Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
O ato dessa quarta-feira, 13, põe por terra qualquer hipótese de que a intentona bolsonarista foi mero ajuntamento de aposentados excursionando por Brasília para expressar contrariedade política
Embora não se soubesse muita coisa ontem sobre o modus operandi do ataque a bombas ao STF e a um anexo da Câmara dos Deputados, não é difícil concluir desde já que se trata de grave ameaça às instituições, notadamente ao Judiciário e ao Legislativo.
Num momento em que a agenda parlamentar e de governo debate temas sensíveis, a exemplo da inclusão de militares no corte de gastos e da redução da jornada de trabalho, o atentado reacende o temor justificado de novos episódios de terrorismo doméstico, tal como o 8 de janeiro de 2023, quando levas de golpistas travestidos de patriotas depredaram prédios dos Três Poderes.
De partida, o ato dessa quarta-feira, 13, põe por terra qualquer hipótese de que a intentona bolsonarista foi mero ajuntamento de aposentados excursionando por Brasília para expressar contrariedade política.
O que se vê agora é desdobramento direto de tudo que o antecedeu, ou seja, da série de estímulos do então presidente a que seus apoiadores não aceitassem qualquer resultado que não fosse sua vitória. De modo que não me surpreenderia se as investigações comprovarem vínculos estreitos entre os dois eventos.
Estilhaços para Bolsonaro
Um reflexo imediato desse atentado no DF é o encerramento irrevogável de qualquer discussão sobre anistia, seja aos responsáveis pelo 8/1, seja a Jair Bolsonaro (PL), cuja principal aposta eleitoral era pressionar justamente o STF e o Congresso por meio de aliados, entre os quais Donald Trump, recém-eleito para a chefia do Executivo dos EUA.
Essa estratégia, que pretendia torná-lo elegível de novo, se inviabilizou, com Bolsonaro mais uma vez arrastado para o olho do furacão. A nota irônica é que o ex-presidente esteve perto da expulsão do Exército (foi salvo por uma chicana jurídico-militar) por envolvimento em um ataque... a bomba.
PT e PSB no comando
A preço de hoje, PT e PSB irão capitanear Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e Câmara de Vereadores de Fortaleza, com o deputado estadual Fernando Santana e o vereador Leo Couto à frente das articulações, respectivamente.
Salvo reviravolta, Santana (que não se confunde com o de Camilo, como interlocutores do ministro gostam de enfatizar) tende a se firmar como nome da base aliada, excluindo-se uma ou outra ala do PDT e integrantes de uma oposição empedernida.
Enquanto isso, na Câmara
No Legislativo municipal, Couto (próximo de Cid Gomes e também do "camilismo") deve se alçar ao posto de presidente, ocupado ainda por um Gardel Rolim (PDT) em vias de perder grande parte de seu capital. À coluna, o pessebista evitou cravar que é o potencial comandante da mesa-diretora, limitando-se a dizer: "Estamos trabalhando".
Entre aliados, contudo, é caso sem volta. A costura levada adiante por Evandro Leitão (PT) albergaria ainda outros cotados, tais como Adail Jr. (PDT) e Bruno Mesquita, cuja vida partidária inclui passagens por Pros e PL antes do pouso no PSD.
Faltou combinar com Cid
Sabe-se que o senador Cid reuniu a tropa na última segunda, 11. À mesa, conversas mais amenas, entre as quais o andamento do processo ao fim do qual se espera que os parlamentares filiados ao PDT estejam em condições de desembarcar da sigla. Um "cidista" negou que a sucessão na Alece tenha sido discutida, ainda que tópico obrigatório na Casa.
Não seria a primeira vez que Cid demonstra alheamento (real ou aparente) em relação a processos que dizem respeito ao PT. Quando da escolha de Evandro, por exemplo, o ex-governador saía-se com evasivas segundo as quais não estava a par do assunto.
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