Logo O POVO+
Em memória de Marcello
Foto de Hélio Leitão
clique para exibir bio do colunista

Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Em memória de Marcello

Alagoano de Maceió, advogado de intensa e vitoriosa militância, exerceu o magistério como professor de direito civil da Universidade Federal de Alagoas e da Universidade de Brasília, tendo trilhado importante trajetória acadêmica

Desde muito cedo, ainda jovem advogado, militei na política classista. Aí já vão mais de trinta anos. Presidi a seção cearense da Ordem dos Advogados do Brasil por dois triênios - anos 2004-2006 e 2007-2009. Mais recentemente cumpri dois mandatos consecutivos de Conselheiro Federal, na representação da advocacia de meu estado. Conheço, pois, um pouco da história da instituição, para sua construção tendo de alguma forma concorrido, conquanto muito, muito modestamente.

Ao longo desta minha já longa caminhada no front da política institucional, mais da metade de meus cinquenta e seis anos já vividos, tive o privilégio de travar conhecimento e mesmo convívio com muitas das maiores expressões da advocacia brasileira e seus grandes líderes. Entre tantos desponta incontestada a figura de Marcello Lavènere Machado Neto, protagonista de um dos mais marcantes momentos da história recente da república.

Corria o ano de 1992 quando Marcello, então presidente do Conselho Federal da OAB, ao lado de outro gigante, Barbosa Lima Sobrinho, que presidia a ABI-Associação Brasileira de Imprensa, fazendo eco aos anseios populares, subscrevem e apresentam à Câmara dos Deputados o pedido de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, um seu conterrâneo envolvido em graves e comprovadas denúncias de corrupção e malbaratamento dos dinheiros públicos.

Era a culminância de um processo de amadurecimento democrático gestado no seio da sociedade brasileira, que vinha de eleger seu primeiro presidente em eleições livres e diretas, após os anos de chumbo da ditadura militar.

Dado seguimento ao pedido, deu-se finalmente a deposição, pelas vias constitucionais, registre-se sempre, de Fernando Collor, o farsante que se travestia de combatente da corrupção. Assume o vice-presidente Itamar Franco, o mineiro de Juiz de Fora, cumprindo o que restou do mandato presidencial, até o seu término.

Alagoano de Maceió, advogado de intensa e vitoriosa militância, exerceu o magistério como professor de direito civil da Universidade Federal de Alagoas e da Universidade de Brasília, tendo trilhado importante trajetória acadêmica. Mas decerto foi como presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que entrou definitivamente para a história deste país. Não sem razão.

Com a morte de Marcello, em 12 de janeiro último, perdem a advocacia e a luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil. Para o atual presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti, "... quem partiu foi um dos imprescindíveis da advocacia. Um homem com alma generosa e solidária". Imprescindibilidade na acepção brechtiana, acrescento eu, daqueles que lutaram por toda a vida, como escreveu o extraordinário dramaturgo e romancista alemão em seu conhecido poema "Os que lutam".

Ainda consigo ver aquele homem muito alto, de barba branca cerrada, como tantas vezes vi pelos corredores do prédio em que funciona o Conselho Federal, andando com aquele seu jeito meio desengonçado, sempre apressado, agora em marcha batida rumo da eternidade.

Foto do Hélio Leitão

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?