
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A política é dinâmica, diz um axioma antigo e desgastado que até hoje se utiliza como melhor definição para uma atividade que, no final das contas, busca apoio popular para conquistar o poder ou permanecer exercendo-o. Portanto, os movimentos de Ciro Gomes em direção a um grupo ao qual um dia se contrapôs e atacou com toda força de sua verve, e vice-versa, deve gerar espanto somente até um certo limite. Faz parte do jogo, por mais que também não se deva estranhar que cobranças sejam feitas.
Dos pontos que ficaram naquilo que se pode considerar realmente importante no barulhento ato de aparição dele como ator político influente no cenário local que se monta para 2026, ao participar de café da manhã na Assembleia organizado pelo correligionário pedetista Cláudio Pinho, a coluna pôs em destaque e buscou desdobrar em mais apurações a situação atual de suas relações com o irmão, e senador, Cid Ferreira Gomes, do PSB.
Parece claro, de antemão, que uma parte do objetivo do ex-candidato presidencial ao aceitar o convite - ou cavá-lo, quem sabe - já se pode entender como alcançado. O debate político cearense dos últimos dias esteve com sua figura colocada no centro da agenda, o que não acontecia há muito tempo diante da opção que fizera de ter atenção prioritária, quase única, para o quadro nacional. O Ceará político, aparentemente, voltou a constar no mapa do pedetista.
De qualquer forma, o caso envolvendo os dois irmãos é complexo e exige duas instâncias de análise. Uma no campo pessoal e familiar, no qual o próprio Ciro Gomes, na conversa com jornalistas, considera que o pior já passou e, do alto de um espírito de altruísmo que até então soube manter distante dos olhares públicos, ao ponto de nunca ter sido percebido, anuncia haver perdoado o irmão depois de, lá atrás, falar de uma sensação pessoal de ter sido esfaqueado pelas costas e outras metáforas do tipo. Coisa ainda de sua desastrosa campanha presidencial de 2022. Essa parte, a considerar isso, estaria zerada.
Não se tem como certeza que Cid Gomes fez o mesmo exercício de relevação quanto ao lado desta crise político-familiar em que aparece como vítima, mas fontes próximas a ambos confirmam que o fluxo de recados de um para o outro entrou numa certa normalidade. Depois de um tempo completamente interrompido, de silêncio absoluto, de um lado, e de gestos públicos não correspondidos de desejo de uma reaproximação, pelo outro.
Entre o ano passado e agora, segundo apurou a coluna, teriam ocorrido pelo menos dois encontros pessoais, intermediados por gente que é próxima e que se esforça para ver os dois líderes novamente ocupando o mesmo palanque eleitoral. A DR funcionaria com mais facilidade e rapidez, como tentativa de devolver a paz ao "lar" dos Ferreira Gomes, se estivessem em jogo apenas as questões de cunho pessoal, porém, acontece que há aspectos políticos por serem resolvidos e eles ainda não o foram.
Até longe disso, pode-se dizer, fazendo uso da própria entrevista de Ciro na ocasião do encontro com as oposições, incluindo uma boa representação do bolsonarismo cearense. O pedetista partiu para o ataque contra Cid ali mesmo, acusando-o de cumplicidade com a "tragédia" que, segundo sua compreensão, o Ceará está vivendo atualmente com o governo do PT e de aliados do senador, incluindo o próprio. É postura de quem parece ter perdoado alguém? Na minha forma de interpretar as coisas, não.
"Vejo, fria e geladamente, o senador Cid como conivente, como cúmplice dessa tragédia que está acontecendo no Estado""
Ciro Gomes, durante a conversa com os jornalistas à saída do encontro das oposições na Assembleia. Falando sobre o irmão que, no plano pessoal, ele diz ter perdoado
Depois de um começo tumultuado, marcado por desencontros que atribui em parte à ação de adversários políticos, o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos), de Juazeiro do Norte, considera que a relação com o governo estadual entrou nos eixos. Os encontros com o secretário Nelson Martins, da Articulação Política, têm seguido uma agenda adequada e os contatos pessoais com Elmano de Freitas (PT) resultaram em conversas positivas, mesmo que ainda se precise dar um tempo para que os resultados concretos apareçam. Convicto na sua decisão de apoiar quem vier a ser o candidato que a oposição apresentar, o que lhe dá certa tranquilidade para expressar a opinião, Glêdson elogia o governador petista, a quem define como pessoa "sincera" e merecedor de sua confiança como interlocutor.
