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Oposição a Camilo sai mais forte das urnas
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Oposição a Camilo sai mais forte das urnas

O novo mapa político do Ceará mostra que adversários do ministro da Educação venceram em cidades-chave do Estado
Tipo Análise
Votação de Fernando Santana com a presença de Camilo Santana em Juazeiro do Norte (Foto: JORGE VITOR/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: JORGE VITOR/ESPECIAL PARA O POVO Votação de Fernando Santana com a presença de Camilo Santana em Juazeiro do Norte

A oposição ao ministro Camilo Santana (Educação) saiu fortalecida das urnas nas eleições de 2024 no Ceará, vencendo em cidades-chave do mapa político do estado, a exemplo de Sobral, Iguatu e Juazeiro do Norte. Nesses municípios, o ex-governador havia patrocinado direta ou indiretamente candidaturas para o Executivo, mas sofreu revés nas três. Em Juazeiro, Glêdson Bezerra (Podemos) impôs-se a Fernando Santana (PT), obtendo marca inédita ao se reeleger. No berço da família Ferreira Gomes, Oscar Rodrigues (União Brasil) superou a ex-governadora Izolda Cela (PSB), pondo fim a um ciclo de gestões dos irmãos FG. Já em Iguatu, o tucano Roberto Filho (PSDB) deixou Ilo Neto (PT) para trás, tornando-se prefeito eleito. Finalmente, tem-se o caso especial de Fortaleza, onde André Fernandes (PL) vai ao 2º turno à frente de Evandro Leitão (PT), com placar de 40% a 34%, respectivamente, ou seja, amparado numa distância maior do que a registrada pela média das pesquisas de intenção de voto ao longo da campanha.

Banho de água fria

O resultado na capital cearense contraria prognósticos de petistas, cuja expectativa era de que Evandro encerrasse o 1º turno na dianteira, de preferência abrindo margem segura para a etapa final contra o nome do PL. Deu-se o contrário, e André larga com alguma vantagem (seis pontos ou 80 mil votos) num pleito que tende a ser decidido pelo eleitorado de Capitão Wagner (União Brasil) e José Sarto (PDT), ambos tendo alcançado 11% - ou 323 mil votos. É uma fatia e tanto do bolo, capaz de fazer a balança pender mais a André ou a Evandro, a depender de quem se mostre mais bem-sucedido nas estratégias de captação desse contingente. A preço de agora, a matemática talvez favoreça o representante bolsonarista, que partiria como destino mais provável de grande parte dos apoiadores de Wagner e de uma parcela dos de Sarto, cujos aliados se farão a seguinte pergunta: politicamente, é melhor Evandro vitorioso ou derrotado (e também Camilo)? A esse respeito, vale acompanhar as próximas horas de Sarto e Wagner, 3º e 4º colocados na corrida.

Nunca antes na história do Ceará

O pleito cearense neste ano está repleto de ineditismos. Da reeleição de Glêdson no Cariri ao fracasso de Sarto na tentativa de assegurar novo mandato em Fortaleza, passando ainda pelo revés de Cid e Ivo Gomes (PSB) em Sobral e pela ida de Waldemir Catanho (PT) ao 2º turno em Caucaia por uma diferença de apenas oito votos ante Emília Pessoa (PSDB). Trata-se de um quadro surpreendente sob muitos aspectos, tanto por episódios isolados quanto pelo rearranjo significativo das forças políticas locais, com a oposição controlando posições importantes para o jogo eleitoral de 2026. Nesse sentido, para o bloco anti-Camilo e anti-Elmano, 2024 é uma espécie de revanche contra o passeio governista de 2022.

A difícil missão do PT em Fortaleza

Evandro vai precisar de mais do que a receita de dois anos atrás para vencer André Fernandes, disso não há qualquer dúvida a esta altura. É possível que até ontem o entorno do petista acreditasse que a mera repetição daquela estratégia, cujo pilar central é a figura de Camilo, seria suficiente para desgastar o concorrente do PL, mas o resultado recém-saído das urnas sugere que o jovem deputado federal se manteve em trajetória de crescimento a despeito das investidas dos adversários. Cabe questionar, então: que armas o PT empregaria contra André que já não tenham sido exaustivamente utilizadas por Wagner e Sarto no 1º turno? Com um agravante para Evandro: contabilizados os votos para a Câmara ontem, duas dos três vereadores campeões são do PL (Priscila Costa, a mais votada, e Bella Carmelo, terceira colocada no ranking). No curso da disputa, ambas estarão nas ruas ao lado do seu correligionário. É de se indagar, todavia, se os vereadores do PDT ou de outras legendas devem engrossar as fileiras "camilistas".

 

Foto do Henrique Araújo

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