Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza, Evandro Leitão ainda espera adesão pública da deputada federal Luizianne Lins, que tem se mantido afastada da disputa local, priorizando o pleito de Caucaia. No entorno do presidente da Assembleia Legislativa, contudo, há expectativa em relação ao apoio da ex-prefeita ao postulante. À coluna, um "evandrista"-raiz declarou a sério: caso LL não se manifeste nos próximos dez dias, um eventual ingresso na campanha do partido terá peso menor depois disso, ou seja, à medida que o tempo passa, o capital que a petista pode emprestar ao deputado se reduziria na hipótese de Evandro crescer por conta própria (e dos demais padrinhos) nas pesquisas. E em cenário no qual o nome do PT não se projete nas intenções de voto? Embora o grupo não trabalhe com esse horizonte, convém pressupor que, uma vez que a reta final do primeiro turno da eleição se mostre mais acirrada e as diferenças entre os postulantes, diminutas, a pressão para que Luizianne abrace Evandro tende a se tornar explícita.
André segue estratégia de Wagner
André Fernandes (PL) trilha até aqui caminho muito parecido com o de Capitão Wagner (União Brasil) quatro anos atrás no que diz respeito à custosa administração do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sem o típico verde-amarelismo nas suas propagandas, tampouco com menções ao nome do fiador mais forte, Fernandes tem investido numa autoimagem de moderação e preparo, de modo a compensar a evidente imoderação e alguma inconsequência de seus atos tanto como deputado estadual quanto como federal. Mesmo os jingles da campanha do jovem parlamentar emulam trabalhos anteriores da equipe de marketing de Wagner, que costumava produzir músicas-chiclete ao explorar melodias de funk e de outros ritmos então em voga. Resta saber se a estratégia de incorporar um "wagnerismo" pode surtir efeito numa briga da qual o próprio Wagner é participante.
Candidatos no modo "copia e cola"
A campanha em Fortaleza tem se notabilizado por um festival de "copia e cola" em tempo real, o que revela sobretudo o receio dos concorrentes em deixar de faturar politicamente em torno de qualquer proposta minimamente bem avaliada, seja com os pelotões da Guarda Municipal, seja com a extinção de multas no caso das viseiras de capacetes. Em suma, com quaisquer ideias já formuladas e apresentadas por um adversário, mas que são requentadas e postas na vitrine como coisa nova. Mais que agilidade ou esperteza, no entanto, o expediente a que os pretendentes recorrem escancara o rebaixamento da disputa. Longe de sugerir competição, expõe os próprios pleiteantes, que se reconhecem equiparados e sem capacidade para se diferirem.
A tal da mudança
Quase uma semana depois do início da propaganda, "mudança" foi certamente a palavra mais ouvida na boca dos candidatos. Wagner, até aqui, reforça valores associados a essa noção de alteração no controle de um poder cujo centro orbitou os mesmos grupos e personagens, hoje divididos. Sarto, atual prefeito, opera numa lógica que incide na transformação de uma ordem da qual ele é parte como gestor. Fernandes vai na mesma toada. Talvez pelo peso da aliança e da aposta no alinhamento político como principal trunfo no xadrez, apenas Evandro vem tendo mais dificuldade para se conectar com esse ideário "mudancista". É um risco que o neopetista corre, ou seja, o de se deixar carimbar pela ideia de continuidade, lida sob viés pejorativo e não pelo positivo, como suas peças tentam fazer chegar ao eleitorado fortalezense.
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