Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Foto: Fco Fontenele
DEBATE promovido por O POVO foi o primeiro após o início oficial da campanha
Os debates, mesmo quando não são consagrados a uma troca propositiva, ajudam a clarear o cenário. O encontro promovido pelo O POVO na última terça, por exemplo, mostrou Evandro Leitão (PT) secundado por duas candidaturas-satélite: a do Psol, com Técio Nunes, e a do Solidariedade, com George Lima. Menos porque seu partido ocupa uma secretaria na gestão de Elmano (PT), Nunes evitou críticas a Evandro, como se impõe a um postulante cuja razão de ser é apresentar-se mais preparado do que seus adversários, com os quais o eleitorado deve cotejá-lo. Logo, é inevitável que haja uma ou outra farpa de parte a parte. Não foi, contudo, o que se viu entre Lima, Nunes e o presidente da Assembleia, num pacto de camaradagem que liberou o petista para se dedicar a José Sarto (PDT) e a André Fernandes (PL). Findo o debate, ficou nítida a divisão entre os pretendentes ao Executivo: há três nomes da órbita governista estadual, um dos quais Evandro; um se situa no governismo municipal (o próprio Sarto); e mais dois transitam na oposição pela via da centro-direita (Fernandes e Capitão Wagner, do União).
"Padre Kelmon" cearense
Lima é escancaradamente uma "escada" para Evandro. Sua fragilidade, porém, não é que se revele um político "inexpressivo", mas que não dissimule melhor a função para que foi levado a sustentar a postulação - mesmo sem chapa de vereadores e plataforma política consistente, senão a de investir contra Sarto e Fernandes, tampouco com arrecadação compatível (R$ 18 mil, por enquanto) com os gastos estimados para disputa majoritária. A título de exemplo, considerando-se nomes do mesmo porte, Zé Batista (PSTU) já contabilizou R$ 60 mil e Técio Nunes, R$ 700 mil. Donde não é exagero suspeitar de que as frases feitas do "Padre Kelmon" cearense, tais como "chupa aqui pra ver se sai leite", encaixam-se na estratégia para reduzir a margem de manobra dos oponentes, numa blitzkrieg governista. Tudo dentro do jogo, mas nada tão espontâneo como a piada que correu a internet faz crer.
Wagner e André em rota de colisão
Convém observar essa escalada de animosidades entre Wagner e Fernandes, que vinham se cutucando desde a pré-campanha e no debate do O POVO duelaram abertamente em torno do tema da saúde - pauta cara ao ex-secretário de Maracanaú, a quem Fernandes já emprestou apoio em outras ocasiões. Em campos diferentes agora, a dupla mede forças pelo voto conservador. Se se levar em conta que Wagner lidera as pesquisas e que cabe a Fernandes a iniciativa de fustigá-lo, o candidato do PL tem se mostrado comedido. Note-se, a esse respeito, que Wagner foi pouco acionado no debate, passando ao largo dos momentos de desgaste, que se concentraram em Sarto (taxa do lixo), Evandro (segurança) e em Fernandes (ataque de Técio/Lima). Das duas, uma: ou os demais concorrentes estão dando de barato que o ex-deputado já está no 2º turno ou que, pelo contrário, não estará.
O "sumiço" de Bolsonaro
Aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro, o candidato do PL ao Paço vem fazendo um contorcionismo verbal para driblar qualquer menção ao ex-presidente nos debates. No evento do O POVO, por exemplo, citou Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo pelo Republicanos, mas não o correligionário - não se sabe se por esquecimento ou pela rejeição ao ex-mandatário, que esteve de passagem pela cidade cerca de duas semanas atrás, numa motocarreata. Curiosamente, uma das divergências entre Fernandes e Wagner se deu exatamente porque, segundo o deputado federal, o ex-colega escondia Bolsonaro nas suas campanhas eleitorais.
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