Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Há inegavelmente uma disputa pelo domínio da retórica conservadora quando se trata da segurança pública. Na última segunda-feira, 3, o governador Elmano de Freitas (PT) prometeu "caçar bandidos". Menos de 48 horas depois, o prefeito José Sarto (PDT) apresentou sua resposta ao petista: armar a Guarda Municipal. Em vídeo com produção sofisticada divulgado ontem, o gestor ensaiou até slogan: "Se o Governo do Estado não é capaz de fazer o mínimo, a Prefeitura de Fortaleza vai fazer o máximo contra a violência" – na peça audiovisual, Sarto diz textualmente (dá para notar que está lendo) que "a Prefeitura de Fortaleza vai fazer tudo que estiver ao seu alcance", mas o sentido é o mesmo. O que interessa é entender que se trata de um lance de perspicácia de Sarto com um duplo alvo no tabuleiro.
Impactos à direita e à esquerda
A medida, sempre discutida mas nunca implementada, tem potencial para roubar votos à direita e desarmar candidatos à esquerda. Afinal, o que dirá Evandro Leitão (PT) num debate sobre o tema? Que, uma vez eleito, deve revogar o armamento da GM? Não é como se a mudança de estatuto da Guarda fosse uma espécie de taxa do lixo, antipática e sem resultado efetivo para a maioria dos fortalezenses. Para assegurar que vai desfazer o que o prefeito promete que fará, o candidato do bloco "camilista" terá de apresentar minimamente um plano de segurança para Fortaleza, e não apenas recusar uma Guarda equipada com arma de fogo.
Campanha na rua
Sob qualquer ângulo, a peça de Sarto foi de campanha, convenhamos – talvez a mais bem executada até agora pela equipe do prefeito. Discurso ensaiado e inconvincente em alguns pontos, é verdade, mas com alguma elaboração, uma luz diferenciada, trilha, câmera passeando em grua pela cena e focalizando detalhes (um punho cerrado do agente, por exemplo, além de todo o rito de preparação para a guerra, com urros e frases de motivação). Produto embalado com uma estética meio "Tropa de elite", o vídeo se destina a capturar uma parcela do eleitorado mais sensível a esses signos de autoridade contra o crime. Daí as referências a recortes de notícias sobre facções, explorando um sentimento predominante, o medo, que desfila em letras garrafais.
Sarto "bolsonarizado"?
Adotada por Sarto, essa linguagem "bolsonarizada" pode ser lida ainda como uma réplica às declarações de Elmano no ato de posse do novo secretário da Segurança, no início da semana. Como se o pedetista não permitisse que o governador lançasse mão dessa tática da linha-dura, um ativo político que sempre foi a gramática por excelência de candidatos ligados às polícias. Ao armar a Guarda, então, Sarto quer mostrar que não apenas diz, mas faz. Por tabela, coloca mais um tijolo nesse antagonismo com Elmano, a grande aposta do gestor para enfrentar Evandro na briga pelo Paço. Sua intenção é polarizar não com o ministro Camilo Santana, de resto muito popular, mas com o chefe do Executivo.
Vice de Catanho em Caucaia
Está perto de um desfecho a discussão sobre a vice de Waldemir Catanho (PT) na corrida pela Prefeitura de Caucaia. À coluna, duas fontes relataram que as tratativas sobre o nome do vereador Vanderlan Alves (Republicanos) para o posto estão avançadas. Eleito suplente de deputado federal em 2022 pelo União Brasil, Vanderlan foi o mais bem votado no município, obtendo 28.360 votos, boa parte deles na Grande Jurema. O parlamentar ficou à frente, por exemplo, do também suplente e pré-candidato a prefeito Naumi Amorim (PSD), que alcançou 20.787 votos.
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