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"Chupa aqui pra ver se sai leite", "perna cabeluda" e "garganta de aluguel": veja quem ganhou o debate O POVO
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

"Chupa aqui pra ver se sai leite", "perna cabeluda" e "garganta de aluguel": veja quem ganhou o debate O POVO

O tema da saúde se firmou como item da discussão logo no primeiro bloco, aberto com um confronto entre Sarto e Evandro
Debate promovido pelo O POVO reuniu candidados a prefeito de Fortaleza (Foto: Fco Fontenele/O POVO)
Foto: Fco Fontenele/O POVO Debate promovido pelo O POVO reuniu candidados a prefeito de Fortaleza

Ao menos dois grandes tópicos se impuseram no primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de Fortaleza desde o início da campanha eleitoral: segurança e saúde.

Foi em torno desses assuntos que se estabeleceram as principais divergências que opuseram os seis participantes do encontro promovido pelo O POVO na noite desta terça-feira, 27: Capitão Wagner (União Brasil), José Sarto (PDT), André Fernandes (PL), Evandro Leitão (PT), Técio Nunes (Psol) e George Lima (SD).

O tema da saúde se firmou como item da discussão logo no primeiro bloco, aberto com um confronto entre Sarto e Evandro, por um lado, e entre Fernandes e Wagner, por outro (no qual o pivô foi a experiência do ex-deputado na secretaria de Maracanaú).

Segurança, por sua vez, demarcou a sequência do enfrentamento, partindo do atual prefeito a iniciativa de fustigar Evandro, relacionando-o ao quadro geral da criminalidade no estado governado por Elmano de Freitas, do PT.

Mas, além dos temas, outros aspectos dominaram o debate, a exemplo da dobradinha entre Técio e George, que atacaram Fernandes em conjunto após terem sido chamados pelo deputado bolsonarista de “inexpressivos” – foi ao fim do primeiro bloco ainda, quando ninguém havia feito pergunta para Fernandes, restando apenas os nomes do Psol e do SD.

Mais magoado do que o psolista, George passaria todo o tempo de pergunta e resposta remoendo a ofensa, a qual se acrescentou “garganta de aluguel”, esta pespegada por Sarto. Foi a gota d’água para o empresário, cuja principal proposta é governar Fortaleza com a iniciativa privada.

Ambos, Técio e George, revezaram-se então nas críticas a Fernandes, tachando-o de “desequilibrado” e outras amabilidades. Irritado, o candidato do SD, lá pelas tantas, dirigiu-se ao adversário do partido de Bolsonaro e disse: “chupa aqui pra ver se sai leite”. Arrancou risos mal contidos da plateia de assessores.

Com referências jocosas a “perna cabeluda”, “garganta de internet” e outras expressões mais ou menos cômicas, tratou-se de um debate produtivo para o anedotário, mas escasso de propostas. E não por seu formato, evidentemente. Mas porque os postulantes se empenharam em explorar fragilidades pessoais, deixando de lado a razão de ser de uma agenda como essa: confrontar projetos de cidade.

De passagem, reviveram também a eterna diatribe de 2022, quando PT e PDT romperam – uma crise que está longe de terminar. Wagner, por exemplo, lembrou que Evandro e Sarto estavam juntos em 2020 contra ele. Fato. Nem o prefeito nem o deputado disseram qualquer coisa em contrário.

Com o nível mais rasteiro da conversa, levou a melhor quem tem mais experiência nesse tipo de dinâmica. Dominando mais o tempo e administrando com inteligência as investidas e a exposição de propostas, Wagner saiu-se bem.

Sarto, por seu turno, cumpriu com o dever de casa. Bateu quando se esperava que o fizesse e se defendeu de maneira eficaz, mesmo quando pressionado pela taxa do lixo. O gestor pedetista, todavia, tem cometido um erro frequente: não falar sobre futuro, fiando-se em excesso nos feitos do passado. Para um candidato cujo lema é mudança, eis um problema.

Chamado de “cristão novo” no PT, Evandro mostrou-se até mais hábil do que no evento anterior. Houve progresso. Nessa missão de fazer frente aos oponentes, contou com a ajuda prestimosa de George e Técio, que evitaram tomar o petista como alvo, centrando fogo em Fernandes e em Sarto.

Nessa configuração das forças que pleiteiam o Executivo, o presidente da Assembleia pode se concentrar em revidar os golpes do prefeito, que o escolheu como desafiante preferencial. Afinal, é parte da estratégia de Sarto para não permitir que se instaure uma polarização entre o PT e o PL na capital cearense, com seus representantes avançando ao segundo turno.

Noves fora socos e chutes abaixo da linha da cintura, portanto, o debate foi no geral rico como cartão de visitas dos aspirantes à Prefeitura. E pobre como vitrine daquilo que pretendem fazer os que estão nas ruas pedindo voto.

Saiu-se dele, por exemplo, sem que se soubesse o que cada um pensa sobre moradia, cultura, educação, mobilidade etc., ou seja, os temas do dia a dia, aqueles que mobilizam o eleitorado de fato a ir até as urnas.

Foto do Henrique Araújo

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