Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Os dois candidatos costuram adesões capitais como esforço derradeiro. A tarefa é difícil, sobretudo porque a margem para migrações a esta altura é muito estreita
Foto: Ismael Soares/Divulgação SVM
ANDRÉ e Evandro participaram do segundo debate eleitoral no segundo turno de Fortaleza
A dez dias da votação no 2º turno, o quadro segue aberto na disputa entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) pela Prefeitura de Fortaleza, cada qual costurando adesões capitais como esforço derradeiro. A tarefa é difícil, sobretudo porque a margem para migrações a esta altura é muito estreita. André, contudo, vem tentando ampliar seus apoiadores de duas maneiras: a primeira, incorporando o pedetismo "cirista", que se bandeou em peso à sua candidatura depois do realinhamento oposicionista experimentado em Juazeiro; a segunda, recorrendo a uma estratégia cara ao campo da esquerda: as políticas sociais. Dias atrás, por exemplo, o nome do PL apresentou proposta de incremento da merenda escolar, bandeira cuja defesa coube aos governos de Luizianne Lins. Com a ex-prefeita distante, seu legado acabou por ser explorado por lideranças fora do seu partido, tais como Capitão Wagner (União Brasil). Já Evandro segue na aposta de desgastar o representante do PL expondo os laços entre ele e Jair Bolsonaro e investindo numa nacionalização da campanha que, por ora, revela-se insuficiente.
Quem encarna a mudança
Até agora, o candidato bolsonarista parece estar levando a melhor nessa missão de corporificar o que se chama genericamente de "novo" ou de "mudança", sentimentos impalpáveis (mas sempre sedutores) aos quais apela, num discurso para o qual suas competências derivariam estritamente de uma liderança mais jovem, carismática e sem vícios característicos do "velho modelo" - embora se saiba também que, ao menos na política, as fronteiras entre categorias desse tipo sejam muito tênues, sendo plenamente possível que o "novo" já se apresente precocemente envelhecido por tudo aquilo que condena em aparência.
Um balanço dos debates
Uma avaliação prévia dos debates do 2º turno sugere uma cristalização das estratégias: de um lado, tem-se André Fernandes lançando mão do trinômio futebol/Assembleia/continuísmo para atacar o adversário, cujo flanco mais vulnerável seria, conforme o concorrente, sua capacidade de gestão, seja na seara esportiva, seja à frente do Legislativo; do outro, Evandro Leitão busca atrelar o candidato do PL ao ex-presidente, de forma a fazê-lo recuar para o nicho do qual escapou para liderar a campanha. Priorizando uma terminologia até pouco familiar para o grosso da população, recheada de palavras como negacionismo e anticiência, o petista recupera um léxico utilizado contra Bolsonaro desde 2022, mas que esteve ausente do 1º turno de 2024 porque a tática do bloco de Camilo Santana foi evitar antecipar o mano-a-mano com André, pavimentando a ida do PL para o "2º turno dos sonhos". Esse talvez tenha sido um grande erro: abster-se de fustigar o candidato quando havia tempo para fazê-lo.
O que RC tem a ganhar
Há toda sorte de teorização em andamento a fim de dar conta da surpreendente entrada de Roberto Cláudio (PDT) na "turma boa" de André. Meu palpite é que essa fração do trabalhismo, ou seja, o grupo de RC e de Ciro Gomes, não está tão preocupada assim com um futuro para além de 2024. O cálculo é imediato. Nele, impõe-se derrotar Camilo, mesmo que ao custo de uma aliança pragmática com o PL e o União. Assegurada uma sobrevida político-eleitoral, os planos se refazem a partir de janeiro de 2025, na hipótese de vitória do bolsonarismo local. Não há ingenuidade quanto à expectativa de uma possível reciprocidade em 2026 como paga pelo apoio de agora; tampouco há desinteresse na manutenção dessa nova frente opositora para brigar pelo Abolição.
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