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O candidato de Camilo para comandar a Assembleia
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O candidato de Camilo para comandar a Assembleia

Se tiver sucesso, o PT estará então à frente do Governo do Estado, do Executivo da capital cearense e do Legislativo estadual, podendo arrastar também a cadeira de chefe da Câmara de Vereadores
Tipo Análise
Ministro da Educação, Camilo Santana (PT),  (Foto: Ângelo Miguel/MEC)
Foto: Ângelo Miguel/MEC Ministro da Educação, Camilo Santana (PT),

O ministro da Educação Camilo Santana conseguiu emplacar Fernando Santana (PT) como provável candidato à presidência da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) no lugar de Evandro Leitão (PT), que foi eleito prefeito de Fortaleza em 2024. Nome derrotado em Juazeiro do Norte e em relação a quem o ex-governador chegou a dizer que havia concorrido sem seu aval pessoal, Fernando é hoje vice-presidente da Casa. Em janeiro do ano que vem, quando Evandro renunciar ao mandato, o petista passará à condição de comandante. É nessa posição que deve fazer valer a prerrogativa de mandatário. Se tiver sucesso, o PT estará então à frente do Governo do Estado, do Executivo da capital cearense e do Legislativo estadual, podendo arrastar também a cadeira de chefe da Câmara de Vereadores. Entre as funções de poder mais relevantes no arranjo político local, não há dúvida de que o partido irá abocanhar boa parte delas. Na Alece, por exemplo, conforme a coluna havia registrado dias atrás, a postulação de Fernando já vinha sendo trabalhada pelo ministro, mas ainda sem consenso. Os obstáculos, no entanto, teriam sido vencidos numa rodada de conversas no último fim de semana.

PT reduz espaços de aliados

Com uma base aliada tão ampla, contudo, legendas que integram o arco de sustentação de Evandro e do governador Elmano de Freitas (PT) começam a se perguntar sobre o que vai sobrar para os demais aliados ao final do regabofe. Partidos como PSD e PSB, além de MDB e Republicanos, ainda não foram devidamente contemplados em postos nem no Abolição nem nas conversas para a composição da mesa-diretora da Alece. De engenharia difícil, essa compatibilização de interesses e apetites vai se tornando mais complexa à medida que a barca "camilista" incha e as demandas se tornam mais abundantes. É quando as queixas, hoje inaudíveis porque a projeção do ministro é grande a ponto de abafá-las, talvez ganhem volume em um possível cenário de tensão daquele tipo que, mal administrado, leva a rupturas (a história cearense está repleta de casos assim).

Campo minado na Câmara

Um teste de fogo da habilidade política de Evandro se desenrola neste momento nas conversas sobre a presidência da Câmara. A demora para que o PDT anuncie sua postura em relação ao novo governo petista, por exemplo, sinaliza que ainda há jogo no parlamento. Não custa lembrar que Gardel Rolim (PDT), que preside o Legislativo, apoiou abertamente André Fernandes (PL) no 2º turno. Da bancada de oito vereadores pedetistas, seis se alinharam ao candidato bolsonarista. A eles se somam nomes de oposição. Mesmo sem compor maioria, esse bloco pode eventualmente resolver mandar um recado para o sucessor de José Sarto. O que está faltando para isso? Um gesto de Gardel, que ainda acalenta vontade de tentar a recondução para novo mandato na chefia.

Evandro se espelha em Elmano

O prefeito Evandro deve espelhar o desenho administrativo da gestão de Elmano no âmbito da Prefeitura. O que isso significa? Que, salvo um ou outro ajuste, a máquina municipal pode assumir contornos semelhantes aos do Abolição, com as mesmas pastas figurando lá e cá. Um exemplo disso já foi anunciado: o papel destacado da vice Gabriella Aguiar (PSD), a exemplo do que já vem ocorrendo com Jade Romero (MDB) no Governo. A intenção é facilitar trânsito e mesmo fluxo de recursos, com áreas afins travando diálogo em sintonia fina. Não se espere, logo, uma estrutura mais enxuta no Paço, com número reduzido de secretarias. Pelo contrário, a tendência é de ampliar espaços, de modo a acomodar uma base superlativa (daí a volta das Regionais como "prefeiturinhas", mas sobre isso escrevo noutro dia).

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