
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A Argentina vivencia um fenômeno para o qual devemos estar atentos porque é real o risco de o seu cenário de hoje representar aquilo que podemos estar vivendo amanhã (no sentido de futuro) no Brasil. Aquilo que, lembrarão os mais velhos, no passado chamávamos de efeito Orloff.
Na noite da última segunda-feira o jornalista Roberto Navarro, notório simpático ao peronismo e que faz oposição aberta ao presidente Javier Milei, o que não o transforma em criminoso, longe disso, foi violentamente atacado num hotel de Buenos Aires e está sob acompanhamento médico com indicações de que pode enfrentar sequelas bastante graves.
O agressor do jornalista, que não tinha sido identificado até a hora em que este texto ganhava forma, certamente se sente estimulado pela postura que tem adotado o influente Javier Milei. Na véspera do episódio brutal, o presidente argentino usou seu perfil no X (ex-twitter), no último sábado, para atacar violentamente, de forma genérica, os profissionais de comunicação que criticam sua gestão e, avançando um pouco mais, sugerir que não se tem “odiado suficientemente estes sicários com credencial de supostos jornalistas. Se os conhecessem melhor os odiariam muito mais do que aos políticos”.
Será coincidência que dois dias depois do texto do trecho acima começar a circular nas redes sociais da figura política mais influente do país alguém se sentisse estimulado o suficiente para agir com violência diante de um jornalista que, no direito que lhe é garantido pela condição de cidadão e pelo exercício profissional que abraça, adota uma postura crítica em relação a um governante? Não houvesse aquela mensagem de Milei, haveria a agressão? Uma dúvida que entendo pertinente e sobre a qual a sociedade argentina deve refletir.
Eles para agora, nós, os brasileiros, diante do que pode nos esperar mais adiante. Milei e seus fanáticos apoiadores de alguma forma reproduzem o estilo de Jair Bolsonaro e uma boa parte dos seus apoiadores no estilo agressivo de lidar com os contrários, inclusive quando os localiza dentro da imprensa. Não aceitando até que existam, em situações determinadas, embora se deva dizer, em nosso favor, que experimentamos os quatro anos do governo anterior sob uma tensão administrada, com episódios tensos, com agressões verbais frequentes, mas sem registro de vias de fato.
Ponto para nós, embora precisemos refletir em relação ao futuro, porque há sinais de que uma nova experiência com aquele grupo que comandou o País entre 2019 e 2022 seria ainda mais tensa e, talvez, mais violenta. É só ver o que acontece atualmente nos Estados Unidos com a segunda passagem de Donald Trump pela Casa Branca, outro modelo político que pode nos servir de referência.
O que chama atenção, tanto no caso argentino como na experiência brasileira, é que Milei, Bolsonaro e os seus aliados fundamentam parte das fortes críticas aos oponentes de esquerda numa alegada ameaça que representariam à democracia e à liberdade. O silêncio do governante argentino diante do ataque sofrido por um crítico seu demonstra que a defesa enfática que faz do direito que tem cada um de expressar sua opinião está relacionada ao conteúdo do que é dito. Ou seja, não tem a ver com democracia ou liberdade, mas com ideologia.
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