Camilo, Domingos e Cid divergem sobre vice de Evandro
Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Aliados até que se diga o contrário, o ministro da Educação Camilo Santana, o senador Cid Gomes (PSB) e o ex-vice-governador do Estado Domingos Filho (PSD) mantêm divergência sobre o nome mais apropriado para a vice de Evandro Leitão, pré-candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza.
Se dependesse apenas de Camilo, segundo interlocutores, a companheira de chapa do presidente da Assembleia Legislativa seria a vereadora Ana Paula Farias (PSB). Cid, contudo, já teria demonstrado predileção pela ex-secretária da Cultura Luísa Cela, também do PSB - e filha de Izolda Cela, postulante ao Executivo em Sobral.
Dirigente pessedista no Ceará, Domingos faz pressão para emplacar no posto a deputada estadual (e filha) Gabriella Aguiar, mas o comandante da sigla na capital cearense, o deputado federal Luiz Gastão, prefere Cláudia Brilhante. Correndo por fora, com apenas o próprio voto, aparece Célio Studart (PSD), sem muita simpatia de nenhuma das lideranças que estão à mesa.
Wagner "gaiato" e Sarto "zoeiro"
A disputa em Fortaleza se "tiktokzou" de vez, com pré-candidatos recorrendo a um arsenal digital variado na tentativa de capturar a audiência do eleitorado e ofertar ativos mais atraentes nas suas respectivas prateleiras políticas, diferenciando-se uns dos outros.
Nessa corrida do ouro virtual, Capitão Wagner (União Brasil), por exemplo, tem se dividido entre feira evangélica e show de humor, enquanto José Sarto (PDT) segue na aposta de conciliar perfil obreiro ao modo de um Juraci com o de "galeroso" a la João Campos, requentando gírias do arco da velha (expressão por si já passadiça), mas recolhendo alguns louros pelo caminho, como o Datafolha contratado pelo O POVO parece atestar.
Talvez não por acaso, ambos lideram no segmento de 16 a 24 anos entre os fortalezenses, conforme o levantamento.
Evandro "descolado"
Noutra ponta, Evandro Leitão (PT) começou a colocar as mangas de fora para suavizar essa autoimagem de relativa sisudez e de contornos cujos valores remetem aos de uma certa Fortaleza bem-nascida.
Daí a estratégia de se popularizar, seja com as tais curiosidades sobre as quais já falei, enunciadas com objetivo de se mostrar "povão" e também mais próximo de um PT "raiz", com uma cartela de cores num vermelho vivo, um tom inflamado que o partido costumava usar nos anos pré-Camilo - que tratou de impor o branco como "dress code"; seja intensificando agenda com população de bairros fora do quadrante nobre, a exemplo da série de compromissos já previstos para este fim de semana com representantes de Bom Jardim, Granja Portugal, Messejana, Siqueira e por aí vai - um choque de periferia em pouco menos de 24 horas.
Chapa de mulheres em Aracati
Em crise com o PT de Aracati, o prefeito Bismarck Maia (Podemos) apresentou chapa com duas mulheres para sucedê-lo: a vereadora Roberta Cardoso (Podemos) na "cabeça" e a ex-secretária de Educação Ana Mello para vice.
Fruto de circunstâncias políticas sui generis, o arranjo não deixa de chamar a atenção, visto que se situa na contramão de decisões que usualmente guiam a montagem de composições.
Fortaleza é um exemplo, com homens dominando as vagas mais importantes, enquanto às mulheres coube a função subalterna. Nada de novo, mas, quando a chicana se estende à totalidade dos concorrentes, dá na vista, sobretudo depois da cisão que se seguiu entre PT e PDT tendo a governadora Izolda como pivô.
De lá para cá, nem o PDT admitiu qualquer desacerto quanto ao episódio, tampouco o PT fez jus aos protestos de então indicando, agora que tem precedência, uma mulher para a corrida. Ou seja, sempre que podem, as máquinas partidárias - estruturas masculinistas de preservação de poder - não se fazem de rogadas quando está em jogo a manutenção de seus privilégios.
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