Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados
Carlos Gondim não era pessoa de fácil trato, disseram e escreveram os que com ele tiveram convivência. De gênio irascível e impetuoso, era ademais um beberrão inveterado, notívago de carteirinha
Carlos Gondim foi um poeta cearense, da escola de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, a chamada tríade parnasiana. Nasceu a 6 de dezembro de 1884 ou 1885 ou 1886, não se sabe ao certo. O que se tem por certo, isto sim, é que o vate nasceu no Maciço de Baturité, na Vila de Coité, atualmente município de Aratuba. Filho de Vicente Gondim e Maria Barbosa Gondim, escapava ao perfil dos literatas destes e daqueles tempos por não ter mais que a instrução primária. Autodidata, desenvolveu o gosto pela literatura clássica, por história, pelas mitologias e ciências - uma formação bem própria aos poetas parnasianos, com seu acendrado racionalismo, uma herança das crenças e ideais do cientificismo que imperavam na Europa já desde a segunda metade do século XIX, suas referências à antiguidade grega e o rigor formal dos que faziam da pena um cinzel, como comparou Bilac no célebre poema "Profissão de Fé". Há mesmo quem o ponha no panteão dos grandes intelectuais cearenses de sua geração. A jornalista e escritora Alba Valdez, pseudônimo de Maria Rodrigues Peixe, a primeira mulher a ter uma cadeira na Academia Cearense de Letras, o tinha à conta de "...um alto poeta, dos maiores do Ceará...", a quem chamou em artigo de "poeta de mísero destino".
Era autor de uma poesia rebuscada. Escrevia muito, para muito poucos, leitura apenas para iniciados e cultores das letras. Passem os olhos sobre o poema "A Tortura do Artista", a primeira de suas grandes obras, e verão que tenho razão - uma linguagem nem sempre fácil tornada poesia pelo esmero com que são construídos os versos em rima perfeita, formando um conjunto de estrofes exuberantes.
O poeta não era pessoa de fácil trato, disseram e escreveram os que com ele tiveram convivência. De gênio irascível e impetuoso, era ademais um beberrão inveterado, notívago de carteirinha. Aqui e acolá suas carraspanas terminavam em brigas e confusões. Numa dessas bebedeiras, um sujeito lhe ofendeu os brios, a honra de sua família. Transtornado, o poeta crava-lhe um punhal no peito, matando-o. Julgado, foi condenado à perda da liberdade. Passou alguns longos anos na cadeia, período em que escreveu "Poemas do Cárcere", publicado em 1923, obra tocante em que relata em verso os sofrimentos e angústias da vida em confinamento.
Quando deixa a prisão Carlos Gondim resolve retirar-se, morar um pouco mais afastado do centro da pequena Fortaleza de então, fixando residência lá para a bandas da Parangaba, naquela época uma lonjura. Foi tangido talvez pela vergonha do crime que cometera. E era para lá que ele ia, naquela noite alta do dia 11 de março de 1930, quando foi abatido a golpe de punhal por pessoa de quem jamais se soube a identidade. Morre o poeta e segue sem resposta a sua indagação, feita já na primeira estrofe do poema "DÚVIDA" - "Perquiro ante a algidez de um túmulo silente/o undiscovered country - o mistério do nada / Tudo se acabará numa cova fechada / Irrevogavelmente?"
O "Relicário" hoje termina com poesia.
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