Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados
De surpresa, sem que pudesse esboçar defesa, Mário da Silveira foi abatido a tiros. Cinco tiros disparados por um certo Carlos Gondim, saídos de seu revólver Smith & Wesson. Todos acertaram o alvo. Fatalmente
Fui encontrar no universo cultural da provinciana Fortaleza dos começos do século XX caso digno de figurar nesse "Relicário", que chega hoje a sua duodécima edição. Mais uma história de sangue e dores que tanto interesse desperta, talvez por traduzir a mais pura essência humana, em sua fragilidade e pequenez.
Conto desta vez a história de Mário da Silveira, um jovem poeta e escritor, nascido por aqui quase na virada do século XIX para o XX, a 17 de setembro de 1899. Filho de juiz, era bem formado, estudou no Instituto de Humanidades. Dado aos estudos clássicos, tornou-se helenista entusiasmado e de mão cheia. Já aos dezesseis anos havia publicado, pela Tipografia dos Irmãos Jatahy, o livro de poesias "No Silêncio da Noite: fragmentos", obra bem recebida nos círculos literários desta capital. Andou palestrando na Casa de Juvenal Galeno, onde fez boa figura. Teve ainda passagem pelo jornal "A Pátria", do Rio de Janeiro, fazendo as vezes de secretário de ninguém menos que João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho, o célebre João do Rio, oportunidade em que trava conhecimento com grandes intelectuais da época, como Ronald de Carvalho e Raul de Leoni.
Um de seus poemas, "Laus Purissimae", de 1921, é tido até hoje como a obra precursora da poesia modernista no Ceará, com seus versos livres, assimétricos. Numa palavra, o literato prometia - e muito, parecia ter grande futuro no mundo das letras. Não fosse uma pedra no caminho, como viria a versejar um outro poeta, décadas depois.
Era o dia 22 de julho deste mesmo ano de 1921, uma sexta-feira, noite alta e estrelada. O nosso personagem havia deixado o Rio de Janeiro para ter aqui em sua Fortaleza natal. Embora abstêmio, era um boêmio de quatro costados, incorrigível, como de resto o eram muitos intelectuais de sua geração. Homem de amores fáceis, um fraco por rabos de saia. Voltando de uma de suas usuais incursões pela noite da cidade, sobraçando sua bengala com castão de prata, da qual nunca se separava, resolve sentar-se a um dos bancos da Praça do Ferreira, quiça em busca de inspiração para algum poema. Afinal a noite é dos poetas, já se disse e eu repito aqui.
De surpresa, sem que pudesse esboçar defesa, Mário é abatido a tiros. Cinco tiros disparados por um certo Carlos Gondim, saídos de seu revólver Smith & Wesson. Todos acertaram o alvo. Fatalmente. Questões mal resolvidas de amor e paixão teriam sido a causa do bárbaro crime, conforme se apurou depois.
Por obra de amigos, tornou-se o poeta patrono da Cadeira 28 da Academia Cearense de Letras e de sua autoria se publicou ainda "Coroa de Rosas e Espinhos", outro livro de poemas. Nele há versos que parecem prenunciar seu fim trágico: "Sedenta de ódio, cega de despeito/ Nesta penosa e transitória lida/ A alma dos homens, pérfida e atrevida /Perde às cousas mais nobre o respeito."
O assassino de Mário da Silveira, a respeito de quem consegui pouquíssimas e vagas referências, empreendeu fuga após o crime. Logo foi preso, cumprindo pena na Casa de Detenção, onde morreu, anos depois. Completamente louco.
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