Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A rodada mais recente do Datafolha em Fortaleza apresenta Capitão Wagner (União Brasil) cedendo pouco terreno para adversários, num ritmo talvez insuficiente para fazê-lo perder a liderança num horizonte imediato. José Sarto (PDT), por sua vez, mostra-se competitivo ao crescer mesmo com artilharia voltada para desgastá-lo com a taxa do lixo. Dos quatro principais candidatos, o pedetista é o único que se eleva no limite da margem de erro, o que sugere acerto na estratégia até aqui. Já André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) se deslocam em baixa velocidade, mas continuamente, à medida que o eleitorado os identifica a Jair Bolsonaro e a Lula, respectivamente. Considerando-se apenas esse bloco, cada um deles tem razões para comemorar: Wagner porque segue na dianteira (mas sem ampliar votação), Sarto porque avança (mas com adversários no encalço), Fernandes porque já se encontra com dois dígitos (mas com teto próximo) e Evandro porque começa em posição mais confortável que a de Elmano (mas aquém das expectativas).
Sarto e a aposta em RC
Para além dos gracejos e do instrumental de redes que tem mobilizado para suavizar sua imagem, adicionando certa leveza e agilidade às suas peças audiovisuais, Sarto trabalha prioritariamente com dois ativos: um de defesa e outro de ataque. Na retaguarda, o prefeito vale-se cada vez mais do capital do antecessor Roberto Cláudio, fazendo dobradinha que não se vê entre seus concorrentes, seja porque Camilo está às voltas com a agenda de Brasília, seja porque Elmano também se ocupa sobretudo das tarefas administrativas - da parte de Fernandes, falta-lhe igualmente esse "casca de bala" ao lado de quem possa contracenar. Desse modo, RC vem atuando duplamente, como fiador e coadjuvante com ares de protagonista. Noutra ponta, como arma de ataque, Sarto é mais bem-sucedido ao explorar as fragilidades de Evandro, mantendo o rival na defensiva. Some-se a isso a força da caneta de quem está sentado na cadeira, e tem-se explicação para o retrato provisoriamente favorável do gestor.
Um desafio para Wagner e André
Ex-aliados, Wagner e André Fernandes detêm eleitorado sobreposto na capital cearense, o que significa que transitam pelos mesmos estratos, mas com credenciais e discursos diferentes. Um é veterano em majoritárias, o outro é debutante. Um tenta arejar a sua cartela de interlocutores, o outro se limitou ao círculo bolsonarista. Um leva vantagem sobre oponentes em simulações de 2º turno, o outro não. Caso deseje de fato voltar a oscilar positivamente, neutralizando investidas em seu campo, cabe a Wagner passar desde já a estabelecer uma linha divisória entre ele e Fernandes, a fim de demarcar distinções e realçar competências.
O caminho de Evandro
À frente do Legislativo, Evandro se ampara num arco de partidos que lhe assegura um latifúndio de tempo de TV/rádio, mais as inserções ao longo do dia. Nisso se fia o seu entorno, ou seja, no poder da propaganda sistemática mediante a qual pretendem fazer chegar a mensagem de que, "juntos, Fortaleza pode muito mais". É razoável supor que o plano tem chances de funcionar, com Evandro cacifado à etapa seguinte. Convém ponderar, no entanto: entre o final de junho e o levantamento de ontem, passaram-se dois meses, durante os quais o candidato petista, que rolou de 8% para 10%, foi ungido em convenção com Lula, Camilo e Elmano, a trindade que estampa seus cartazes na reedição do estratagema que levou o PT ao Governo em 2022 - mas que, já naquele ano, não foi suficiente para arrebatar a maioria dos votos na Capital.
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