Logo O POVO+
Olhei, Bolsonaro, e vi uma cara de preocupação
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Olhei, Bolsonaro, e vi uma cara de preocupação

Ninguém gosta de ser preso, diga-se. Porém, há situações em que encarar o risco demonstra-se uma forma de responder a uma alegada arbitrariedade com aquilo que alguns chamam de coragem dos justos
 Ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: TON MOLINA/ ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: TON MOLINA/ ESTADÃO CONTEÚDO Ex-presidente Jair Bolsonaro

“Olha para a minha cara, o que tu acha? Não tenho nenhuma preocupação, zero”.... Era assim que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentava transparecer, na tarde de ontem (terça-feira), uma tranquilidade que de verdade não tinha à espera de uma posição da Procuradoria Geral da República quanto à sua participação na tentativa de golpe de Estado que balançou o País entre os anos de 2022 e 2023.

A ideia de prisão apavora Bolsonaro e ele se mostra um “ator” com dotes artísticos insuficientes para esconder isso. Quem não lembra de sua busca meio assustada por proteção na embaixada da Hungria, cerca de um ano atrás, diante de uma simples boataria de que o ministro Alexandre de Moraes poderia decretar sua preventiva? Não parecia coisa de gente disposta a encarar a situação com dignidade e nada indica que o tempo lhe tenha dado desassombro sobre isso desde então.

Ninguém gosta de ser preso, diga-se. Porém, há situações em que encarar o risco demonstra-se uma forma de responder a uma alegada arbitrariedade com aquilo que alguns chamam de coragem dos justos. Ou seja, a convicção pessoal de inocência é suficiente para sustentar, moralmente, a ideia de admitir perder a própria liberdade em nome de uma verdade que o envolvido encarne consigo.

A PGR se posicionou, na mesma tarde em que o ex-presidente vendia sua calma de araque na conversa com jornalistas durante visita ao Congresso, e, para surpresa de ninguém, o denunciou ao STF como o líder da tentativa de golpe de Estado. Jair Bolsonaro puxa uma lista com 33 outros nomes e está a poucos passos de virar réu, dependendo para isso, agora, apenas de uma decisão em plenário da maioria da 1ª turma do STF.

Será ainda uma longa caminhada, em qualquer circunstância, até que aconteça (se acontecer) uma condenação definitiva e o temido recolhimento à prisão. Bolsonaro não gosta de ler e até se orgulha da falta de interesse pela prazerosa atividade cultural, mas poderia vencer um pouco essa resistência pessoal e pesquisar como seu adversário político - talvez até o considere inimigo - Luiz Inácio Lula da Silva, hoje novamente presidente, se portou enquanto era réu da Lava Jato, coisa de seis, sete anos atrás.

Lula defendeu-se, jurou inocência, questionou a competência do seu julgador e dos acusadores, enfim, brigou com as armas legais disponíveis, mesmo quando já estava na prisão, onde permaneceu por 580 dias e de onde saiu porque, exatamente, se recusou a abrir mão de lutar. Nunca vendeu tranquilidade, mas, também, nunca baixou a cabeça e até resistiu aos apelos e convites para se abrigar em embaixadas amigas, uma espécie de fuga e de confissão de culpa.

É tirar de lado as diferenças ideológicas, que são notórias, ignorar os próprios fundamentos diferentes das acusações contra e um e outro, e focar nas semelhanças dos dramas pessoais buscando a melhor forma de enfrentar o quadro fortemente adverso. Talvez funcione mais para Jair Bolsonaro do que tentar passar uma coragem que, tá na cara, não existe.

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?