prevista para o começo de fevereiro e nela, espera-se, os argumentos de lado a lado será apresentados como forma de tentar justificar os desencontros das últimas ações, sendo o mais evidente deles os caminhos diferentes adotados no segundo turno em Fortaleza. Do saldo deste encontro deve sair uma definição que, inclusive, posicione o ex-prefeito de maneira mais clara em relação às próximas disputas eleitorais.
O cenário é improvável
Ciro Gomes assiste de longe, em mais uma viagem ao exterior, das tantas que faz ao longo do ano, a animação no seu entorno com a boa posição em que a mais recente pesquisa do instituto Paraná lhe coloca num dos vários cenários projetados para a disputa presidencial de 2026, liderando a escolha dos eleitores ouvidos, com 27,8% das intenções, em empate literal com Tarcísio de Freitas (Republicanos). Exatamente no mais improvável, aquele que exclui Lula e Bolsonaro, atores políticos que ocupam quase todos os espaços do momento. A informação que se tem é de que a situação alterou pouco o ânimo do próprio pedetista, ainda muito afetado pelos humilhantes 3,04% de votos em 2022 e consciente de que sua melhor performance diz respeito a um quadro difícil de ser pintado para a próxima disputa.
A pressa das redes sociais
Uma das diversões do momento é submeter a uma espécie de pesquisa histórica, basicamente utilizando-se de redes sociais, cada nome anunciado para gestão Evandro Leitão, especialmente em cargos de segundo e terceiro escalão. Muita confusão há aparecido, porque homônimos existem, e quem agir mais apressado, porque a pressão que vem costuma ser forte, arrisca-se a cometer um erro difícil de ser reparado posteriormente. Calma, é o que se pode recomendar para o momento.
Quem pergunta quer saber
A turma que chama o Lula de ex-condenado está pronta para se referir a Donald Trump como condenado a partir de agora, já que o futuro presidente dos Estados Unidos, acusado de falsificar registros financeiros relacionados a pagamentos feitos à ex-atriz pornô Stormy Daniels, teve sua sentença confirmada pelo juiz Juan Merchan no tribunal de Nova York?
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