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Disputa indefinida em Fortaleza na reta final
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Disputa indefinida em Fortaleza na reta final

Às vésperas do fim do 1º turno, cada postulante tem desafios específicos pela frente. Conforme Datafolha mais recente, na sequência, André Fernandes (PL), Evandro Leitão (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e José Sarto (PDT) estão na corrida mais acirrada do País
Tipo Análise
ANDRÉ Fernandes, Capitão Wagner, Evandro Leitão e José Sarto (Foto: Montagem O POVO)
Foto: Montagem O POVO ANDRÉ Fernandes, Capitão Wagner, Evandro Leitão e José Sarto

A menos de uma semana do pleito, o quadro eleitoral em Fortaleza está suficientemente aberto a ponto de não indicar tendências irreversíveis nem assegurar, num eventual 2º turno, o nome de nenhum dos quatro candidatos mais competitivos, a saber (conforme Datafolha mais recente): André Fernandes (PL), Evandro Leitão (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e José Sarto (PDT). Seja porque a diferença entre eles é variada e flutuante de pesquisa para pesquisa, seja porque o eleitorado começa somente agora a realmente definir o seu voto, o fato é que a corrida se aproxima de seu desfecho talvez como a mais acirrada do País - e também como aquela cujos gastos com o embate digital superam os de quase todas as grandes cidades brasileiras, o que faz da capital cearense espécie de repositório de ineditismos.

O que os candidatos devem fazer

Às vésperas do fim do 1º turno, cada postulante tem desafios específicos pela frente. Fernandes, por exemplo, deve se empenhar em manter curva ascendente, antecipando-se a investidas que explodirão no último debate. Já Evandro está preocupado em garantir ritmo de crescimento, mas também em mapear fragilidades de seu potencial adversário na etapa subsequente. Ainda no jogo, Wagner precisa redobrar artilharia contra o candidato do PL, concentrando-se naquilo que pode desgastá-lo. Sem margem de manobra, o seu foco é duplo: à direita, consolidar no público conservador a tese segundo a qual Fernandes é o caminho mais fácil para o PT chegar ao poder; e à centro-esquerda, tentar apresentar-se como única opção que não é nem continuísmo do PDT de Ciro e Roberto Cláudio nem de Camilo e Elmano de Freitas. Por fim, ao prefeito José Sarto cumpre, mais que qualquer coisa, enfatizar aspectos positivos de sua gestão cuja permanência ou expansão estarão sob risco em caso de derrota do pedetista.

A queda dos Ferreira Gomes?

O antropólogo Paulo Linhares tem feito no O POVO uma análise a quente muito nuançada do cenário político. A mais recente se dedica ao esgotamento dos Ferreira Gomes. Linhares, contudo, não identifica nas fissuras internas e na fadiga do clã as razões pelas quais o capital dos FG está sendo "varrido do mapa", como escreveu o professor nesse domingo, 29. Camilo Santana só existe politicamente como extensão do poder de Cid e Ciro, isto é, como fruto da engenharia de 2014 e numa configuração na qual o governador em fim de mandato moveu peças a fim de assegurar a manutenção da empresa familiar. Dois fatores, contudo, alterariam esse jogo de forças: a autonomização de Camilo no 2º mandato, no enfrentamento da pandemia e do bolsonarismo, e a reentrada de Lula no tabuleiro. A influência do hoje ministro explica, portanto, apenas parte da história da queda dos FG, a se confirmarem as previsões mais pessimistas para eles.

O fator Camilo no xadrez

Se é verdade que o edifício do "ferreira-gomismo" começou a ruir, creio que isso se deva menos a um antagonismo latente entre as "razões políticas" dos FG e as "razões práticas" do "camilismo" (leia-se, de Eudoro Santana e José Guimarães), e mais ao rearranjo da dinâmica cearense, no âmbito da qual 1) Ciro se ostracizou como liderança nacional e local (a votação de 2022 é sintomática), comprometendo a divisão de tarefas do grupo sobralense; e 2) Cid, na encruzilhada que opôs Camilo e Roberto Cláudio em 2022, ambos forjados nos anos do "cidismo", preferiu manter-se alinhado ao petista, talvez porque julgasse, como sustenta Linhares, que seria instado a pacificar o seu campo num 2º turno que não houve.

 

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