Por que a eleição de Fortaleza é a mais importante do País
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Por que a eleição de Fortaleza é a mais importante do País
Trata-se de uma queda de braço no centro da qual se encontram interesses vitais para os planos das duas legendas no curto, no médio e no longo prazos - e não seria exagero concluir que parte importante da história de 2026 está sendo escrita aqui
Foto: Prefeitura de Fortaleza
DETALHES do jardim do Paço Municipal, sede do poder em Fortaleza
Há razões suficientes para supor que a eleição de Fortaleza é hoje a mais relevante no Brasil entre todas aquelas que se desenrolam noutras metrópoles neste 2º turno, tal como a de São Paulo. E não apenas porque na capital cearense se confrontam as forças bolsonarista e lulista, PL e PT, André Fernandes e Evandro Leitão, Roberto Cláudio/Ciro Gomes e Camilo Santana. Mas porque de seu resultado deriva uma série de cenários cujo impacto se reflete local e nacionalmente, alterando arranjos que, por sua vez, podem influir decisivamente em 2026, tanto no âmbito do Estado quanto no da corrida pelo Planalto. Um deles, por exemplo, é o que se abre com uma possível vitória de André no domingo, 27, hipótese que consolidaria movimento ascendente da direita no Nordeste, ameaçando espaço precioso do petismo sem o qual a reeleição de Lula ou a eleição de um sucessor estaria desde já posta em dúvida. Sob o ponto de vista do xadrez fortalezense, o sucesso do deputado significaria feito da oposição, aglutinada em torno da jovem liderança e capaz de desestabilizar as pretensões de continuidade de Elmano de Freitas (PT). Finalmente, a obtenção de êxito em Fortaleza, a 4ª maior cidade do País, seria um avanço e tanto para a agremiação de Bolsonaro, que faria da administração um enclave direitista e vitrine para outras capitais nordestinas.
E se Evandro ganhar?
No caso de as urnas consagrarem Evandro, contudo, o quadro é outro, com a consolidação de Camilo como a maior liderança do Ceará, tendo sob influência direta um capital talvez inédito (governos estadual e municipal, ministério e governo federal, isso sem incluir o Legislativo). É um horizonte sem precedentes. Nele, o bloco "camilista" estaria em plenas condições de reconduzir Elmano e de colaborar para a campanha presidencial em situação ainda mais confortável do que a de 2022. Para o PT e para o PL, portanto, trata-se de uma queda de braço no centro da qual se encontram interesses vitais para os planos das duas legendas no curto, no médio e no longo prazos - e não seria exagero concluir que parte importante da história de 2026 está sendo escrita aqui.
Aquela estratégia de Cid Gomes
Mais de uma década atrás, Cid Gomes, à época governador, logrou eleger Roberto Cláudio recorrendo a um estratagema inusual: fazendo acorrer à Capital um fluxo massivo de prefeitos aliados, que deixaram seus municípios no Interior para engrossar a campanha do candidato "cidista" na reta final da peleja contra Elmano. Corria o ano de 2012. No dia do pleito, as ruas estavam cobertas de amarelo. Corta para 2024: Camilo e Elmano reeditam a "manobra Cid", alocando eleitos ou reeleitos para injetar volume no time de Evandro, que subitamente tem crescido nas ruas com multidões nas esquinas. A única diferença entre lá e cá é a posição de RC, que foi de beneficiado naquele ano a alvo neste momento.
O que as pesquisas revelam
Não há dúvida de que os dados da Quaest de ontem são animadores para Evandro, que se manteve sempre atrás e experimenta, a três dias da votação, o sabor de liderar numericamente, com 44% a 42% (configurando empate técnico). O jogo, no entanto, segue aberto, com ambos os lados dotados de chances de ganhar a eleição. Ao candidato do PT, interessa saber se existe tendência de crescimento real e, se sim, resultante do quê, se da presença de rua ou do uso do vídeo no qual André debocha de feminicídios. Para o nome do PL, importa identificar e conter eventual perda de eleitorado, movendo-se para sair da defensiva, postura que assumiu pela primeira vez desde o início da campanha pelo Paço.
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