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Histórias sobre tudo
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Histórias sobre tudo

Há pouco dias reencontrei Roberto Busato e, entre boas gargalhadas, rememoramos o episódio registrado em Fortaleza que entrou, definitivamente, para o anedotário da OAB

O prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Marquez, genial autor de Cem Anos de Solidão, uma das obras-primas da literatura universal, disse certa vez que um dos sinais de que a idade havia chegado era o fato de se ter histórias sobre tudo. E não hesitar em contá-las à primeira oportunidade que se apresentasse, acrescento eu. Ao que parece estou nessa.

Jovem de trinta e cinco anos, tendo sido presidente da seção cearense por dois mandatos, eleito e reeleito, anos 2004 a 2009, vivi algumas situações inusitadas, colecionei algumas boas histórias e casos pitorescos. Peço licença para contar um deles, sem aumentar nem inventar, do jeito mesmo em que as coisas se deram.

O ano era 2004. O mês, abril. Começo de mandato, estava eu tomado do entusiasmo próprio dos começos de gestão. Havia articulado a visita do então presidente do Conselho Federal da OAB, Roberto Antônio Busato. Seria um momento alto da gestão que se iniciava. Havíamos preparado, com cuidado e esmero, uma agenda intensa de eventos e atividades para os próximos três dias.

Chegado o momento, fomos em grande comitiva ao aeroporto recepcionar o visitante ilustre. Era a hospitalidade nordestina em estado puro que ali se revelava, alegre e ruidosa. Se a memória não me trai, a chegada estava marcada para algo em torno das nove horas da noite. Mais que pontuais, chegamos com boa antecedência.

Acontece que, embora tenhamos esperado por cinco longas horas, o nosso presidente Busato não deu o ar da sua graça, para desapontamento de todos. Fomos embora. Já me agoniava ao pensar que teríamos que desmobilizar os eventos dos dias seguintes, e encontrar uma boa explicação para dar à advocacia cearense. Foi uma noite mal dormida.

No outro dia, logo cedo, as coisas se esclareceram. Para melhor. Vejam só o que sucedeu. Esperávamos pelo conviva no setor de desembarque doméstico, afinal provinha ele de Brasília. Sabe-se lá por quais cargas d'água (adoro essa expressão), o desembarque se deu pelo setor internacional, subtraindo o esperado bastonário à nossa calorosa acolhida.

Seria só um desencontro não houvesse o jornalista Irineu Tamanini, assessor de imprensa do Conselho Federal da OAB, que acompanhava Busato na visita, cometido uma grave inconfidência, logo tornada piada. Contou-nos ele que Busato, quando no avião, a caminho de Fortaleza, falava andar meio cansado por aqueles dias, consequência de uma agenda carregada. Em tom de lamento e sem esconder o enfado, dizia ter certeza de que haveria uma multidão à sua espera, que iriam levá-lo para jantar, não lhe dariam sossego nem paz. E tudo o que ele queria era apenas uma boa reparadora noite de sono.

Grande foi a surpresa de ambos quando, uma vez desembarcados, não encontraram uma alma sequer a esperá-los. Tamanini, gozador emérito, não resistiu e fuzilou, sem dó nem piedade: "Busato, tu tens um imenso prestígio no Ceará!". Tomaram um táxi e rumaram para o hotel. Sozinhos.

Há pouco dias reencontrei Busato e, entre boas gargalhadas, rememoramos o episódio, que entrou definitivamente para o anedotário da OAB.

 

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