Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A pesquisa mostra dois polos muito evidentes na corrida: de um lado, o par de estreantes em majoritárias; do outro, a dupla de veteranos cujo potencial revés em 2024 pode significar desfecho para suas trajetórias
Foto: Samuel Setubal
ANDRÉ Fernandes e Evandro Leitão dividem a liderança na mais recente pesquisa Datafolha
A nova rodada do Datafolha em Fortaleza ratifica cenário no qual André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) foram gradualmente se afastando de um segundo bloco, formado por Capitão Wagner (União Brasil) e José Sarto (PDT), constituindo dois polos muito evidentes na corrida: de um lado, o par de estreantes em majoritárias; do outro, a dupla de veteranos cujo potencial revés em 2024 pode significar desfecho para suas trajetórias. Líder nas pesquisas, Fernandes apenas oscilou positivamente, indo de 25% para 27%, num movimento que contrasta com o salto da sondagem anterior, em que contabilizou nove pontos. Há razões para isso, claro, uma das quais é a artilharia cerrada a que Wagner e Sarto submeteram o candidato do PL nos últimos dias. Mas isso não explica tudo. Agora mais conhecido, Fernandes vem sendo associado a Jair Bolsonaro (PL), cuja toxicidade tem mais condições de atrapalhar o deputado do que vídeos insalubres de uma década atrás. Logo, se a rejeição do jovem postulante se elevou, é possível que isso se deva menos às performances do ex-youtuber do que à colagem da sua imagem à do ex-presidente da República.
O desafio de Evandro
Caso o desenho do pleito mostrado pelo Datafolha se confirme e Evandro avance contra Fernandes, o bloco petista teria diante de si o desafio de mapear vulnerabilidades do adversário que já não tenham sido exaustivamente exploradas por Wagner no 1º turno, sem que isso resultasse em perda significativa de força. Há cerca de 15 dias, a temática da produção audiovisual caseira do parlamentar domina as peças dos oponentes, de modo que, a esta altura, os episódios mais rumorosos de sua carreira como influenciador já se tornaram conhecidos. O que restaria, então, como munição anti-Fernandes? Para petistas, não há dúvida de que a aposta é investir na exposição sistemática da relação umbilical do candidato com Bolsonaro, apresentando Lula como antípoda. Ou seja, uma reedição de 2022, mas numa escala ainda maior.
Sinal de alerta para Fernandes
A pesquisa também acendeu sinal amarelo para a campanha de Fernandes: além do crescimento mais acanhado (Evandro progrediu seis pontos, a título de comparação), há aumento de rejeição, que se dá na esteira de ataques recentes voltados para a sua biografia. Assim, o que hoje é apenas fissura pode se alargar como via para fragilizá-lo de fato na etapa seguinte do pleito, na qual o enfrentamento é direto e as rotas de fuga de questões indigestas são escassas. Nos debates, por exemplo, suponho que será difícil escapar da operação de desmonte que o PT deve levar a cabo tendo Bolsonaro como alvo, tática que Wagner não pode colocar em prática até aqui porque isso lhe custaria votos. Daí que Fernandes seja visto como o "adversário dos sonhos" do petismo - é aquele diante do qual, ao menos em tese, é mais fácil estabelecer um contraste.
A matemática do 2º turno
A preço de agora, candidatos começam a rearranjar estratégias já de olho no 2º turno. Para Fernandes, por exemplo, a dificuldade maior seria congregar votos, ampliando eleitorado para além do seu público e daquilo que extrairia de Wagner. Nesse esforço, o nome do PL teria de moderar ainda mais seu discurso, fazendo acenos ao centro e à centro-esquerda que gravita Sarto, numa tentativa de se normalizar para uma faixa dos fortalezenses que podem até vê-lo com simpatia, mas resistem a lhe conceder confiança. Já Evandro, nesse cenário hipotético, precisaria atrair eleitores tanto de Wagner quanto de Sarto, sem escolhas - e não se descarte a necessidade de o neopetista sentar à mesa com ex-aliados.
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