Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Foto: Yago Pontes / CBN Cariri
CIRO participou de convenção que oficializou candidatura à reeleição do prefeito Glêdson Bezerra em Juazeiro do Norte
Até então relativamente desinteressado da disputa eleitoral no Ceará, o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) reapareceu no fim de semana ao lado do candidato à reeleição à Prefeitura de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), a quem emprestou apoio entusiasmado, a despeito das companhias no mesmo palanque caririense, entre as quais o bolsonarista Carmelo Neto, deputado estadual e dirigente do PL local. Na convenção que confirmou o gestor da terra de Padre Cícero como postulante para mandato de mais quatro anos, Ciro e Carmelo foram carregados nos ombros, equiparados como grandes lideranças que punham de lado as suas diferenças (conforme palavras de Bezerra) para endossar o concorrente de Fernando Santana, deputado estadual do PT e representante do bloco comandado pelo ex-governador e ministro Camilo Santana (Educação).
A disputa pelo Cariri
A foto do ato em Juazeiro, aliás, é exemplar de certos arranjos que se seguiram ao rompimento entre PT e PDT em 2022. Ladeando Glêdson, que não deixou de notar a fauna diversa e pouco dada a dividir o mesmo metro quadrado, estavam partidários de União Brasil, Podemos, Novo, PP, Cidadania, PDT e PSDB - ou seja, uma galáxia de nomes cujos interesses políticos e eleitorais até outro dia discrepavam frontalmente, na Capital e no Interior cearenses. De lá para cá, no entanto, um elemento impôs-se como deflagrador dessa reengenharia de blocos: a crescente hegemonia - ainda por se consolidar - de Camilo, cujo projeto prevê vitórias de aliados em cidades-chave para 2024: Crato, Juazeiro, Sobral, Tauá, Iguatu, Caucaia, Maracanaú e, evidentemente, Fortaleza, sem a qual os planos do camilismo como novo ciclo pós-Ferreira Gomes estariam comprometidos. Daí o empenho de Ciro no evento do Cariri, incluindo-se o Crato, onde o pedetista se recompôs com um adversário (Roberto Pessoa) a fim de derrotar o petismo.
Foto: Mandel NGAN / AFP
Após desistir, Joe Biden sugere Kamala Harris como candidata do Partido Democrata para as eleições dos EUA
Biden fora é desafio para Trump
Após lenta agonia pessoal e política, Joe Biden está fora. O gesto do presidente abre um campo de incertezas que se estendem dos democratas aos republicanos. Anunciada por comunicado, sem gravação de mensagem (fato por si repleto de simbolismos), a desistência em concorrer novamente à Casa Branca produz, de imediato, um deslocamento na agenda de debates: não mais a debilidade de sua saúde e a alegada inaptidão para incumbir-se da tarefa de presidir o país aos 81 anos, mas as credenciais de Donald Trump para retornar ao Salão Oval na esteira das investigações das quais é alvo. Note-se que, a esse propósito, mesmo o atentado se dilui de agora em diante, a aproximadamente 100 dias das eleições. Logo, ainda que extraída a fórceps após muita pressão de todos os lados, a renúncia de Biden provoca reviravolta sobretudo para um Trump cuja musculatura ganhara tonificação extra depois da tentativa de assassinato, obrigando-o a repensar as próprias estratégias para além de uma mera comparação.
Kamala dá fôlego a democratas
Chancelada por Joe Biden e principal cotada para substituí-lo, a atual vice Kamala Harris tem alguns obstáculos em seu horizonte como potencial candidata: mobilizar o eleitorado mais jovem e racialmente menos disposto a votar numa chapa antes encabeçada pelo presidente octogenário; reassegurar influência nos chamados estados-pêndulo, território onde Trump vinha obtendo vantagens consideráveis (por isso a escolha do vice é tão importante); e atenuar o perfil mais linha-dura na área da segurança, mas sem parecer excessivamente leniente a ponto de perder votos de indecisos que ainda veem o trumpismo com desconfiança. Sua entrada no jogo, se se confirmar, teria o condão de reenergizar as bases do Partido Democrata, antes às voltas com os lapsos cognitivos de Biden, e zerar a corrida com tempo hábil, repondo a briga em termos nos quais são os republicanos que têm de se explicar, e não apenas o contrário.
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.