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Guerra de ex-aliados marca disputa em Fortaleza
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Guerra de ex-aliados marca disputa em Fortaleza

Começando oficialmente hoje, a disputa eleitoral em Fortaleza já previa uma guerra entre ex-aliados cujas principais armas é precisamente conhecer as vulnerabilidades de seus adversários
DISPUTA eleitoral em Fortaleza: guerra entre ex-aliados (Foto: Montagem O Povo)
Foto: Montagem O Povo DISPUTA eleitoral em Fortaleza: guerra entre ex-aliados

A disputa eleitoral em Fortaleza começa oficialmente apenas hoje, mas já se sabia que a contenda seria determinada por uma guerra entre ex-aliados cujas principais armas é precisamente conhecer em detalhe as vulnerabilidades de seus hoje adversários. De um lado, tem-se o ex-pedetista Evandro Leitão (PT) medindo forças com José Sarto (PDT), que tenta renovar o mandato por mais quatro anos. De outro, Capitão Wagner (União) encara André Fernandes (PL), debutante em pleitos majoritários. Dificilmente, pelo desenho do jogo nacional polarizado, esses competidores devem avançar ao segundo turno para enfrentar um nome de seu campo político. Embora tenham rompido em 2022, por exemplo, PT e PDT detêm uma raiz comum no Ceará que não se desfez com a diatribe que se seguiu ao cisma de 2022 - tampouco, para o eleitorado, Evandro e Sarto se contrastam tão radicalmente assim. Do mesmo modo, Wagner e André partilham, mais que um estrato do eleitorado conservador, certo ideário calcado em um conjunto de bandeiras em torno das quais estiveram juntos em eleições passadas. Em 2024, então, o fortalezense terá diante de si uma confrontação de governismos (estadual e municipal) e de oposicionistas.

Força e fragilidades

Concentrando-se nos quatro principais postulantes, é possível também esboçar um quadro esquemático de suas forças e fragilidades. Para Wagner, o desafio é o de se renovar discursivamente, apresentando um trunfo para além da passagem pela Secretaria da Saúde de Maracanaú, de resto importante como incremento curricular e índice de experiência, mas distante do eleitorado local. A seu favor, há o tempo de propaganda e a maturidade. André, por sua vez, dispõe da segunda maior fatia do tempo de TV/rádio, mas esbarra num vazio de propostas (basta consultar seu programa de governo para constatar que o candidato não fez o dever de casa). Sarto, atual chefe do Executivo, conseguiu acelerar numa etapa durante a qual sua própria candidatura era alvo de questionamentos. Hoje, o pedetista concilia estratégia relativamente inteligente nas redes com bom cardápio de obras, mas é pressionado pelo tempo exíguo de exposição - em seu benefício, conta com cabo eleitoral importante, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT).

Gargalos e atributos de Evandro

Já o presidente da Assembleia maneja instrumental vigoroso: maior porção da propaganda (cerca de 4min), aliados de grande influência (Lula e Camilo Santana) e estrutura cujo potencial não tem par no quadro de candidaturas. Suas vulnerabilidades, contudo, são as que já se conhece: ainda evidente dificuldade de aclimatação no PT, o que faz com que pareça um corpo estranho na legenda, dando margem a cobranças sobre a adesão de figuras de maior densidade na Capital, a exemplo de Luizianne Lins. Além disso, a insistência de seu grupo na transposição da estratégia de 2022 para 2024 é aposta de alto risco, sobretudo por pretender copiar e colar o slogan do "Ceará três vezes mais forte", agora rebatizado como "Juntos, Fortaleza pode muito mais".

Para além da escolha da agenda

A se notar pela agenda dos candidatos para hoje, há uma predominância de bairros de periferia, com a largada das atividades se dando pelas bordas de Fortaleza. Essa predileção por caminhadas e carreatas em áreas entre as quais se incluem Bom Jardim, Pici, Messejana, Pirambu e Bela Vista, todas fora do quadrante autodeclarado nobre, destoa da localização dos chamados comitês centrais dos concorrentes, normalmente endereçados nos ricos Aldeota, Meireles, Cocó e por aí vai.

 

Foto do Henrique Araújo

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