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A grande aposta de Camilo em Fortaleza
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

A grande aposta de Camilo em Fortaleza

Da escolha da vice ao modelo de convenção, tudo na campanha de Evandro Leitão (PT) até aqui emula a corrida pelo Governo do Estado da qual Elmano de Freitas saiu vencedor
Tipo Opinião
CAMILO foi um dos agraciados com a Medalha Abolição (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES CAMILO foi um dos agraciados com a Medalha Abolição

A esta altura, com as chapas definidas e as candidaturas postas em Fortaleza, fica evidente a estratégia de "copiar e colar" levada a cabo pelo grupo encabeçado pelo ex-governador e hoje ministro Camilo Santana, vitorioso em 2022. Da escolha da vice ao modelo de convenção, tudo na campanha de Evandro Leitão (PT) até aqui emula a corrida pelo Governo do Estado da qual Elmano de Freitas saiu vencedor. Mesmo a presença de Lula, obtida a fórceps depois de custosa negociação, ecoa aquela cartilha bem-sucedida de apenas dois anos atrás. Embora pareça um truísmo, cumpre dizer: a eleição de 2024 na capital cearense, contudo, é diferente. Primeiro, a missão de Evandro não é a de suceder a um gestor bem avaliado, mas de desalojar um chefe de Executivo (José Sarto) que, a despeito dos percalços na metade inicial do seu mandato, acertou os ponteiros e vem fazendo a melhor pré-campanha até aqui. Segundo, o pleito é municipal, sem parelha com a eleição nacional, ocasião em que a alquimia de conversão de votos de um presidente popular se torna mais fácil, como foi na última eleição. Terceiro, a força de Camilo localmente não equivale à que o petista detém no âmbito estadual. E quarto: diferentemente de 2022, Cid Gomes (PSB) entrou em campo, mas por seus interesses.

Ausências de Cid e Luizianne

Como previsto, aliás, a deputada federal Luizianne Lins (PT) e o próprio Cid não foram vistos na convenção de Evandro no sábado, 3, por motivos diferentes (o senador sequer esteve na agenda com Lula sobre hidrogênio verde). LL, por exemplo, resolveu priorizar Caucaia, investindo energia e emprestando a sua força a Waldemir Catanho, companheiro de longa data. O ex-governador, por sua vez, joga em 2024 os dados que começam a desenhar 2026, quando deve ensaiar uma reentrada no cenário, seja com que intuito for. Se tudo der certo, Cid pode chegar ao final do ano como uma liderança fortalecida depois da debacle de seu bloco, arrasado na esteira do racha entre PDT e PT. Ambos distantes de Fortaleza, o socialista e a petista estão neste momento dedicados a recuperar terreno perdido. Luizianne criou seu próprio "campo de esquerda", enquanto Cid tenta arrebatar o maior número de prefeituras para se cacifar a outras empreitadas.

O milagre de Catanho

Catanho pode não vencer as eleições em Caucaia, mas que fique registrado que o petista logrou produzir um autêntico milagre político: juntar Camilo, Evandro, Elmano e Luizianne no mesmo palanque, um feito olímpico de articulação (cargo que ocupava na gestão estadual) do qual ele pode se orgulhar sem falsa modéstia. A se julgar pelas fotos do evento, todavia, o clima não era lá de festa parisiense. Ora, natural que haja constrangimento (e até animosidade, vá lá) de parte a parte, sobretudo de LL e Evandro, cujas pré-candidaturas se chocaram no PT em um processo interno que não se deu nos termos mais harmônicos, digamos assim. Mas, mesmo entre a ex-prefeita e Elmano, a noite não foi das mais amenas.

A guinada de Marrion

Símbolo da campanha exitosa de Sarto em 2020, Marrion mudou de lado. Lulu da Pomerânia das mais graciosas, a cadela "declarou" voto em Evandro, recolocando-se no xadrez eleitoral após o ex-tutor e postulante à reeleição assumir roupagem mais "amostradinha" nas redes, de olho numa repaginada que o apresente para um público mais jovem. Amuleto da sorte naquele ano, Marrion se converteu em peça importante da estratégia pedetista num momento delicado da disputa, quando a diferença entre o então candidato e Capitão Wagner (União Brasil) se estreitou. Viralizada, funcionou como elemento que atenuava a imagem do trabalhista. Em 2024, obviamente não se espera que a cachorrinha tenha qualquer papel político relevante, salvo o de alimentar o anedotário geral e desfilar a sua luxuosa simpatia canina.

 

Foto do Henrique Araújo

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