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As chances de uma reviravolta em Fortaleza
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

As chances de uma reviravolta em Fortaleza

A 72 horas das eleições municipais, o cenário ainda está indefinido em Fortaleza
Tipo Análise
DISTRIBUIÇÃO das urnas eletrônicas pelo TRE para a eleição de domingo, 6 (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA DISTRIBUIÇÃO das urnas eletrônicas pelo TRE para a eleição de domingo, 6

Embora já se trabalhe com o cenário cada vez mais verossímil de um 2º turno entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) na corrida pela Prefeitura de Fortaleza, há indícios suficientes de que nem tudo é certeza pétrea nos quartéis-generais das candidaturas, seja as da dupla bolso-lulista, seja as de Capitão Wagner (União Brasil) e José Sarto (PDT). A esse respeito, convém observar de perto a artilharia mais intensa da chapa do PT contra o atual prefeito, que, salvo alguma variação, tem surgido nas pesquisas ora em 4º lugar, ora em 3º, mas de todo modo distante do pelotão que lidera os levantamentos. Como explicar, então, a centralidade que Sarto apresenta nos planos estratégicos do petista, a 72 horas da votação e com as sondagens indicando que seu adversário na etapa subsequente seria Fernandes? Das duas, uma: ou resta alguma desconfiança de que o chefe do Executivo pode esconder um trunfo na manga capaz de fazê-lo chegar ao 2º turno; ou o fogo contra o pedetista já antecipa o desenho da tática do grupo de Evandro para a próxima fase, na qual os concorrentes derrotados teriam papel fundamental.

O fator Brasília na disputa

Evandro sabe que, uma vez no 2º turno contra Fernandes, teria de capturar votos de Wagner e Sarto a fim de vencer o nome do PL, ou seja, essa configuração hipotética exigiria articulação voltada à modulação do seu discurso, que se dividiria entre uma centro-direita/direita que não aderiu a Fernandes, mas que tampouco vê o PT com bons olhos; e uma faixa de centro/direita que se manteve com Sarto a despeito do racha com o bloco de Camilo Santana e das investidas de outros postulantes em posições distintas no espectro ideológico. Nessa ginástica eleitoral, Evandro não se fiaria unicamente em seu poder de persuasão, de resto ainda por se aperfeiçoar, digamos assim. É então que Brasília entraria em campo. Ora, PDT e União integram a base de Lula no Congresso, quer se queira ou não. Ambas as legendas detêm ministérios - o UB três pastas e o trabalhismo, uma. Mesmo que as direções nacionais dessas agremiações não se sintam hoje estimuladas a mover uma palha pelos representantes do PT, o cerco para que pressionem suas bases tende a aumentar numa peleja tão renhida quanto a que se anuncia. E o que ganhariam em troca? O de sempre: secretarias, cargos, espaços em Câmara e nas chapas para deputado federal e estadual em 2026.

Cenário ainda aberto

Tudo isso é mais que exercício de especulação. De fato, dentro do PT já há setores em movimento de olho nessa possibilidade de acionar Brasília para resolver impasse local. A dúvida é se Wagner, por exemplo, sentaria à mesa com Evandro para tratar de apoio, formal ou informal. Afinal, sabe-se que, pelo andamento tumultuado da campanha, as pontes entre o ex-deputado e Fernandes estão dinamitadas, inviabilizando qualquer costura União/PL num 2º turno sem o ex-secretário de Maracanaú. Da parte de Sarto, dá-se o mesmo: é difícil supor que haja condição de entendimento com Leitão depois do grau de animosidade que se viu no pleito.

Climão entre Luizianne e Camilo

Mais que carregado, o clima entre a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) e o ministro Camilo Santana (PT) é francamente ruim, a ponto de não se cumprimentarem quando no mesmo ambiente, nas poucas ocasiões em que isso acontece. Daí que não tenha surpreendido a ninguém a ausência da petista na última semana, durante atividade de Waldemir Catanho, aliado histórico de LL e candidato em Caucaia, ao lado do ex-governador. Não se sabe, porém, como as duas lideranças petistas devem se portar num eventual 2º turno em Fortaleza.

 

Foto do Henrique Araújo

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