Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Entre presenças e ausências, o presidente Lula anunciou aporte expressivo de recursos para educação no Ceará, capaz de alçar o Estado a outro patamar, com impacto econômico e social significativo
Sob o ponto de vista estritamente do aporte de recursos, a visita de Lula ao Ceará acena com quase R$ 800 milhões em investimentos para educação e saúde no Estado, em ações que preveem construção (de hospitais a novos campi), ampliação e consolidação das instituições de ensino superior federais (UFC, Unilab e UFCA, além de IFCE). Superlativa, a cifra, se de fato desembolsada e executada em tempo hábil, tem potencial para inaugurar nova etapa na formação de uma geração local, alçando o Estado a outro patamar, com impacto econômico e social significativo. Mas apenas se se considerar que ao gasto com a infraestrutura corresponda também emprego de verba para aperfeiçoamento de pessoal, melhoria salarial de docentes e outros ganhos que estão na base de uma educação efetivamente de qualidade. Expandir a rede de universidades públicas, às vezes, é até a parte mais simples da equação, como já se viu nos mandatos anteriores de Lula, quando essas duas coisas nem sempre andaram juntas.
Presenças e ausências no palco
Politicamente, Lula desembarcou no Ceará num dia atípico, com uma chacina no Interior municiando a oposição ao governador Elmano de Freitas e um incêndio no prédio da Assembleia Legislativa do Estado (Alece) que acabou por afastar do palanque o pré-candidato Evandro Leitão (PT), presidente da casa. O deputado estadual não foi, todavia, o único a se ausentar. De novo, Luizianne Lins não esteve entre os presentes à cerimônia de beija-mão lulista, tampouco o senador Cid Gomes (PSB), nome de peso no cenário local e, ao menos em tese, um dos grandes interessados na agenda de Lula na capital cearense, sobretudo se lhe couber de fato a missão de indicar um/uma vice para a chapa encabeçada por Evandro na briga pela Prefeitura de Fortaleza.
Sinais, fortes sinais...
Mais que qualquer outra, essa falta de Cid é sintomática de uma relação com o PT no Ceará que se dá em torno de marcos de tensão muito evidentes. Ainda aliado, o ex-governador tem inegavelmente um compromisso com Camilo, o que não quer dizer que esse pacto se estenda ao petismo em qualquer circunstância. Sua cadeira vazia num evento como o de ontem, portanto, sinaliza para essa permanente dualidade - governista, "pero no mucho". Já no caso de Luizianne, vê-se outro tipo de afastamento no que diz respeito a Lula, produzido mais em função da ascensão de Camilo como liderança capaz de conduzir a seu gosto os rumos do PT no Estado, com primazia inclusive para definir quem será candidato ao Paço, como ao fim e ao cabo ocorreu. Nessa queda de braço, o ministro impôs-se como protagonista, restando à ex-prefeita a tarefa - importante, sem dúvida - de organizar esse campo que não aderiu ao "evandrismo" na dinâmica interna da agremiação em abril último.
Evandro e Ana Paula
Talvez tenha passado como fato corriqueiro a agenda amiudada de Evandro ao lado da vereadora Ana Paula Farias (PSB), cotada como vice numa chapa capitaneada pelo deputado estadual. A dupla foi vista em duas ocasiões, uma das quais um encontro que mobilizou a base de eleitores da parlamentar, numa espécie de demonstração de força cuja síntese foi: esse é o capital que tenho a agregar como potencial companheira na corrida pelo voto do fortalezense. Mais discreta, a ex-secretária da Cultura Luísa Cela tem se mantido disciplinadamente no seu quadrado, à espera de um gesto de Cid que se possa interpretar como aval a seu nome. Até agora, porém, essa indicação não veio, e é possível que não venha mesmo, na hipótese de o senador abrir mão de ungir uma pessebista para a vice, de modo a se desincumbir de qualquer obrigação e ficar mais livre para decidir seus passos em 2024, mas também em 2026.
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