Logo O POVO+
Barbárie no IJF oferece prévia das eleições em Fortaleza
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Barbárie no IJF oferece prévia das eleições em Fortaleza

Mesmo o traço de crueldade contido no episódio não foi suficiente para dissuadir os gestores de chafurdarem na litigância eleitoreira mais comezinha
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,23.04.2024: Assassinato no IJF. (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,23.04.2024: Assassinato no IJF.

Que a segurança pública seja um tema politizado, sobretudo em ano eleitoral e em meio à ação de facções criminosas e ao risco de interferência no pleito, nisso não há qualquer espanto.

O alarmante é ver como um crime bárbaro, tal como o desta terça-feira (23), rápida e imprudentemente se converteu em munição entre os grupos em disputa, mobilizando todos os pré-candidatos ao Paço em 2024.

Do prefeito José Sarto (PDT) ao presidente da Assembleia Evandro Leitão (PT), passando por Capitão Wagner (União Brasil) e André Fernandes (PL), os principais nomes que estão postos para concorrer ao Executivo municipal se manifestaram sobre o assassinato de um funcionário do IJF nas dependências do hospital.

Mesmo o traço de crueldade contido no episódio não foi suficiente para dissuadir os gestores de chafurdarem na litigância eleitoreira mais comezinha, acusando-se e apontando dedos uns aos outros, quando o que estava em jogo era mais urgente: entender como algo do tipo se dava na maior unidade hospitalar do estado, em horário de grande fluxo e com corredores cheios, como é de praxe.

É péssimo indicativo do que vem pela frente, quando esses mesmos personagens devem medir forças pelo voto do fortalezense, com promessas em torno de saúde e segurança, principalmente.

Os dois temas, aliás, convergem no episódio do IJF, centro aonde acorrem acidentados de todo o estado, mas cuja vulnerabilidade, por falha compartilhada, abre essas brechas que tornam possível o que se viu agora.

Ora em termos mais duros, ora não, Governo e Prefeitura vêm duelando publicamente sobre assuntos diversos, a exemplo da passagem de ônibus, da taxa do lixo e das obras na Ponte dos Ingleses e do Acquario Ceará. Parte é “jogo jogado”, como se diz no jargão, ou seja, é normal numa peleja de forças contrárias que competem pelo poder.

Não se deve tolerar, contudo, que a morte, ainda por cima nessas circunstâncias, seja tratada como mero tópico de campanha, reduzida a um ativo político a ser explorado discursivamente por um lado ou por outro a fim de maximizar o desgaste do adversário, diminuída no que tem de gravidade resultante de ato de selvageria.

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?