A ex-governadora Izolda Cela, distante das confusões locais, comemorou aniversário, sexta-feira, na Califórnia, onde se encontra em temporada de estudos, na Universidade de Stanford. Mantém-se informada do que acontece, é até consultada para algumas situações e, na volta ao Ceará programada para julho próximo, já deve ser inserida nas articulações. Sem ideia de candidatura, mas, para o grupo político do qual faz parte, como uma reserva técnica muito respeitada e ouvida. A história da vaga aberta de conselheira do TCE, que lhe estaria destinada e terminou entregue à ex-primeira dama Onélia Santana, ainda não foi de todo digerida, mas já dói bem menos do que até um tempo atrás.
A coisa tá confusa, em termos de Ceará, nas conversas que devem levar à fusão entre PSDB e Podemos. Os tucanos alegam aspectos históricos para tensionar no sentido de o novo partido engrossar o caldo da oposição ao governo atual do Ceará, lembrando que sempre estiveram do lado contrário àquele do PT e assim querem permanecer. Acontece que a turma do Podemos, ao contrário, é base aliada e não tem qualquer intenção de mudar de lado. Até por isso, acredita-se, a presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, cancelou de última hora viagem marcada a Fortaleza para sexta-feira, onde cumpriria agenda com metade do tempo dedicado à oposição e outra metade ao governo. Incluindo encontro com Elmano de Freitas.
Quanto às especulações de que a sigla a ser criada com a fusão entre os dois partidos - a ser identificada inicialmente na forma estranha de PSDB Podemos - pode receber Ciro Gomes como novo filiado, ninguém está sabendo de nada. O que é fato é que ele segue muito próximo de Tasso Jereissati, os dois intensificam conversas desde o ano passado, após um tempo meio distantes, e, sim, uma ideia de voltarem a abrigar o mesmo ambiente partidário de vez em quando entra nas confabulações. O que se tem de concreto mesmo é uma manifestação do prefeito de Massapê, Osires Pontes, que segue presidente da executiva estadual, na qual elogia Ciro e sugere sua entrada no novo partido para ser candidato ao governo do Ceará. Por enquanto é só o que há.
O senador Eduardo Girão (Novo) deve ser o próximo convidado do café que as oposições têm organizado na Assembleia às terças-feiras. Vai lá confirmar que sua candidatura ao governo do Estado não tem volta e com disposição para resistir a qualquer apelo, caso apareça, de desistência em nome de uma união total por uma candidatura que represente todos os que querem a derrota do atual governo. Dificuldades objetivas que terá pela frente, como a falta de tempo de rádio e TV no horário eleitoral, não o assustam, acreditando que o espaço das redes sociais deve ser suficiente para fazer sua mensagem chegar ao eleitor. É um homem de fé.
Jerônimo Rodrigues, governador petista da Bahia, fecha a semana comemorando um feito político importante ao conseguir a adesão do PDT estadual à sua base aliada. O mais animador, para ele, é que tudo isso aconteceu em meio à polêmica que criou com a infeliz declaração, quando participava de ato oficial no interior, sugerindo que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores mereciam "ir para vala". Uma baixaria que não precisa de interpretação e, inclusive, que exige do PT uma crítica pública e forte ao filiado. Pois é, mas os pedetistas locais ignoraram a confusão do momento e anunciaram, em meio a ela, estar deixando a aliança oposicionista liderada por Antonio Carlos Magalhães, do União Brasil, para reforçar o time do governo. Assim as pedras se movem na política.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.