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Manezinho do Bispo
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Manezinho do Bispo

Já disse aqui como por vezes é difícil encontrar tema sobre que escrever. A imaginação nem sempre nos socorre a tempo. Contribuir quinzenalmente com artigos cobra, pois, seu preço. Aqui e acolá amigos nos dão sugestões, sempre bem-vindas. Conto entre os meus leitores o professor Evaldo Lima, apaixonado como eu pela história da cidade. Ele, amigo e sempre generoso, diz gostar do que escrevo e elogiou o último dos artigos aqui publicados, aquele em que tratei do icônico Palácio do Bispo. Disse ter sentido falta de referências a Manezinho do Bispo, personalidade que marcou época na Fortaleza daqueles começos do século XX.

Tem ele razão de sobra. Não dá para falar do palácio onde o prefeito hoje mantém o seu gabinete sem falar de Manuel Cavalcante Rocha, por muito anos porteiro da residência episcopal, daí o apelido que ganhou. Vamos a ele. Figura um tanto folclórica, tipo popular, meio amalucado, nasceu em 12 de maio de 1856, em Pernambuco, não tendo eu encontrado registro de como veio dar por estas bandas.

Um misto de porteiro e mordomo, dizem que caiu nas graças do bispo Dom Joaquim José Vieira, de quem se tornou braço direito. Vestindo sempre um surrado paletó que lhe apertava o corpo, notabilizava-se por suas reflexões e ditos espirituosos de pouco ou nenhum sentido, verdadeiras pérolas do nonsense.

Por volta dos anos 1918, Manezinho resolve dar-se às letras, contribuindo regularmente com o jornal Correio do Ceará, de Álvaro da Cunha Mendes, empresário do ramo gráfico que abria as páginas de seu jornal para colaboração dos leitores. Ganha ainda mais e merecida notoriedade. Antes ainda já havia publicado o livro "Máximas e Pensamentos" e "Astronomia Popular". Algumas de suas frases dão bem a nota do que lhe andava pela cabeça confusa. Aqui vai uma delas, lembrada por Evaldo Lima em texto que publicou sobre o nosso personagem de hoje: "O bacharel pobre que casa com uma moça pobre dá um tiro com a pistola do passado nos miolos do futuro". Em um surto de romântico desiludido, sentenciou que "...amar sem ser amado é como correr atrás de um trem e perder...", e, na terra dos verdes mares bravios de José de Alencar, perdeu-se em uma elucubração vazia quanto a um mar sem sal: "Se o mar fosse insosso seria desengraçado e nós não teríamos o bondoso sal com que temperamos as comidas".

"M.C. Rocha - Biografia de sua ex-mãe", cujo subtítulo era "Acompanhada de um passatempo", teria sido sua obra de mais bem acolhida pelo público. Manezinho era um filho muito amoroso e a perda de sua mãe, que ele no livro alça à condição de "ex", lhe marcaria a fundamente a alma.

Com suas esquisitices e o gosto de escrever, Manezinho, tão caro aos bispos, inscreveu-se definitivamente na galeria dos personagens que fazem o folclore da bucólica Fortaleza de outros tempos. Acaso queiram conhecer um pouco mais de sua vida e obra, recomendo a leitura de "O ideário de manezinho do Bispo - Estudos de Afeição e Louvação", de autoria do jornalista e escritor Eduardo Campos. Lá tem tudo. n

 

Foto do Hélio Leitão

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