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A democracia relativa de Trump e Bolsonaro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A democracia relativa de Trump e Bolsonaro

Ganhar e perder são dois lados de uma mesma moeda no ambiente democrático, portanto, exigem comportamento semelhante de respeito da parte de quem atua na política, especialmente na disputa de cargos públicos
Bolsonaro fez pedido para STF liberar seu passaporte para ele ir à posse de Donald Trump  (Foto: Sergio Lima/ Jim Watson / AFP)
Foto: Sergio Lima/ Jim Watson / AFP Bolsonaro fez pedido para STF liberar seu passaporte para ele ir à posse de Donald Trump

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Com a posse de Donald Trump consolidada nos Estados Unidos, após extensa programação que dura dias, vale refletir sobre o conceito de democracia - tema que ele às vezes faz parecer tão caro -, na perspectiva da reação à forma como cada um responde a uma derrota. Não há uma só palavra de dúvida do seu antecessor, Joe Biden, acerca da legitimidade da vitória de Trump, que também vivenciou uma transição marcada pela mais absoluta normalidade institucional, sem tensão de qualquer nível.

Ganhar e perder são dois lados de uma mesma moeda no ambiente democrático, portanto, exigem comportamento semelhante de respeito da parte de quem atua na política, especialmente na disputa de cargos públicos. É revelador o resultado de uma comparação que se faça com o que aconteceu quatro anos atrás nos Estados Unidos, quando Trump foi derrotado e não aceitou a realidade diante de si, alimentando maluquices que à época resultaram, no momento mais delicado, numa tentativa violenta de invasão do Capitólio, sede do parlamento do país, que deixou um rastro assustador de destruição, mortos e feridos.

Na linha de demarcar comportamentos como forma de entender os espíritos democráticos de cada um, lembremos, aqui no Brasil, como foi a transição de Michel Temer para Jair Bolsonaro, entre 2028 e 2019, marcada pela civilidade, com o governante de saída oferecendo todas as condições ao que chegava, apesar de ter sido um dos alvos preferenciais de seus ataques na campanha.

O contrário do que se deu entre 2022 e 2023, quando Jair Bolsonaro recusou-se a aceitar a derrota, cumpriu no rito de transição apenas aquilo que a lei impunha que fizesse e, pior, até ausentou-se do País no dia da posse para evitar o constrangimento (para ele) de transferir a faixa ao sucessor. Sem falar nos movimentos de bastidores, parte dos quais já revelados graças a uma investigação policial ainda em curso, que tinham como objetivo desconsiderar o resultado eleitoral e encontrar uma forma de permitir que seguisse no cargo. Apesar de derrotado nas urnas.

Trump e Bolsonaro, com suas atitudes, na vitória e na derrota, demonstram que o conceito de democracia para eles é relativo. É um valor a ser observado apenas quando o resultado favorece, justificando-se, em caso contrário, o uso de todos os instrumentos de deslegitimação, inclusive aqueles violentos.

O engraçado é que se aproveitando de um escorregão retórico no passado do adversário (talvez inimigo na sua compreensão) Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente, a relativização do conceito de democracia é uma das acusações mais recorrentes de Bolsonaro contra o líder petista.

Basta ver como cada um deles reagiu a resultados desfavoráveis para entender onde a ideia de convivência com o contrário e a divergência encontra menos espaço. Não é uma tarefa tão difícil.

Foto do Guálter George

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