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O maior desafio de José Sarto
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O maior desafio de José Sarto

Tipo Análise
Os desafios do prefeito José Sarto (PDT) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Os desafios do prefeito José Sarto (PDT)

Então deputado estadual ocupando a mesma cadeira onde hoje se senta Evandro Leitão (PT) na Assembleia, o prefeito José Sarto (PDT) se tornou candidato do condomínio governista pré-cisão de 2022. Dois anos antes, elegeu-se batendo Capitão Wagner numa disputa renhida. Sua vitória, obtida a custo, foi resultado de uma mobilização coletiva que implicou no pleito o governador Camilo Santana, parte significativa do PT, o PDT, o MDB e demais legendas que compunham o arco de aliança do Abolição e do Paço, uma espécie de "megazord" político agora desfeito. O cenário, definitivamente, é outro. O primeiro desafio de Sarto é montar uma chapa cuja formatação espelhe esse novo arranjo eleitoral. O segundo é considerar no seu cálculo o tempo exíguo de propaganda, de modo a acolher na vice um nome que de fato agregue capital. O terceiro é esboçar uma estratégia de campanha inteligente, ou seja, que consiga explorar aspectos positivos do fim da aliança, combinando-os com os feitos da administração, e disso extrair vantagens para o chefe do Executivo municipal. Não é tarefa simples.

À procura de uma vice

Evandro e Sarto, aliás, estão ambos à procura de vices. Cabeças de chapa, eles sondam nomes que, entre outros atributos, consigam acenar para o eleitorado conservador. Atual gestor, o pedetista quer incorporar força a sua composição com uma candidatura de perfil definido: mulher, que contemple parcela dos votos à direita, mas não necessariamente bolsonarista. Do outro lado da mesa, o entorno de Evandro discute até mesmo a possibilidade de uma vice evangélica, com boa presença política e, se possível, detentora de mandato - um trinômio tratado como ideal. Para membros do grupo do petista, há entendimento de que a dobradinha Evandro/Luísa Cela (ex-Secult), caso se concretize, pode acabar pendulando mais para a esquerda numa corrida marcada pelo peso do eleitorado neopentecostal. Resumo da ópera: estrategistas das duas equipes estão atentos ao avanço da agenda conservadora (retrógrada é a palavra certa) emparedando o governo Lula tanto na Câmara quanto no Senado.

SENADOR Cid Gomes (PSB)(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS SENADOR Cid Gomes (PSB)

Cid prioriza Interior

De olho em 2026, o senador Cid Gomes tem priorizado as articulações para formação de chapas no interior do Estado. Filiado ao PSB, mas sem o controle efetivo do partido, o ex-pedetista se movimenta em dois tempos. Em 2024, tenta ampliar a base de prefeitos da legenda, fortalecendo o seu bloco e se cacifando para projetos futuros, que se completam num segundo movimento: a recomposição de seu capital político. Mesmo vencedor na queda de braço com o grupo do irmão Ciro Gomes, o ex-governador ainda se recupera do cisma de 2022. Naquele ano, não custa lembrar, o senador manobrou para estacionar o PDT na base de Elmano e de Camilo, sem sucesso. Pressionado entre trabalhistas e visto com desconfiança por petistas, ingressou no PSB com uma ala de gestores que procuravam um abrigo governista.

O caminho da ruptura?

Por enquanto, Cid tem dois objetivos complementares: reaver parte do poder decisório que tinha no Ceará e assegurar a vitória em Sobral - se possível, fazer do PSB uma máquina tão ou mais robusta do que o PT projeta se tornar. Finalmente, caso tudo saia como o previsto no script, repactuar a relação com o Abolição e Camilo dentro de dois anos - se ainda houver interesse, mantém-se aliado. Do contrário, a ruptura poderia ser um caminho, e não propriamente novo. É um filme já visto em 2010, quando o então governador se desentendeu com Tasso Jereissati, e 2012, quando o rompimento se deu com Luizianne Lins (PT), à época prefeita de Fortaleza. Nessa hipótese, uma reaproximação com o irmão estaria fora de cogitação? É cedo para dizer que sim ou que não.

 

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