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Relicário criminal 11
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Relicário criminal 11

Aventurei-me por um tempo a resgatar casos criminais célebres, prenhes de tragédia e humanidade, série que batizei "Relicário criminal". Cometi dez artigos sob esse título, diversos os episódios narrados. Parei. As fontes são escassas, árdua a pesquisa, exíguo o tempo do escriba
Tipo Opinião

Habituado à escrita forense, estilo temperado na forja da objetividade das petições e arrazoados judiciários, afinal as causas já estão postas e o debate pré-definido, vejo-me sempre na contingência, tão agradável quanto angustiante, de encontrar tema sobre que tratar em meus artigos publicados quinzenalmente neste espaço. Se serve de algum consolo, é certo que o mal acomete a muitos que escrevem, não sendo privilégio meu, disso fiquei sabendo.

Aventurei-me por um tempo a resgatar casos criminais célebres, prenhes de tragédia e humanidade, série que batizei RELICÁRIO CRIMINAL. Cometi dez artigos sob esse título, diversos os episódios narrados. Parei. As fontes são escassas, árdua a pesquisa, exíguo o tempo do escriba.

Retomo o tema hoje, já que me caiu ao colo uma história saborosa, que remonta ao Aracati dos anos 1970, envolvendo um personagem pitoresco e então bem conhecido por aquelas bandas. Figura muito querida, Inácio já havia dado com os costados na cadeia local, onde ficou por boa temporada. Por envolvimento em um homicídio, ao que apurei.

Cumprida a pena, que não foi pequena, Inácio passou a viver de fazer mandados, prestar pequenos favores em troca de gorjetas menores ainda. Prestativo e falante, voz roufenha, mexeriqueiro como ele só, Inácio fez relações com as personalidades gradas da cidade, aceito em seus círculos mais restritos.

Em um dia perdido da década de setenta do século passado, estavam os grandes da cidade reunidos à volta de uma mesa, para jogar conversa fora, confraternização regada a cerveja servida em boa temperatura, quando Inácio chega, espírito já alterado pelo excesso de álcool. Intromete-se na conversa dos amigos, ignora os insistentes pedidos de trégua e pacientes admoestações, torra a paciência de todos ali.

Presente à cena, o saudoso Luis Gonzaga Batista Rodrigues, então Promotor de Justiça, homem espirituoso, de muitas leituras que, jovem advogado, dando os primeiros passos na profissão, conheci. Doutor Luis encontra solução não propriamente jurídica para se desembaraçar do incômodo e inconveniente Inácio. Toma de caneta e papel, escreve e subscreve um curto bilhete, endereçado ao Tenente Brasil, então delegado de polícia da cidade, vazado o texto nos seguintes termos: "Recolha imediatamente ao xadrez o portador desta." Bem-mandado, o solícito Inácio parte em marcha batida ao encontro do destinatário, sem que houvesse lido a missiva, claro, assim recomendam as regras da boa educação. Determinação recebida e prontamente cumprida pelo diligente agente das forças de segurança, Inácio só se viu em liberdade no dia seguinte, curado da carraspana.

O episódio me foi contado pelo amigo Luis Gonzaga Batista Júnior, filho, como o nome já deixa entrever, do autor da ordem de prisão. Júnior Batista, como é mais conhecido, atualmente preside a subseção do Litoral Leste da Ordem dos Advogados do Brasil, onde vem desenvolvendo um grande trabalho. Ele jurou de pés juntos que é tudo verdade e me autorizou a passar a história para frente. Estou vendendo o peixe pelo preço que comprei.

 

Foto do Hélio Leitão

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