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Relicário criminal 15
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Relicário criminal 15

Sou um tipo estranho, daqueles que têm saudades de tempos e histórias que não viveu. Quem acompanha quinzenalmente estas "mal traçadas linhas" já deve ter fortes desconfianças dessa marca de minha personalidade
Tipo Opinião

Sou um saudosista incurável. E de tipo um tanto estranho, daqueles que têm saudades de tempos e histórias que não viveu. Quem acompanha quinzenalmente estas "mal traçadas linhas", como diria o grande intelectual e escritor cearense Airton Monte, que por anos colaborou com este jornal, já deve ter fortes desconfianças dessa marca de minha personalidade. E quem me conhece de perto dela tem certeza.

Acompanhando as redes sociais do memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, esbarrei com um caso criminal que bem vale um "Relicário". E olhem que já vamos em sua décima quinta edição. Pesquisei um pouco, viajei no tempo, e agora passo a contar sobre o assassínio de José de Mendonça Nogueira, jovem de 22 anos, filho do professor Joaquim Nogueira, proprietário do Instituto de Humanidades, acreditada instituição de ensino da pequena e bucólica Fortaleza dos anos 1914.

Uma querela se arrastava desde dois anos antes entre José e um certo Sixto Bivar. O primeiro, dono da Tipografia Escolar, era credor do segundo, representante da empresa Firma Comercial H.Barroso, da quantia de duzentos mil reis. Não era pouco dinheiro. Sixto há muito vinha protelando o pagamento e por último argumentava que o austero professor Nogueira também lhe devia, o que justificaria os atrasos.

Alguns dias antes do assassinato, tiveram José e Sixto um encontro casual que culminou com imprecações recíprocas, quase derivando para a troca de sopapos. Sixto, no calor do embate, chama o respeitabilíssimo professor Nogueira de ladrão. Foi o gatilho que fez eclodir a tragédia. José amava o pai, jamais perdoaria a ofensa.

Alguns dias após, numa tarde do dia 28 de outubro de 1914, deu-se um novo encontro, um outro confronto. Desta vez Sixto saca de uma arma e tenta alvejar José. Não consegue. Ambos vão parar em uma delegacia de polícia, localizada na Praça do Ferreira, o coração pulsante da cidade. Logo são liberados pelo sonolento e displicente escrivão Olegário, convencido de que o incidente chegaria a bom termo. Tinha boas razões para crer nisso, afinal os contendores pertenciam a famílias gradas da cidade, pessoas de quem se espera a solução pacífica dos conflitos. À noite do mesmo dia, contrariando os apelos de sua mãe Olívia - afinal naquele dia aniversariava o professor Joaquim Nogueira, José deixa sua residência e sai pela cidade, havia uma festa no Clube dos Diários. Acaba morto a tiros, seis tiros, por Sixto, na calçada do clube.

A caminho de casa, o professor Joaquim Nogueira recebe a notícia da morte trágica de seu único filho. Nunca se recompôs da perda sofrida no dia mesmo em que completava 48 anos de idade. Sixto foi preso, mas, submetido a julgamento pelo tribunal do Júri, acabou absolvido. Dizem que o fato de que Hermínio Barroso, o proprietário da Firma Comercial H.Barroso em que Sixto trabalhara, fosse à época do julgamento secretário da Fazenda do governo do dia teria desequilibrado a balança da justiça em favor do homicida. Sabe-se lá se isso é verdade, ninguém segura a língua do povo.

 

Foto do Hélio Leitão

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