Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Entre pedetistas, a leitura é de que a crise do rompimento PT/PDT já produziu estrago suficiente na legenda brizolista, abatendo pelo caminho não apenas candidaturas majoritárias, mas também parlamentares que não conseguiram renovar o mandato
Pelos sinais emitidos até agora, o PDT deve passar a integrar a base de Evandro Leitão (PT), prefeito eleito de Fortaleza em 2024 numa disputa apertada contra André Fernandes (PL). O movimento tenta evitar o gesto que se seguiu à derrota do partido em 2022, a saber, a adoção de postura de oposição ao governador Elmano de Freitas (PT), que acabou por custar preço alto de deputados estaduais que deverão buscar se reeleger em 2026.
Entre pedetistas, a leitura é de que a crise do rompimento PT/PDT já produziu estrago suficiente na legenda brizolista, abatendo pelo caminho não apenas candidaturas majoritárias, mas também parlamentares que não conseguiram renovar o mandato. Para contornar esse risco, a maior parte dos vereadores vitoriosos neste ano postula que a sigla trabalhista se aproxime de Evandro, compondo a base na Câmara formal ou informalmente.
O gestor petista, por seu turno, já admitiu publicamente que irá procurar lideranças pedetistas para aparar as arestas. Hábil nessas negociações e de perfil mais diplomático, o deputado estadual talvez não tenha tanta dificuldade assim para dobrar resistências, que não serão tantas nem tão empedernidas, como costuma se dar entre políticos mais preocupados com a própria sobrevivência ante um quadro de mudança de comando.
Futuro de Roberto Cláudio no PDT
O possível embarque da bancada do PDT no bloco de sustentação de Evandro deve dificultar a permanência do ex-prefeito Roberto Cláudio na agremiação. Embora tenha carta branca para se manter crítico ao governo de Elmano, a trilha percorrida por ele neste ano coloca-o em choque direto com o grupo vencedor de 2022 e de 2024 - leia-se, com a liderança de Camilo Santana (PT).
Daí que a solução encontrada para o cenário pós-eleição dois anos atrás seja de difícil aplicação agora, com o desgaste entre RC e seus adversários de pleito. Pelo contrário, a se crer no que tem dito em suas primeiras manifestações desde domingo, 27, o ex-chefe do Executivo da Capital pretende de fato operar para dar coesão à aliança oposicionista que se formou no 2º turno da corrida.
Nova oposição antecipa 2026
Note-se, ainda sobre esse tema, a orientação já assumida por figuras como Capitão Wagner (União Brasil), André Fernandes (PL) e RC, nenhum dos quais chegou a desencorajar qualquer aposta em uma conjunção dessas forças em 2026, com vistas à briga pelo Governo do Estado.
Afinal, é de interesse desses atores a convergência de frentes cuja atuação era distante até este ano, quando, por obra das contingências, tiveram de se agrupar.
Logo, o entendimento partilhado é de que, para efeito de reposição no tabuleiro, é necessário entender o papel de cada um deles em meio a esse forçoso rearranjo no desenho do poder no Ceará a partir do polo irradiador do "camilismo".
O que pesou na vitória de Evandro
O que pode ter definido a eleição a favor de Evandro? Há muitas respostas possíveis, todas mais ou menos razoáveis. Uma delas é que o sucesso do petista se deveu mais à capacidade da campanha de Fernandes em produzir erros do que à do deputado em conseguir acertos, sobretudo na reta final, quando os trunfos de ambos os lados já tinham explorado vulnerabilidades mútuas à exaustão e mesmo a (re)visita de Lula não surtira o impacto desejado.
Noves fora esse lugar-comum que atribui importância demasiada à comunicação, Evandro pode contar com dois fatores incrementais mais sólidos. Um foi a mobilização de número crescente de agentes políticos (prefeitos, vereadores, secretários de Estado etc.).
O outro foi o engajamento da militância de rua do PT (não apenas comissionados/assessores sacudindo heroicamente bandeiras numa esquina da Av. Antônio Sales). Disso resultou, por exemplo, a votação expressiva em bairros como Benfica e outros, que desequilibraram a balança no minuto final da partida.
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