Logo O POVO+
Doutora Cléa
Foto de Hélio Leitão
clique para exibir bio do colunista

Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Doutora Cléa

Natural de Guaporé, na Serra Gaúcha, já desde a juventude Cléa Carpi formou nas fileiras das lutas pela democracia com justiça social de seu tempo. Tempos, vale frisar, de muito tímida participação feminina nos espaços políticos
Tipo Opinião

Milito nas lutas da advocacia desde sempre. Advogado por vocação, procurei, em mais de 30 anos de exercício profissional, debater e de algum modo participar dos processos de decisão sobre os rumos da advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, uma e outra essenciais à afirmação dos direitos e garantias fundamentais, atores indispensáveis na busca da plenitude democrática em país de tantas desigualdades. Fazendo política institucional, disputei eleições, ganhei, perdi. Nunca arredei o pé da arena em que se trava o bom debate.

Fui presidente da secção cearense da OAB ainda jovem, aos 35 anos de idade, havendo sido antes seu conselheiro e integrado como membro e presidente suas comissões. Hoje desempenho meu segundo mandato como Conselheiro Federal. Muito aprendi em todo esse tempo, e alguma contribuição penso ter dado.

Ao longo dessa trajetória pude travar conhecimento e privar da amizade de pessoas extraordinárias, fontes de inspiração por seu compromisso com a causa da justiça e vontade inquebrantável de seguir lutando, mesmo em ambiente adverso. O rol é extenso. Quero aqui me deter sobre uma delas: Cléa Carpi, a estrela da IV Conferência Nacional da Mulher Advogada, realizada neste mês de março, em Curitiba.

Natural de Guaporé, na Serra Gaúcha, já desde a juventude formou nas fileiras das lutas pela democracia com justiça social de seu tempo. Tempos, vale frisar, de muito tímida participação feminina nos espaços políticos. Foi a primeira mulher a presidir o Centro Acadêmico André da Rocha, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e a primeira mulher a presidir a Ordem dos Advogados do Brasil naquele estado. Única mulher até hoje a quem se outorgou a Medalha Rui Barbosa, a mais alta distinção honorífica do Conselho Federal da OAB, cuja diretoria integrou.

Animada pelos elevados postulados do humanismo cristão - é católica de convicções arraigadas, não houve luta democrática da história recente deste país em que Cléa não tomasse parte. E partido, permitam-me parafrasear Antônio Gramsci. Lá estava ela nas lutas pela redemocratização pós-1964, pela anistia, contra as prisões políticas, a tortura e a supressão das liberdades, por eleições diretas, pelo aperfeiçoamento do sistema de justiça. Ideais, arrisco dizer sem nada lhe perguntar, que herdou do pai, Leônida Carpi, imigrante italiano de têmpera forjada nas lutas sociais da Europa dos começos do século XX.

Internacionalista, participou, fazendo ouvir a sua voz a um tempo doce e vibrante, de importantes foros mundiais, como as Conferências da Organização das Nações Unidas de Beijing, Instambul e Cairo; de sessões da Organização Internacional do Trabalho.

Impressiona ouvi-la citar Anita Garibaldi, uma de suas referências de luta, a heroína da Revolução Farroupilha e da unificação da Itália: "Não tenha medo de viver, de correr atrás dos sonhos. Tenha medo de ficar parada."

Devo confessar, no entanto, que prefiro quando ela olha a gente nos olhos e brada, do alto de seus 87 anos, com o seu inconfundível acento gaúcho: "Eu gosto mesmo é de uma boa peleia".

 

Foto do Hélio Leitão

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?