Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Uma disputa inusitada na pré-campanha eleitoral em Fortaleza: qual dos candidatos é o melhor avatar do padre Kelmon, que disputou a presidência da República em 2022
Foto: Divulgação de campanha/Padre Kelmon
Padre Kelmon foi candidato a presidente da República pelo PTB em 2022
Então candidato à Presidência em 2022, Padre Kelmon (PTB) se notabilizou por antagonizar com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), operando como "longa manus" de Jair Bolsonaro (PL), ou seja, uma espécie de executor de ordens ou contrarregras do chefe do Executivo à época, cuja candidatura à reeleição o religioso pretendia abençoar enquanto atacava adversários, sobretudo o petista.
Dois anos depois, a figura folclórica do candidato padre - mesmo que "padre de festa junina" -, tornada célebre pela verve de uma inspirada Soraya Thronicke, é agora evocada em Fortaleza para espezinhar concorrentes. De parte a parte, aliados de Evandro Leitão (PT) e de José Sarto (PDT) debocham uns dos outros, recorrendo ao nome do santo homem para pespegar no oponente a pecha de "candidato-poste", sem qualquer receio de incorrer em ato pecaminoso.
Em participação no Debates do Povo, por exemplo, o deputado estadual Francisco de Assis Diniz (PT) referiu-se ao atual gestor do Paço Municipal como "Padre Kelmon" cearense, aludindo ao mau desempenho que, presume o mandatário, Sarto há de ter na briga pela reeleição.
Pedetistas, contudo, rebatem a pilhéria. Segundo eles, o verdadeiro Kelmon ("Kelson" ou "Kelvin") é o ex-parlamentar George Lima (SD), último a entrar na corrida.
Wagner e Evandro travam batalha
A disputa pela Prefeitura começou com guerra judicial aberta entre as candidaturas de Capitão Wagner (União) e Evandro, dois dos postulantes mais competitivos do pleito.
A refrega, contudo, estende-se a outros representantes, a exemplo de André Fernandes (PL), envolvendo até a divulgação de pesquisa de intenção de voto, mas também uso de equipamento público, seja para gravar peças de campanha, como é o caso da Assembleia Legislativa, seja para realização de convenção partidária, como se viu com o Centro de Formação Olímpica.
A queda de braço que se dá nesse flanco reflete o estado geral do humor dos pretendentes ao Palácio do Bispo, já elevado antes sequer de o juiz apitar o início da partida.
O patrimônio dos candidatos
Ao menos cinco candidatos já haviam formalizado suas chapas na Justiça Eleitoral na noite dessa quinta-feira, 8: André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União), Eduardo Girão (Novo), José Sarto (PDT) e Zé Batista (PSTU). Do grupo, o de maior patrimônio é Girão: R$ 48.177.784,31 - ou mais de 40 vezes o que Wagner apresentou: R$ 1.014.323,79.
Apenas para efeito de comparação: em 2018, quando se elegeu senador, Girão detinha riqueza de R$ 36 milhões. Entre as eleições daquele ano e as de 2024, houve incremento de R$ 10 mi.
Pela ordem, seguem-se aos de Girão e Wagner os patrimônios de Sarto (R$ 1.105.519,31), Fernandes (R$ 377.705,00) e Zé Batista (R$ 175.000).
Flashes de um debate
Até quando foi possível, retardei a conclusão da coluna, de modo a acompanhar parte do debate da Band ontem com os candidatos a prefeito, o primeiro de uma série. Como se encerrasse na alta madrugada, no entanto, dei-me por satisfeito com a chegada desses "atletas do voto" - seis ao todo, dispostos um ao lado do outro, sentados em cadeiras como se estivessem numa fila de espera do Sine/IDT, cada um portando pastinha com currículo e referências.
Por mais simpático e até inovador que o formato fosse, os nossos representantes pareciam relativamente tensos, alguns até mal-humorados, vide Fernandes, o que é compreensível a esta altura. Para mim, sobressaiu, mais que as propostas, que não cheguei a ouvir, a discrepância no "outfit", predominando certo despojamento (até excessivo no caso de Girão), salvo Evandro, que manteve o "dress code" formal.
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