O peso do apoio de Roberto Cláudio a André Fernandes
Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
O peso do apoio de Roberto Cláudio a André Fernandes
RC deixou claro que o ministro Camilo Santana (PT) é hoje um adversário mais importante do que o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), personagem cuja conduta foi um empecilho ao próprio Roberto quando à frente do Executivo em plena pandemia
Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) anunciou adesão a André Fernandes (PL) no 2º turno contra Evandro Leitão (PT). Goste-se ou não do rumo abraçado pelo pedetista, é decisão cuja origem remonta ao racha de 2022 e ao que se seguiu no cenário político local de lá para cá, o que inclui necessariamente a aproximação da base de José Sarto (PDT) com a bancada bolsonarista na Câmara de Vereadores. Sem entrar no mérito da escolha, materializada numa nota extensa dedicada mais a criticar o petismo cearense do que a apontar razões pelas quais votar em Fernandes, RC deixou claro que o ministro Camilo Santana (PT) é hoje um adversário mais importante do que o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), personagem cuja conduta foi um empecilho ao próprio Roberto quando à frente do Executivo em plena pandemia. Tudo isso, porém, ficou para trás. Falo desse arranjo eleitoral pré-2022 em nome do qual Governo e Prefeitura (leia-se, Camilo, Ciro e Cid Gomes) se mantiveram alinhados por mais de uma década.
O custo político de uma escolha
O quadro, definitivamente, é outro. Nele, atores com relativo peso, entre os quais RC e também Capitão Wagner (União Brasil), empenham-se nessa operação de reposicionamento num campo cujo controle quase total está nas mãos do "camilismo". Daí a aposta do ex-prefeito trabalhista, que é talvez a única que ele pudesse fazer nas atuais circunstâncias considerando-se a trajetória do pedetismo estadual nesses dois anos. Entre comprometer seu capital pessoal ao chancelar o representante do PL no pleito de 2024 ou endossar Evandro Leitão e se distanciar mais ainda de qualquer perspectiva de protagonismo no xadrez político de 2026 e 2028, o ex-mandatário ficou com a primeira alternativa - e tudo que acarretará de consequências, previstas e imprevistas.
PDT quer repetir Juazeiro
No mais, admita-se que a neutralidade do PDT é apenas para "inglês ver". Da sigla, a maior parte da bancada no Legislativo municipal e suas lideranças de expressão embarcaram de cabeça na campanha de André Fernandes. De caminhadas a declarações públicas entre a última sexta e ontem, 13, os gestos pró-PL de integrantes do partido são eloquentes. Salvo uma parcela de vereadores e de deputados federais, o grosso da agremiação fez a mesma opção de RC, que já era aquela posta em prática na corrida de Juazeiro do Norte. Na cidade do Cariri, um conjunto de forças dessemelhantes se congregou em torno de uma mesma plataforma: o "anticamilismo". Reeleito, Glêdson Bezerra (Podemos) contabilizou a presença de PL, PSDB, UB e PDT. É essa modelagem que se repete agora em Fortaleza, com a composição se dando num nível mais individual e não partidário - ao menos oficialmente.
A vantagem do PL na guerra
Desde o anúncio do resultado do 1º turno, André e Evandro deflagraram uma guerra de apoios que, por ora, vai sendo vencida pelo postulante do PL, a quem se juntaram o 4º lugar (Wagner) e um bloco significativo do 3º (Sarto) - ambos com 11% dos votos válidos, o equivalente a algo perto de 320 mil. Naturalmente, não há transferência automática de eleitorado. Logo, esse contingente segue em disputa no 2º turno. André, todavia, parte na frente de uma briga cujos capítulos iniciais até sugeriam que o concorrente petista havia conseguido agregar mais apoios, mas em volume limitado e muitas vezes reduzido ao seu espectro (a exemplo de Técio Nunes e de George Lima). De todos os ganhos do presidente da Assembleia desde o domingo, 6, o mais pertinente foi sem dúvida o da deputada federal Luizianne Lins - a se crer que a ex-prefeita esteja efetivamente disposta a entrar na campanha.
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