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Sarto e Evandro apostam corrida
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Sarto e Evandro apostam corrida

Os candidatos à Prefeitura de Fortaleza entram na pista. Real ou simbólica, a corrida virou a palavra da vez
Tipo Análise
Evandro Leitão e José Sarto (Foto: Aurélio Alves / Fco Fontenele)
Foto: Aurélio Alves / Fco Fontenele Evandro Leitão e José Sarto

Talvez por influência dos Jogos Olímpicos, o prefeito José Sarto (PDT), o deputado estadual Evandro Leitão (PT) e o ex-deputado federal Capitão Wagner (União), todos pretendentes ao Paço, resolveram investir na corrida em três âmbitos diferentes: como metáfora, como prática esportiva e como "palavra-ônibus", que comporta sentidos variados. Do corre do trabalho, como tem explorado o presidente da Assembleia, à ênfase na distância percorrida entre pontos distintos da orla da cidade, como prefere Sarto, o termo se converteu em chamariz para anunciar tanto o que está por vir (o futuro) quanto o que já é concreto (o presente). Ora como verbo, ora como substantivo, correr não apenas caiu no gosto dos competidores, sugerindo pressa ("Fortaleza não pode parar") e dinamismo ("Juntos, Fortaleza pode muito mais"), mas também acabou por estruturar as peças de campanha. Na de Sarto, por exemplo, o prefeito contracena com Roberto Cláudio (PDT), ambos trotando na Beira Mar, cuja requalificação começou com RC e se concluiu com o sucessor. Evandro, por sua vez, faz referência aos "corres" do dia a dia do Legislativo, mobilizado como vitrine do petista.

Wagner entra no "corre"

Mais à vontade do que os seus adversários nesse figurino de atleta, Wagner lança mão da corrida como modalidade de denúncia, seja de pontos de lixo espalhados pelas esquinas a despeito da taxa criada, seja de outras mazelas da capital cearense, apresentando contradiscurso que confronta o cartão-postal de Sarto (a praia aformoseada com piso intertravado) e disso extraindo rendimento que deve se refletir na sua propaganda. De passagem, Wagner se posiciona num campo oposto àquele atribuído ao prefeito: o de uma Fortaleza das elites. Daí o esforço do pedetista para neutralizar a pecha, de que RC também era alvo, segundo a qual a sua gestão priorizou as áreas nobres.

Quem acertou na escolha da vice

Finda a etapa das convenções, convém perguntar sobre quem acertou na escolha das vices para o pleito. Primeiro, importa saber se houve ganho real ao "cabeça" da chapa: de tempo/recursos e de outros capitais, a exemplo de experiência/perfil. A esse propósito, Evandro, Wagner e André Fernandes (PL) fizeram boa leitura do jogo, mesmo que a oposição à direita tenha recorrido à chapa pura. Edilene Pessoa (de Wagner) foi opção interessante pela sobreposição de facetas (mulher, nutricionista, evangélica). Gabriella Aguiar (vice de Evandro) do mesmo modo: deputada, médica, oriunda de família com presença na política. Alcyvania Pinheiro também: é professora ligada ao Shalom, comunidade católica cujo eleitorado tende a se orientar noutro lado. No geral, esses postulantes tentaram alargar suas perspectivas de avançar ao 2º turno, apostando mais na ideia de complementaridade do que na de repetição.

A meia furada de Camilo

Camilo Santana é, naturalmente, o principal fiador de Evandro. Para tanto, o ex-governador faz movimento que implica algum risco ao se empenhar pessoalmente para eleger aliado tão vinculado a si, manejando, entre outras ferramentas, as ações mais vistosas do MEC, tal como o Pé-de-Meia. A estratégia, todavia, pressagia obstáculos, como se viu agora, com um congelamento de recursos que incide no programa cujo anúncio de expansão coube a Lula fazer na semana anterior, como atividade que justificaria sua visita a Fortaleza para, no dia seguinte, estar na convenção que oficializaria o representante do PT. Como peça retórica, então, o alinhamento entre governos estadual, municipal e federal, ao que parece o principal trunfo do quarteto Evandro/Camilo/Elmano/Lula, já revela, de partida, suas fragilidades.

Foto do Henrique Araújo

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