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Ciro Gomes: passado vigoroso, presente errático e futuro incerto
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ciro Gomes: passado vigoroso, presente errático e futuro incerto

É falsa a ideia de que derrubar o grupo que hoje domina a política no Ceará basta como justificativa, para agora, de um movimento de articulação com quem até recentemente era tratado com termos do tipo "miliciano" ou "canalha"
Ciro Gomes cumprimenta o deputado estadual Alcides Fernandes (Foto: Guilherme Gonsalves/O POVO)
Foto: Guilherme Gonsalves/O POVO Ciro Gomes cumprimenta o deputado estadual Alcides Fernandes

Qualquer coisa que diga Ciro Gomes, considerando o peso que carrega pelo currículo político de ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-parlamentar, precisa ser levado a sério e com o nível de influência que esta trajetória conseguirá justificar. Agora, isso não confere às suas palavras a condição de verdade irrefutável, valendo adiantar que o próprio não reivindica tal interpretação para o que venha a dizer.

Em outras palavras, Ciro será sempre uma voz a considerar nas discussões políticas centrais do Ceará e do Brasil, pelo seu passado, mas apresenta um presente confuso nas suas opções e, assim, meio que coloca em xeque suas perspectivas de futuro. O movimento dos últimos dias, aparecendo de braços dados com grupos que até outro dia demonizava com o estilo cortante e definitivo que o caracteriza, expõe uma figura pública meio perdida e que se deixa dominar por um sentimento equivocado de que os fins podem justificar os meios.

É falsa a ideia de que derrubar o grupo que hoje domina a política no Ceará basta como justificativa, para agora, de um movimento de articulação liderado por Ciro Gomes com quem ele até recentemente definia utilizando-se de termos do tipo “miliciano”, “canalha”, com gente que na sua leitura de realidade se “alinhava com a bandidagem para implantar um clima de terror no Estado”. 

Coisa grave, pesada, mesmo considerando-se o estilo truculento que caracteriza o pedetista, e que exigiria dele, pelo menos, um pedido público e prévio de desculpas àqueles que foram os alvos de palavras tão duras antes e que agora, por um milagre que as eleições de 2026 talvez expliquem, aceita abraçar na condição de aliados. O que mudou? E quem?

É igualmente falso dizer que a união política, ampla e desideologizada como se desenha, parece necessária desde agora. Nada impede Ciro Gomes, com seu vasto leque de apoiadores e simpatizantes, de trabalhar pela criação no Ceará de um palanque próprio na perspectiva de primeiro turno, sem, ainda, a companhia de quem em outro momento definia quase como criminoso. Não necessariamente tendo-o como candidato, mas em torno de uma opção que saia de seu grupamento político, pulando à frente o nome do ex-prefeito Roberto Cláudio, pedetista como ele e que já se colocou à disposição.

Na mesma linha do discurso que tenta emplacar no plano nacional, de que há espaço para uma terceira via entre o lulismo e o bolsonarismo, poderia ele liberar um bloco que se apresente como alternativa à briga pelo poder no Ceará. Talvez até seja mais fácil no ambiente local implantar essa ideia de que a luta política não tem apenas dois lados.

Na perspectiva de um segundo turno seria mais fácil concordar com a tese de que o governo atual já deu o que tinha de dar e todas as forças contrárias precisam estar juntas para derrotar, na disputa eleitoral, quem represente a continuação. Imaginando-se que seja este o cenário, já que nenhuma regra impõe como inevitável que um candidato governista passe de uma fase à outra. O que determina isso é o voto, tão sagrado hoje quanto o era no longínquo tempo em que Ciro Gomes foi escolhido para governar o Ceará.

 

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